Deputados do Aurora Dourada desafiam acusações

Partido grego de extrema-direita diz que está a ser alvo de perseguição.

Foto
Ilias Panagiotaros à entrada do tribunal Louisa Gouliamaki

Mostrando uma atitude de desafio, quatro deputados do partido de extrema-direita Aurora Dourada foram hoje presentes a um magistrado no Palácio da Justiça de Atenas, para começar o processo por associação criminosa e em alguns casos, ainda por lavagem de dinheiro, extorsão e proxenetismo.

Os deputados exibiam sorrisos de desafio enquanto entravam à vez, rodeados por polícias de uma unidade antiterrorismo (estes com a cara tapada). Um deles, Ilias Panagiotaros, levantou os punhos algemados no ar e proclamou: “Este conto de fadas não tem fim!”, queixando-se de perseguição.

“Não é possível acusar ideias!”, reagia ainda o partido no seu site, depois de o Governo ter apresentado ao Parlamento uma lei pretendendo penalizar o discurso racista e eliminar financiamento a partidos cujos líderes estejam a ser alvo de investigações criminais (na Grécia a Constituição proíbe ilegalizar partidos — muitos lembram a ilegalização do partido comunista KKE de 1949 a 1974).

Em sondagens recentes, o Aurora Dourada era o terceiro partido mais popular da Grécia, a seguir ao Nova Democracia (conservador, no Governo) e à coligação de esquerda radical Syriza, e à frente do PASOK (centro-esquerda, também no Governo).Um dos quatro deputados (e vários outros membros menos importantes) que hoje responderam em tribunal foi o porta-voz e deputado Ilias Kasidiaris, que muitos conhecem por ter atacado num debate em directo duas deputadas de partidos de esquerda na campanha para as eleições de Junho.

Depois de horas a serem ouvidos, não havia indicação se seriam deixados em liberdade condicional ou se aguardariam julgamento na prisão (alguns membros menos relevantes ficaram em liberdade condicional, disse fonte judicial à agência francesa AFP).O fundador e líder do partido, Nikolaos Michaloliakos, será ouvido amanhã.Os acusados enfrentam penas potenciais de até dez anos de prisão por associação criminosa e até 20 por assassínio. 

Prisão não resolve tudo
Os responsáveis do partido foram detidos no fim-de-semana na sequência do assassínio do rapper-activista Pavlos Fyssas, a 18 de Setembro, por um apoiante do Aurora Dourada.  

Segundo o documento no qual se baseia a acusação, há suspeitas de pelo menos “duas mortes, várias tentativas de homicídio, violência física, roubos”. A acusação e os testemunhos de dois antigos membros do movimento, agora com estatuto de testemunhas protegidas, mostram uma organização onde nada é aleatório: a liderança é forte, os militantes disciplinados, os ataques (contra imigrantes, mas também homossexuais ou opositores, sobretudo de esquerda) são ordenados e levados a cabo por grupos organizados. 

“Temos uma oportunidade dourada de purgar a nossa sociedade de violência”, comentou o porta-voz governamental Simos Kedikoglou à rádio Skai.  

Mas nem todos estão tão descansados. O jornalista Nick Malkoutzis, subdirector da versão em inglês do diário Kathimerini, culpa o partido Nova Democracia por ter usado alguma retórica anti-imigrantes do Aurora Dourada (basta pensar na promessa eleitoral de campos para imigrantes).

E diz que mesmo que os deputados sejam condenados — só assim perderão o cargo, e ainda ontem fizeram um pedido formal para se dirigirem ao Parlamento — nada garante que a ameaça à democracia desapareça tão facilmente. “Afinal, foi na prisão que Michaloliakos conheceu os líderes da Junta de 1967-74 e recebeu a inspiração para as suas actividades políticas. Hitler também encontrou na prisão um local útil.”

Sugerir correcção
Comentar