Impasse político nos EUA pode obrigar funcionários a ficar em casa sem receber

Os republicanos aceitaram o orçamento dos democratas mas introduziram uma condição: uma moratória de um ano para o Obamacare.

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O Governo norte-americano vai obrigar a maioria dos funcionários públicos a ficar em casa sem receber salário já esta terça-feira se o impasse político entre republicanos e democratas sobre o Orçamento não for desbloqueado até ao fim do dia.

O shutdown surge na sequência de um braço de ferro político entre os dois partidos a propósito do Orçamento para o próximo ano fiscal, que nos Estados Unidos começa em Outubro, algo que se torna mais problemático porque até meados do mês será preciso um novo entendimento para o Governo poder aumentar o tecto da dívida pública, ou seja, a quantidade de dinheiro que o país pode pagar e pedir emprestado aos mercados financeiros.

Numa reunião extraordinária realizada no Senado, na sexta-feira, os republicanos aceitaram o orçamento dos democratas, mas introduziram uma condição: uma moratória de um ano para a implementação de uma das mais emblemáticas propostas do Presidente, a nova lei de bases da saúde, conhecida como Obamacare.

A lei vai hoje ser votada no Congresso, mas é provável que seja devolvida ao Senado e, mesmo que passe, o Presidente já garantiu que a vai vetar, o que lança novos argumentos na discussão sobre de quem será a culpa de 800 mil funcionários públicos terem de ficar em casa sem salário a partir de terça-feira por não haver cabimento orçamental para lhes pagar.

Na génese deste problema - que, de acordo com os consultores da Macroeconomics Advisers, custará 0,3 pontos do PIB do último trimestre se o Governo 'fechar' durante duas semanas - está, no entanto, um problema de fundo que tem marcado o debate político norte-americano nos últimos anos, e que se resume na ascensão de um movimento ultraconservador conhecido como Tea Party.

"O circo criado nos últimos dias não é o reflexo do republicano normal e projecta uma imagem de não sermos razoáveis. A vasta maioria dos republicanos tem bastante bom senso e está aqui para governar", considerou o deputado republicano Michael Grimm, de Nova Iorque, referindo-se aos seus correligionários mais extremistas.

"Este é um momento histórico para, de uma vez por todos, pormos tudo em cima da mesa", considerou, argumentando que "a facção de extrema-direita do partido representa 15% do país, mas quer controlar todo o debate".

Entre os membros do Tea Party está a antiga candidata a vice-presidente dos Estados Unidos Sarah Palin.

Se o Governo norte-americano tiver mesmo de entrar em 'modo shutdown' pela primeira vez em 17 anos, as consequências não serão de grande monta para os eleitores comuns, mas serão de grande significado para os cerca de 800 mil funcionários públicos que, à semelhança do que aconteceu durante seis dias em Novembro de 1995 e em mais 21 dias entre Dezembro desse ano e Janeiro de 1996, terão de ficar em casa.

No Congresso e na Casa Branca, as instalações mantêm-se abertas, o mesmo acontecendo no Pentágono, onde haverá a possibilidade de atrasos nos pagamentos dos salários, e grande parte dos museus de Washington e o Serviço Nacional de Parques será fechado, o mesmo acontecendo com os funcionários da Agência de Protecção Ambiental, que têm como missão, entre outras, monitorizar a qualidade do ar e da água.

A Segurança Nacional não deverá ser, no entanto, afectada, sendo que os trabalhadores encarregados de "proteger a vida e a propriedade" mantêm-se em serviço.

 

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