Vídeos de vítimas de ataque químico na Síria mostrados a membros do Congresso

As imagens não provam quem cometeu o ataque de 21 de Agosto nos arredores de Damasco, mas foram autenticadas pela CIA. Surgem quando Obama intensifica campanha para convencer o Congresso da necessidade de um acção militar contra Assad.

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Imagens de vítimas do ataque de 21 de Agosto Bassam Khabieh/Reuters

Dezenas de crianças jazem sem vida no chão, ao lado de adultos também eles mortos ou quase, num último sopro que os liga a um estado vegetativo, em que o corpo convulso se larga em espasmos e dor. Pessoas, na escuridão ou em salas com luz, são assistidas. Não é claro onde estão. Em casa, numa sala de hospital. Sufocam, vomitam, espumam da boca, reviram os olhos. São reacções próprias de um ataque químico que se vêem em 13 pequenos vídeos divulgados pela estação de televisão norte-americana CNN dois dias depois de terem sido mostrados a senadores em Washington. Estão também disponíveis, desde sábado, na página oficial do Comité dos Serviços Secretos do Senado norte-americano.

Antes de divulgar as imagens, a televisão avisa que cada minuto perturba e justifica revelá-las por terem sido autenticadas pela CIA e serem uma parte central do debate. Os vídeos surgem ao público numa altura em que Obama intensifica a campanha para convencer o Congresso norte-americano e o mundo da inevitabilidade de uma intervenção militar contra o regime do Presidente sírio Bashar al-Assad.

Washington responsabiliza o regime sírio pelo ataque químico com gás sarin de 21 de Agosto e que os Estados Unidos dizem ter vitimado mais de 1400 pessoas nos arredores de Damasco. Espera-se a partir desta semana uma decisão do Senado e Câmara dos Representantes ao pedido de luz verde feito pelo Presidente para uma acção militar.

Os 13 vídeos foram divulgados na passada quinta-feira pelo comité dos serviços secretos a membros do Senado numa sessão fechada e serão mostrados também a membros da Câmara dos Representantes. Estão disponíveis no site do Senado. A CNN reitera que estas imagens chocantes são parte do debate mas não fornecem provas sobre a autoria do ataque de 21 de Agosto. Ouvem-se vozes a insultar “os cães de Assad" mas isso, insiste o correspondente da estação em Washington, não constitui prova.

As imagens foram captadas por grupos da oposição síria na região oriental de Ghutta, à volta da capital, em localidades atingidas como Duma, Jobar ou Irbin. E foram divulgadas este sábado horas depois do discurso radiofónico semanal do Presidente em que Obama afirmava, lembrando as muitas outras imagens que circularam logo após o ataque da madrugada de 21 de Agosto em zonas predominantemente rebeldes: “Não podemos ficar cegos diante das imagens que nos chegaram da Síria.”

O New York Times diz que está em marcha a mais intensa campanha de lobbying, e que esta mobiliza toda a cadeia de conselheiros e responsáveis dentro do universo da Casa Branca, para reuniões, e para falarem em fóruns ou em entrevistas aos principais canais de televisão. O próprio Presidente, esta segunda-feira, gravará entrevistas com seis canais, incluindo ABC, CBS, NBC e CNN, numa corrida contra o tempo, antes de falar ao país na terça-feira à noite. 

"A Síria não será o Iraque"
Nesse discurso, deverá expor aos americanos, relutantes em apoiar esta intervenção, que uma acção militar na Síria não é comparável à do Iraque em 2003. Frente à Casa Branca, em Washington, foi organizado um protesto este fim-de-semana, nota o jornal Christian Science Monitor, que descreve um país em larga maioria oposto a uma acção militar na Síria. 

O New York Times prevê como "extremamente difícil" para a Casa Branca inverter a posição tendencialmente contra (um ataque militar na Síria) prevalecente na Câmara dos Representantes, dizendo que um número cada vez maior de congressistas, democratas e republicanos, se preparavam para recusar a proposta do Presidente. Ao mesmo jornal, Denis McDonough, chefe de gabinete de Obama, considerou, no entanto, ser cedo para tirar conclusões sobre a posição dos congressistas e garantiu que "o esforço" de persuasão "iria intensificar-se na próxima semana".

A semana que passou foi de intensos contactos da administração para tentar convencer o Congresso e vários países de que é preciso punir Damasco para impedir o risco de novos ataques químicos. Na Europa, para sensibilizar os países aliados a aprovar a estratégia americana, o secretário de Estado norte-americano John Kerry também defendeu que o mundo não podia assistir “em silêncio a um massacre”. Kerry mostrou-se optimista ao dizer em Paris que o número de Estados prontos a participar numa acção militar contra a Síria já tinha alcançado os “dois dígitos”.

À espera dos inspectores da ONU
Reunidos no final da semana na cimeira do G20 em São Petersburgo, e depois dos contactos com o Presidente Obama, 11 países concordaram em apelar a uma “resposta internacional forte” invocando indícios claros de que foi o regime de Bashar al-Assad que ordenou o ataque químico. Também a União Europeia admite a existência de “sinais claros” da rsponsabilidade do regime de Assad e pediu uma “resposta forte e clara” depois de um encontro dos ministros dos Negócios Estrangeiros em Vilnius, onde este sábado também esteve Kerry para contactos com os seus homólogos europeus.  

A maioria dos países que aprovam uma resposta contra Damasco, incluindo a França que se posicionou ao lado dos Estados Unidos (além da Arábia Saudita e Turquia), aguardam as conclusões do relatório dos inspectores da ONU actualmente na Síria com a missão de comprovar ou não que houve ataque, mas não de apontar os responsáveis.

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