Madrid critica "anacronismo" de Gibraltar e renova apelo ao diálogo com Londres

Discurso de Mariano Rajoy foi mais brando do que seria de esperar após o conflito diplomático deste Verão.

Foto
A questão "continua a causar inconvenientes aos cidadãos de Gibraltar e da zona adjacente" Adam Hunger/Reuters

O presidente do Governo espanhol, Mariano Rajoy, aproveitou o seu discurso na Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque, para denunciar o "incumprimento" do Reino Unido em relação aos acordos sobre Gibraltar, que diz ser o "único caso pendente na Europa" de colonialismo.

O tema de Gibraltar está sempre presente nos discursos dos chefes de Governo espanhóis na Assembleia Geral da ONU, mas este ano mereceu mais destaque devido ao conflito diplomático dos últimos meses, ainda que "com menos contundência do que era esperado", segundo o jornal El País.

Para Rajoy, o Reino Unido tem vindo a "ignorar o mandato" aprovado na década de 1960 pela Assembleia Geral da ONU e o compromisso alcançado em Bruxelas em 1984 – dois documentos que apontam para "a descolonização" de Gibraltar, escrevem nesta quinta-feira os media espanhóis.

"Este anacronismo continua a causar inconvenientes aos cidadãos de Gibraltar e da zona adjacente", disse Rajoy, referindo-se indirectamente ao contrabando e ao reforço dos controlos na fronteira pelas autoridades espanholas, que provocaram filas de vários quilómetros este Verão.

"Espanha reitera mais uma vez o seu apelo ao Reino Unido para que retome o diálogo bilateral e a cooperação regional", afirmou.

Poucas novidades num discurso obrigatório nestas circunstâncias – o El Mundo escreve que as palavras de Rajoy foram "as mesmas que em outras ocasiões e menos do que seria de esperar à luz do conflito diplomático deste Verão".

O mesmo jornal recorda o primeiro discurso de José Luis Rodriguez Zapatero como presidente do Governo espanhol na Assembleia Geral da ONU, em 2004, para indicar que não houve novidades nas palavras de Mariano Rajoy. "Quero confirmar que o meu país manterá a sua vontade de negociar e de chegar a uma solução que beneficie a região no seu conjunto e que ouça a voz desse território autónomo", disse Zapatero há nove anos.

Acusações de Espanha são "absurdo completo"
Quase ao mesmo tempo em que Mariano Rajoy discursava na Assembleia Geral da ONU, o Governo de Gibraltar acusava Madrid de não querer assinar um acordo com vista ao combate ao contrabando, numa reacção às palavras do ministro do Interior espanhol, Jorge Fernandez Diaz.

Na quarta-feira, o governante justificou o reforço do controlo na fronteira com a recusa de Gibraltar em combater "o contrabando de tabaco, a evasão fiscal e a lavagem de dinheiro", garantindo que "os controlos vão continuar até que Gibraltar colabore".

O Governo de Gibraltar, liderado por Fabian Picardo, classificou estas acusações de Jorge Fernandez Diaz como "um absurdo completo". "A verdade é que as leis contra o contrabando de tabaco são mais duras em Gibraltar do que em Espanha. A verdade é que Gibraltar transpôs, implementou e cumpre as directivas da União Europeia contra a lavagem de dinheiro. A verdade é que é Espanha que não quer assinar um acordo de troca de informação sobre impostos com Gibraltar, e não o contrário", lê-se num comunicado publicado no site do Governo gibraltino.

"É evidente", prossegue o texto, "que o actual Governo espanhol do Partido Popular não tem qualquer interesse na verdade nem em cooperar com Gibraltar. Parece prosseguir apenas uma política de hostilidade e de confrontação, reflectida em quase todas as declarações públicas que faz".

Sugerir correcção
Comentar