Controvérsia anti-gay ensombra vitória russa no medalheiro dos Mundiais de atletismo

Rússia foi a selecção com mais ouros, mas não faltaram episódios embaraçosos.

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O beijo protagonizado por Firova e Ryzhova Yuri Kadobnov/AFP

A estafeta 4x400m feminina, Aleksandr Ivanov (20km marcha), Elena Lashmanova (20km marcha), Tatyana Lysenko (lançamento do martelo), Aleksandr Menkov (salto em comprimento), Svetlana Shkolina (salto em altura) e Elena Isinbayeva (salto com vara). Foram sete os ouros conquistados pela selecção russa de atletismo nos Mundiais que decorreram em Moscovo. Quase tantos quantos os episódios anti-gay, que deixaram mais ou menos embaraçado um país que, em Fevereiro, acolhe os Jogos Olímpicos de Inverno.

Isinbayeva, que colocou um ponto final na carreira precisamente nestes Mundiais, foi uma das protagonistas da controvérsia. A campeã condenou publicamente o gesto de apoio à comunidade gay russa feito pela sueca Emma Green-Tregaro – usou as unhas pintadas com as cores do arco-íris (símbolo LGBT), em protesto contra a lei promulgada em Junho pelo Presidente Vladimir Putin, que pune a “propaganda da sexualidade não-tradicional”. T

regaro seria aconselhada a mudar a cor do verniz das unhas. E Isinbayeva teve declarações que correram mundo e deixaram muita gente chocada: “Consideramo-nos gente normal. Aqui vivemos homens com mulheres e mulheres com homens... Isso é fruto da história”, disse a saltadora russa, acrescentando: “Temos a nossa lei, que toda a gente deve respeitar. Quando vamos a outros países tentamos seguir as regras locais”.

A campeã mundial do salto com vara viria depois a dizer que tinha sido mal entendida: “O inglês não é a minha língua materna, e creio que possa ter sido mal interpretada. O que queria dizer é que as pessoas devem respeitar as leis dos outros países, particularmente quando são convidados. Mas quero deixar claro que respeito os pontos de vista dos outros atletas e sou contra qualquer discriminação com base na sexualidade”.

Beijo na estafeta
Mas o penúltimo dia dos Mundiais traria de volta a controvérsia. No final da estafeta feminina 4x400m, que a Rússia venceu, duas das atletas beijaram-se. Tatyana Firova e Kseniya Ryzhova desmentiram tratar-se de um protesto político. “As interpretações não correspondem à realidade. O beijo foi uma expressão de alegria pela vitória e nada mais, não havia qualquer segunda intenção”, afirmou uma porta-voz das atletas.

O ministro do Desporto russo, Vitaly Mutko, desvalorizou os episódios, considerando-os “um problema inventado” pelos media ocidentais. “Não temos uma lei que proíba as relações sexuais não-tradicionais”, afirmou Mutko, explicando que o polémico diploma tem por objectivo a protecção das crianças russas: “Queremos proteger as gerações mais jovens, que ainda não estão totalmente desenvolvidas fisicamente. É uma lei que procura proteger os direitos das crianças – e que não pretende espoliar ninguém da sua vida privada”.

Olhando já para Sochi, Vitaly Mutko disse – sem nunca se referir directamente à sueca Emma Green-Tregaro – que espera que os atletas presentes nos Jogos Olímpicos de Inverno “compitam sem perder tempo com outras coisas”. “Os atletas russos, os atletas estrangeiros, os convidados e todos os que vierem a Sochi terão garantidos todos os direitos e liberdade. A lei não retira direitos a nenhum cidadão, seja ou não atleta”, concluiu.

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