Obama admite suspender acção militar na Síria se armas químicas forem entregues e destruídas

Proposta avançada por Moscovo e publicamente aceite por Damasco teve resposta nas várias entrevistas que o Presidente norte-americano deu nesta segunda-feira à noite.

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Obama responde a Scott Pelley da CBS, numa das muitas entrevistas que concedeu esta segunda-feira Reuters

Pela primeira vez nos últimos dez dias, Barack Obama admitiu suspender a opção de um ataque militar contra a Síria se receber garantias de que o arsenal de armas químicas de Damasco será colocado sob supervisão internacional e destruído.

“Absolutamente”, disse o Presidente norte-americano à ABC. “Se isso acontecer.” Ou seja, se as armas forem entregues a inspectores internacionais e o controlo das mesmas puder ser “imposto e verificável”. Obama deixou ainda no ar se avança em caso de recusa do seu plano pelo Congresso. "Ainda não decidi", afirmou à NBC.

A proposta de entrega das armas foi feita por Moscovo ao regime de Damasco e aceite por este, no mesmo dia em que Obama se desdobrou em entrevistas às principais televisões nacionais — ABC, NBC e CBS —, aos dois canais de notícias por cabo — CNN e Fox News — e à estação pública PBS. O Presidente norte-americano fala nesta terça-feira à noite ao país em directo a partir da Casa Branca.

No ensaio para esta alocução que terão representado as entrevistas, Obama reconheceu o “passo em frente” que poderia proporcionar esta proposta na resolução da crise, mas avisou que todo o cuidado era pouco com a Síria e que a proposta russa só tinha surgido graças à pressão da sua administração e “à ameaça credível de um ataque dos Estados Unidos”.

À NBC, Obama lembrou que a sua preferência sempre fora a via diplomática. "Sempre preferi uma resolução diplomática para este problema." E acrescentou que, se fosse possível levar Assad a renunciar às armas químicas sem um ataque militar, então essa seria a sua opção "preferencial". "É possível conseguirmos um passo em frente" para desbloquear a situação, acrescentou à CNN.

Obama sabe que não conta com o apoio da opinião pública nem com a “luz verde” pedida aos congressistas da Câmara dos Representantes e do Senado. "Não direi que estou confiante", disse Obama sobre o voto pelos congressistas. Ainda não decidiu qual seria o passo seguinte a um eventual chumbo do seu plano militar. Mas lançar um ataque militar sem haver uma ameaça directa e iminente contra os Estados Unidos e sem a aprovação do Congresso seria "um precedente" que "não gostaria de estabelecer", explicou.

Votação também em suspenso
As movimentações diplomáticas em curso e o diálogo com a Rússia levaram o Senado a adiar, para a próxima semana, a votação do plano de Obama, inicialmente previsto para acontecer já nesta quarta-feira.

Entretanto, França e Reino Unido aprovaram a iniciativa russa de exigir a Bashar al-Assad a entrega do seu arsenal químico. O primeiro-ministro britânico, David Cameron, considerou "particularmente bem-vindo" o apelo russo, considerando que se Damasco aceitar colocar o seu arsenal químico sob controlo internacional isso "será um grande passo em frente". Mas avisou que tudo pode não passar de "uma manobra de diversão" para travar a retaliação dos Estados Unidos.

Também em Washington, o receio é que este gesto de Moscovo, aceite publicamente por Damasco, possa não ser mais do que uma forma de atrasar o processo e enfraquecer a posição de Obama, escreve o New York Times.

Para a França, a proposta russa "merece ser estudada ao detalhe" mas só aceite sob três condições: de que as armas passem imediatamente para controlo internacional, que sejam destruídas e que o processo se faça no quadro de uma resolução aprovada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.
 
 

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