Actas da Fed mostram que redução de estímulos será mais perto do final do ano

Minutas revelam elevado apoio na estratégia de Ben Bernanke. Estímulos vão abrandar, mas ainda não há data marcada

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O presidente da Fed, Ben Bernanke James Lawler Duggan/Reuters

A divulgação das actas da última reunião do Comité de Operações no Mercado Aberto (FOMC) da Reserva federal norte-americana (Fed) mantém a incerteza quanto ao calendário de arranque da redução do programa de estímulos. A maioria dos membros concordou que uma mudança imediata no programa de compras de activos, que mensalmente ascende a 85 mil milhões de dólares, “ainda não era apropriado”.

Sustentando o discurso assumido pelo presidente da Fed, Ben Bernanke, a maioria dos membros apoia a redução do programa antes do final do ano, deixando o calendário dependente da solidez dos indicadores económicos, designadamente ao nível da redução da taxa de desemprego. De acordo com a minuta das actas, alguns membros do FOMC sublinharam “a importância de ser paciente e avaliar novos dados económicos antes de avançar com qualquer alteração ao ritmo de compra de activos”.

As actas também revelam que alguns membros do comité, embora em minoria, manifestaram vontade de iniciar rapidamente a redução de compra de activos, desvalorizando o impacto que isso poderia ter na consolidação do crescimento da economia norte-americana.

Ao contrário do que esperava a maioria de uma pool de economistas contactados recentemente pela Bloomberg, que admitia o provável início da redução na intensidade de aquisição de activos (tapering), no âmbito do programa de quantitative easing (QE3), já em Setembro, esse cenário fica para já afastado.

O receio de arranque do programa tem gerado forte turbulência nos mercados financeiros e ainda nesta segunda-feira os mercados bolsistas europeus encerraram em queda, à excepção de Lisboa, que fechou em ligeira alta. Nos EUA, após os dados da Fed, a primeira reacção foi também negativa. O conteúdo das actas pode tranquilizar um pouco os mercados, apesar da incerteza gerada quanto ao timing  também não ser positiva para os investidores.

A decisão da Fed tem implicações nos mercados mundiais, desde logo porque a redução na aquisição de activos levará a uma subida dos juros dos títulos de dívida norte-americana. Nas últimas semanas, e perante esse hipotético cenário, a subida das taxas implícitas já é visível. A perspectiva de taxas mais elevadas nos títulos de dívida norte-americana gera fugas de capital de outros mercados, em particular dos emergentes, efeito que também já começou a verificar-se.

A fuga de capitais acaba também por ter impacto nos mercados cambiais. Neste momento é visível a desvalorização do dólar face ao euro, uma vez que, dada a ténue melhoria nos dados económicos na zona euro, não é expectável que o BCE possa reduzir o seu programa de estímulos.

Nos EUA, os indicadores continua a ser positivos, como é o caso do aumento da venda de casas usadas em Julho, que subiu para o máximo de três anos, demonstrando que o vigor do sector não foi afectado pela recente subida dos custos de financiamento. De acordo com os dados divulgados nesta quarta-feira, no mês passado a venda de casas subiu 6,5%, chegando aos 5,4 milhões de unidades, em termos anuais. Um valor acima das estimativas, e que dá força à ideia de a Fed abrandar os estímulos. Depois da crise financeira, ligada aos empréstimos de alto risco, o mercado imobiliário começou a recuperar no ano passado, suportado pela criação de empregos e pelas baixas taxas de juro. Um outro sinal de que o sector está a crescer foi dado esta semana pela imobiliária norte-americana Re/Max (que aposta no sistema de franchising), quando deu o pontapé de saída para a dispersão de parte do capital em bolsa. O objectivo passa por angariar 100 milhões de dólares, numa altura em que as acções das imobiliárias estão em alta.

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