Apoio a pedofilia nos anos 1980 é novo revés para os Verdes alemães

O partido parou de defender esta posição em 1990. “Foi demasiado tempo”, disse agora um dos seus líderes, Jürgen Trittin.

Foto
"O ímpeto ultrapassou o objectivo", lamentou Jürgen Trittin BRITTA PEDERSEN/AFP

À entrada de uma estação de metro de Berlim, Luise, 24 anos, está a fazer campanha pelos Verdes. Distribui jornais-panfleto de campanha, sempre atenciosa perante as recusas – e perante o ocasional comentário ao caso que está a marcar a campanha: a admissão de culpa de um dos seus líderes, Jürgen Trittin, por uma secção de um panfleto de 1981 que defendia a descriminalização da pedofilia em casos em que não houvesse violência ou ameaça de força.

Trittin, co-líder do partido, responsável pela bancada parlamentar dos Verdes e antigo ministro do Ambiente, declarou-se arrependido da acção na altura em que era um activista de base e não impediu a inclusão da sugestão, feita por um outro grupo de activistas dos Verdes. “A responsabilidade foi minha e é um erro que lamento”, admitiu numa conferência de imprensa, na segunda-feira.

O responsável justificou-se com a grande luta contra a descriminação de gays e lésbicas que se travava na altura – “é difícil imaginar-se hoje” o grau de descriminação, disse (o código criminal apenas deixou de considerar a homossexualidade ilegal em 1994). “O ímpeto ultrapassou o objectivo, porque havia uma ficção de que, para além da violência e do abuso da relação de confiança, poderia haver relações sexuais entre adultos e crianças”.

O partido parou de defender esta posição em 1990. “Foi demasiado tempo”, disse agora Trittin.

A revelação ocorreu através de uma investigação ordenada pelos próprios Verdes, mas a notícia foi publicada num péssimo timing para o partido, que tem vindo a cair nas sondagens, estando mesmo no último inquérito com apenas 9%, atrás do resultado de 2009, e em quarto lugar nos mais votados, após o partido Die Linke (A Esquerda).

O partido teve em 2011 um pico de popularidade, com valores que chegaram aos 28% após o acidente nuclear de Fukushima, no Japão – os Verdes sempre defenderam o fim do nuclear na Alemanha. Mas por outro lado a chanceler, Angela Merkel, ultrapassou-os declarando o fim faseado do nuclear no país. Os Verdes começaram a voltar para os níveis anteriores, mas nesta campanha têm descido ainda mais. O partido tinha já causado polémica ao propor um dia só com vegetais nas cantinas dos edifícios de serviços públicos.

À entrada do metro, Luise mantém o entusiasmo na adversidade: Merkel não vai fazer a mudança energética como devia ser feita, os Verdes estudam a questão há décadas, têm mais credibilidade na questão do que a CDU, têm também atenção a temas sociais e defendem por exemplo o salário mínimo, enumera. Mas de quem entra e sai do metro, Luise raras vezes arranca um apressado sorriso, ou consegue que alguém leve mesmo o jornal de campanha dos Verdes.
 
 

Sugerir correcção
Comentar