Obama preocupado com armas químicas afasta intervenção na Síria

Rússia junta-se aos EUA e pede à Síria para colaborar com peritos da ONU. Segundo a oposição, os bombardeamentos com gás sarin fizeram pelo menos 1300 mortos.

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Oposição diz que foram mortas 1300 a 1700 pessoas Bassam Khabieh/Reuters

As novas alegações sobre a utilização de armas químicas na Síria são “preocupantes” e, a confirmarem-se, “vão requerer a atenção da América”, diz Barack Obama numa entrevista à CNN. O Presidente norte-americano ainda não tinha comentado os ataques da madrugada de quarta-feira em diferentes localidades dos subúrbios de Damasco.

“Neste momento estamos a reunir informações sobre este acontecimento”, explica Obama, segundo excertos divulgados nesta sexta-feira no site da estação. “Mas posso dizer que, ao contrário de certas provas que tentámos obter previamente, e que nos conduziram ao envio de investigadores das Nações Unidas para a Síria, o que já vimos indica que se tratou claramente de um grande acontecimento, de grave preocupação”.

Apesar da preocupação, Obama também explica que isto não significa que Washington se esteja a preparar para intervir directamente na guerra síria. “A noção de que os EUA podem de alguma forma revolver o que é um complexo problema sectário dentro da Síria é por vezes exagerada”, defende. “Às vezes vemos pessoas a pedirem acção imediata e isso pode não correr bem, mergulharmos em situações muito complicadas pode levar-nos a ser arrastados para intervenções muito caras e difíceis, que na prática podem alimentar mais ressentimento na região”.

Estados Unidos e Rússia pediram entretanto “ao Governo sírio para cooperar com os peritos em armas químicas da ONU” na investigação aos ataques nos arredores de Damasco. Segundo a oposição, os bombardeamentos com gás sarin fizeram pelo menos 1300 mortos. Fotografias da agência Reuters e vídeos divulgados por activistas mostram dezenas e dezenas de mortos, incluindo muitas crianças, assim como médicos a tentarem ajudar vítimas com problemas respiratórios.

O ministro dos Negócios Estrangeiros de Moscovo, Sergei Lavrov, e o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, concluíram depois de uma conversa telefónica que “um inquérito objectivo” é do interesse dos dois países.

Para a Rússia “cabe agora à oposição assegurar um aceso em segurança à missão nos locais do incidente”. Mas apesar da região oriental de Ghutta ser controlada pelos rebeldes no terreno, a verdade é que o regime de Bashar al-Assad controla os acessos e não deu ainda nenhum sinal de que tenciona permitir aos peritos da ONU, em Damasco desde domingo, deslocarem-se às localidades atacadas.

O Governo sírio descreveu as alegações sobre estes ataques como “totalmente infundadas”. “Trata-se de uma tentativa desesperada dos grupos terroristas para esconder os seus fracassos no terreno”, afirmou o Exército. O Ministério dos Negócios Estrangeiros considerou que o objectivo destas “mentiras é desviar a comissão de inquérito da sua missão”.

Já houve pelo menos 14 denúncias de recurso a armas químicas desde que a revolta síria se tornou numa guerra civil brutal.

Os inspectores da ONU foram inicialmente chamados pelo próprio Assad, que acusa os rebeldes de terem usado gases num ataque contra soldados — EUA, Reino Unido e França acreditam que se tratou de um incidente de “fogo amigo”. Mas depois de os chamar, Assad manteve-os cinco meses à espera de entrarem na Síria, enquanto negociava as regras da visita. A missão está na Síria com mandato para visitar apenas três locais onde há suspeitas de terem sido usados químicos.

Activistas sírios dizem estar a tentar fazer chegar aos inspectores amostras retiradas das vítimas e dos solos, assim como testemunhos escritos. “A equipa da ONU falou connosco e desde então estamos a preparar amostras de cabelo, de pele e sangue e a tentar fazê-las chegar a Damasco através de enviados de confiança”, disse à Reuters Abu Nidal, de Arbin.

As zonas atacadas há dois dias continuam a ser bombardeadas, mas os activistas dizem que os rockets não são o seu maior problema. “Estamos a ser atacados e há checkpoints do regime a toda a volta de Ghutta. Mas nem isso nos impede de levar as amostras”, diz Abu Mohammed, outro activista, do subúrbio de Harasta. “O problema é a localização do comité da ONU no hotel. Eles estão muito vigiados pelo Governo.”
 

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