Tema forte da campanha em Beja: as dívidas do executivo autárquico da CDU em 2009

Equipa socialista que ganhou o município em 2009, garante que pagou 11 milhões de euros de dívidas deixada pela anterior gestão comunista, mas a respectiva prova será “oportunamente” apresentada.

A “provocação” foi lançada através de enormes outdoors, colocados no início de Agosto pela lista socialista à câmara, em pontos estratégicos da cidade de Beja: “Pagámos cerca de 11 milhões de dívidas herdadas, arrumámos a casa e fizemos obra.”

A CDU, explicitamente visada na mensagem eleitoral, criticou o seu conteúdo e desafiou o presidente da câmara, Jorge Pulido Valente, a comprovar o pagamento da dívida, exigindo a apresentação do mapa com o calendário de facturação a pagar e por fornecedor, e os documentos com as operações de tesouraria.

Pulido Valente foi protelando a resposta e o debate político azedou de tal forma que o tema foi transformado em mote da campanha eleitoral acabando por envolver os outros candidatos às eleições autárquicas, a coligação PSD/CDS e o movimento independente Por Beja com Todos.

Três vezes o autarca se comprometeu a facultar os esclarecimentos reclamados pela CDU. Três vezes anunciou a satisfação do compromisso assumido para a reunião de câmara seguinte. Os vereadores comunistas não desistiam do seu propósito e Pulido Valente viu-se na contingência de dar o assunto por encerrado garantindo que forneceria a informação requerida, “oportunamente e por escrito”. Para quando?, quiseram saber os vereadores comunistas: “oportunamente” foi a resposta três vezes repetida.

As críticas subiram de tom na última segunda-feira, durante a reunião da Assembleia Municipal. Ao pedido novamente formulado, desta vez pelos deputados municipais da CDU, o presidente da câmara convidou-os a consultar o Relatório e Contas. Os eleitos comunistas reagiram: “As matérias que colocámos não constam do relatório.” Na resposta, Pulido Valente acusou os seus opositores de terem “dificuldade em admitir que depois de um mandato da CDU onde houve dívida e não houve obra, nós reduzimos a dívida” do município que “encontrámos à beira da banca rota.”

Questionado pelos jornalistas presentes na Assembleia Municipal, o presidente da câmara reconheceu que no Relatório e Contas apresentado “não tem cabimento a documentação exigida pela CDU”. Sobre o pedido formulado pela CDU, Pulido Valente voltou a repetir: “Oportunamente será enviado.”

Na última reunião de câmara antes das eleições autárquicas, realizada quarta-feira, os vereadores comunistas voltaram à carga, mas como o presidente da câmara faltou “ por se encontrar em campanha eleitoral”, justificou o presidente em substituição José Velez, a resposta seria dada “oportunamente”.

A resposta, desta vez, foi dada através de uma conferência de imprensa marcada para a porta dos Paços do Conselho de Beja, logo que a reunião de câmara teminou, onde lembraram que o actual executivo, quando iniciou funções, disse que a CDU tinha deixado uma dívida de 60 milhões de euros. Poucas semanas depois foi reduzida para 44 milhões e presentemente é de 34 milhões.

Neste momento, sustentam os eleitos da CDU, a dívida a fornecedores, é superior em 500 a 600 mil de euros àquela que foi herdada do executivo anterior, alertando ainda para o montante da facturação das obras que foram lançadas “à pressa” nos últimos três meses, que só se conhecerá depois das eleições autárquicas.

 

Recurso ao Parlamento

O confronto entre socialistas e comunistas no município de Beja não passou ao lado de Mário Simões, deputado do PSD na Assembleia da República que disse ao PÚBLICO não ter gostado dos argumentos utilizados por Pulido Valente, considerando-os “lamentáveis” quando vindos de “um executivo eleito democraticamente mas que não respeita os órgãos de representação municipal.”

Assim, e por impossibilidade dos deputados municipais da CDU terem acesso à informação que reclamavam, vão procurar obtê-la “através de um pedido que vai ser requerido à presidente da Assembleia da República, para que a Câmara de Beja esclareça qual o montante da dívida efectivamente pago, comprometeu-se o deputado social-democrata.

O cabeça de lista da coligação PSD/CDS, João Pedro Caeiros, também se mostrou interessando em conhecer “com urgência” a realidade financeira da autarquia, considerando que não é suficiente a declaração de Pulido Valente, quando não há "forma de saber qual a magnitude das dívidas do município.”

Lopes Guerreiro, que encabeça a lista do Movimento Independente Por Beja com Todos, defende a realização de uma avaliação externa à situação financeira da autarquia para “evitar os lamentos da herança.”
 
 

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