Os principais pontos do novo relatório climático da ONU

As alterações climáticas estão a ocorrer a níveis sem precedentes num período de décadas e milénios.

Foto
Os glaciares estão a encolher em quase todo o mundo Reuters

O Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) divulgou nesta sexta-feira uma síntese do seu novo relatório sobre o que a ciência sabe acerca do aquecimento do planeta. Eis alguns dos seus principais resultados.

Temperatura global
A temperatura média global subiu 0,85 graus Celsius entre 1880 e 2012. No Hemisfério Norte, as três décadas passadas, entre 1983 e 2012, foram as mais quentes dos últimos 1400 anos. Nos últimos 15 anos, as temperaturas não aumentaram tanto quanto os modelos climáticos previam. Até ao final do século, o termómetro global pode subir entre 0,3 e 4,8 graus acima da média de 1985-2000, segundo quatro cenários para o futuro.

Precipitação e fenómenos climáticos
A fiabilidade das observações sobre a precipitação é relativamente baixa. Nas latidudes médias do Hemisfério Norte, aumentou desde 1901. Noutras faixas do globo, as tendências são tanto positivas como negativas. Globalmente, é “muito provável” que tenha aumentado o número de dias quentes e diminuído o de dias frios. É “provável” que a frequência das ondas de calor tenha aumentado na Europa, Ásia e Austrália e que haja mais precipitação intensa na América do Norte e Europa. No futuro, as alterações na precipitação e outros fenómenos atmosféricos não serão uniformes. As chuvas relacionadas como El Niño e as monções poderão ser mais intensas.

Oceanos
Os oceanos acumularam 90% da energia do sistema climático entre 1971 e 2010 e é “virtualmente certo” que aqueceu neste periodo (0,11 graus Celsius por década). O nível do mar subiu 1,7 milímetros por ano entre 1901 e 2010. Para o final deste século, projecta-se uma subida de 28 a 82 centímetros. Os oceanos continuarão a aquecer ao longo do século e em maior profundidade. Até 2300, o seu nível poderá subir um a três metros, segundo os cenários mais pessimistas.

Gelo e neve
A massa de gelo da Gronelândia e da Antárctida tem vindo a diminuir nas últimas duas décadas e os glaciares estão a encolher em quase todo o mundo. No Ártico, a cobertura gelada tem regredido a níveis sem precedentes no passado e a temperatura do mar nunca esteve tão alta nos últimos 1450 anos. É “ muito provável” que estas tendências se mantenham ao longo do século XXI. Cenários para um futuro ainda mais distante, indicam que o aquecimento acima de um determinado nível - entre um e quatro graus Celsius, embora o nível de confiança destes valores seja baixo ou médio - levará ao derretimento quase completo do gelo na Gronelândia no espaço de um milénio ou mais, provocando uma subida de sete metros no nível do mar.

Culpa humana
É “extremamente provável” que a influência humana seja determinante no aquecimento global desde 1950. Só os gases com efeito de estufa, sozinhos, contribuíram para uma subida que teria sido de 0,5 a 1,3 graus Celsius neste período, se não tivesse sido amenizada por outros factores, como os aerossóis que reflectem a radiação solar ou variações naturais. O relatório detectou a influência humana também no aquecimento do oceano, nas alterações do ciclo da água, na redução do gelo e da neve, na subida do nível do mar e nalguns eventos extremos. “A influência humana no sistema climática é clara”, resume o IPCC.

Gases com efeito de estufa
Nos últimos 800.000 anos, nunca houve tanto dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso na atmosfera como agora. A concentração dos três gases está 40%, 150% e 20% acima dos níveis pré-industriais (1750), respectivamente. A taxa de crescimento ao longo deste século não tem precedentes nos últimos 22.000 anos. As emissões de CO2 da queima de combustíveis fósseis e da produção de cimento subiram 54% desde 1990. Desde 1750, as actividades humanas despejaram na atmosfera 545 mil milhões de toneladas de carbono, dos quais 44% estão acumulados na atmosfera, aumentando o efeito de estufa, e 28% foram absorvidos pelo oceano, provocando a sua acidificação. Ao longo deste século, as alterações climáticas irão provocar alterações na forma como o carbono é absorvido por sistemas terrestres ou pelo oceano, aumentando a quantidade que permanece na atmosfera.

Geoengenharia
O IPCC considerou, embora com muita cautela, a possibilidade de usar a geoengenharia para diminuir a concentração de CO2 na atmosfera, ou até para deflectir a quantidade de luz solar que chega ao nosso planeta – a pedido expresso de alguns governos. Estes métodos têm “limitações tecnológicas para que possam vir a ter um potencial a larga escala”. Soluções como a gestão da radiação solar e a remoção de dióxido de carbono da atmosfera “têm efeitos secundários e consequências globais a longo prazo”. As técnicas para evitar a entrada de uma parte da radiação solar na Terra, “se realizáveis”, terão o potencial de travar o aumento de temperatura. “Mas alterariam também o ciclo de água global, além de não combaterem a acidificação dos oceanos.” Por outro lado, no momento em que este filtro artificial de radiação fosse suspenso, “as temperaturas globais aumentariam muito rapidamente”.

Sugerir correcção
Comentar