Assad acusado de matar centenas em ataques químicos

Um dos principais opositores diz que os ataques nos arredores de Damasco mataram 1300 pessoas, incluindo muitas mulheres e crianças.

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Vítimas do ataque desta quarta-feira Mohamed al-Abdullah/Shaam News Network/Handout via Reuters
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Corpos de algumas das vítimas dos ataques de quarta-feira
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Bassam Khabieh/Reuters
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As forças do Presidente Bashar al-Assad são acusadas de terem lançado nesta quarta-feira ataques químicos em várias zonas próximas de Damasco. A diferença de vítimas é abissal consoante os diferentes responsáveis da oposição: um grupo fala em 494 mortos, enquanto um dirigente diz que foram 1300 vítimas.

Fontes citadas pela Reuters avançam que foram lançados rockets com agentes químicos em Ain Tarma, Zamalka e Jobar na região de Ghouta. Ainda não foi confirmado que tipo de agente químico terá sido usado, mas elementos das equipas médicas que estão a assistir as vítimas afirmam à agência que estas apresentam sintomas típicos de quem esteve exposto a um gás como o sarin, um agente neurotóxico que bloqueia a transmissão de impulsos nervosos e causa a morte por paragem cárdio-respiratória.

Bayan Baker, enfermeira num serviço de urgência em Douma, indicou que, com base na recolha de dados entre os centros médicos, foi confirmada a morte de 213 pessoas nesta quarta-feira. “Muitas das vítimas são mulheres e crianças. Chegam com as pupilas dilatadas, membros frios e espuma nas bocas”, indica a enfermeira.

Fotografias divulgadas pela Reuters  mostram dezenas de corpos alinhados numa morgue improvisada nas instalações de um hospital. Entre as vítimas estão pelo menos 16 crianças, incluindo bebés.

"Mais de 650 pessoas mortas em ataques com armas químicas na Síria", escreve a Coligação Nacional, o principal grupo da oposição ao regime de Bashar al-Assad na sua conta oficial no Twitter. Pouco depois, outro grupo de opositores avançou com um balanço de 494 mortos, vítimas do gás e dos bombardeamentos, a partir dos relatos de vários centros médicos.

Segundo o grupo de monitorização Damascus Media Office, 150 corpos foram contados em Hammouriya, 100 em Kfar Batna, 67 em Saqba, 61 em Duma, 76 em Muadamiya e 40 em Irbib. "O ataque começou por volta das 3h. Um grande número de civis teve contacto com os gases. O número de vítimas aumenta rapidamente, à medida que  sufocam até à morte, sem que esteja disponível o material médico necessário para as salvar", diz o grupo num comunicado.

George Sabra, um dos principais opositores no exílio, disse em Istambul que os ataques fizeram 1300 mortos. "Estes crimes... não é a primeira vez que o regime usa armas químicas. Mas estes crimes constituem um ponto de viragem nas operações do regime", afirmou Sabra numa conferência de imprensa. "Desta vez o objectivo foi aniquilar, não aterrorizar."

Damasco desmente informações que descreve como "infundadas". Esta não é a primeira vez que as tropas de Assad são acusadas de recorrer a agentes tóxicos sobre a população, uma situação que sempre negaram. Se a causa das mortes e a dimensão se confirmarem, terá sido o mais grave ataque com armas químicas desde que Saddam Hussein usou vários agentes tóxicos contra os curdos na cidade de Halabja, em 1988.

Em Junho deste ano, o Ministério dos Negócios Estrangeiros francês confirmou que durante dois anos foi usado gás sarin na guerra na Síria. Testes realizados a jornalistas do Le Monde, que estiveram no país, confirmaram que foram expostos ao gás tóxico. O sarin é um potente gás neurotóxico. A inalação, ou o mero contacto com a pele, bloqueia a transmissão de impulsos nervosos e causa a morte. Meio miligrama basta para matar um adulto.

Equipa da ONU

O ataque desta quarta-feira acontece após a chegada, no domingo, de uma equipa de inspectores das Nações Unidas que vai investigar as denúncias de que foram usadas armas químicas no conflito que se arrasta há dois anos e meio no país. A Liga Árabe apelou aos inspectores para se deslocarem "imediatamente" ao local dos bombardeamentos desta madrugada e o mesmo fizeram já os governos do Reino Unido e de França.

"O Presidente da República afirmou a sua intenção de pedir à ONU para ir aos locais do ataque", disse aos jornalistas o porta-voz do Governo francês, Najat Vallaud-Belkacem, à saída de um conselho de ministros em Paris. Para François Hollande, "estas informações devem evidentemente ser verificadas e confirmadas".

A equipa da ONU, que integra 20 peritos liderados pelo cientista sueco Ake Sellstrom, aguardava há quatro meses autorização do Presidente Bashar al-Assad para entrar na Síria e se deslocar a alguns dos locais onde, segundo relatos de testemunhas, poderão ter sido usados agentes tóxicos como o gás sarin.

A Síria é um dos sete países que não aderiram à convenção que em 1997 baniu as armas químicas. Os países ocidentais suspeitam que terá em sua posse quantidades não declaradas de gás mostarda, sarin e de VX. Os observadores acreditam que Assad mantém total controlo sobre os stocks, embora vários peritos em segurança tenham alertado que, no meio do conflito, algum do material possa cair nas mãos de organizações radicais.

Nota da direcção: Este texto é acompanhado por imagens que podem ser consideradas chocantes. Não é fácil olhar para estas imagens e não foi fácil decidir publicá-las esta manhã. Analisados os vários factores em causa, concluímos que não as publicar seria omitir - senão mesmo esconder - documentos com interesse público e que por si só são notícia. Estas fotografias farão, provavelmente, parte da história desta guerra. Acrescentam valor informativo, factual e ajudam-nos a compreender a dimensão da actualidade.
 
 
 
 
 
 

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