BE e PCP consideram precipitado falar do fim da recessão

José Gusmão (BE) aponta várias causas conjunturais para dados do PIB, incluindo a decisão do Tribunal Constitucional de anular algumas medidas de austeridade.

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O deputado bloquista José Gusmão (à esquerda) foi um dos detidos na manifestação em Bruxelas Enric Vives-Rubio

PCP e BE consideram precipitado considerar que os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) sobre o crescimento da economia portuguesa em 1,1% no segundo trimestre marcam o fim da recessão.

“Para nós, estes dados traduzem apenas o abrandamento do ritmo da recessão”, afirmou José Lourenço, membro da Comissão de Assuntos Económicos do PCP à Lusa. “Estes dados não são surpreendentes, tendo em conta que, em cadeia, a nossa economia vinha caindo há 10 trimestres consecutivos, mais do que a própria Grécia caiu até ao momento”, referiu José Lourenço, sublinhando que o PIB português caiu “para níveis de há 12 anos atrás”.

Para o PCP, a subida do PIB anunciada esta quarta-feira pode explicar-se com razões como o facto de o segundo trimestre ter tido mais dias úteis, o que terá peso no índice das exportações, por exemplo.

Por isso, sublinhou, “estes resultados não permitem disfarçar o caminho para o abismo económico a que este Governo e esta política nos conduzem e que se traduz nestes dados [com] uma queda homóloga de 2% e uma queda anualizada do PIB (isto é, se o ano tivesse terminado no segundo trimestre do ano) de 3,4% - mais do que caiu em 2012, que foi 3,2%”.

Também para o dirigente bloquista José Gusmão há aspectos nesta retoma que são fortemente conjunturais, que estão associados a um mau primeiro trimestre da economia portuguesa, que cria um efeito de comparação. Para o dirigente do Bloco, existem hoje dados suficientes para explicar o crescimento da economia do primeiro para o segundo trimestre.

“Embora ainda não haja uma decomposição da análise do INE”, José Gusmão considerou que o aumento se deve a dois factores fundamentais: “Um crescimento das exportações e a diminuição do investimento e do consumo”. E, no caso das exportações, há dois factores significativos: a melhoria da conjuntura internacional e o aumento da capacidade de refinação da Galp, acrescenta.

Por outro lado, refere o dirigente do BE, “há uma diminuição muito menos acentuada do que se esperava do investimento e do consumo, que tem como factor explicativo a decisão do Tribunal Constitucional (TC) de anular algumas das medidas constantes no Orçamento de Estado (OE)” para 2013.

“Este é talvez o aspecto mais irónico destes dados da economia. O Governo atacou violentamente a decisão do TC de proibir algumas das medidas do OE, mas curiosamente a decisão do TC está a provocar alguns dos primeiros dados positivos a que a economia portuguesa assistiu durante muito tempo. O Governo vai agora cantar vitória com as consequências macroeconómicas de uma decisão do TC que atacou violentamente quando foi tomada”, salientou.

No entender de José Gusmão, os dados divulgados pelo INE demonstram que a compressão do consumo através das políticas de austeridade era uma má política. “Sabemos que o Governo se prepara, depois das [eleições] autárquicas, para avançar com um novo pacote de austeridade, ou seja, provavelmente, vai desbaratar os ténues sinais de retoma mais por mérito do TC do que do Governo”, referiu.
 

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