Seguradoras com lucros semestrais de 464 milhões

A actividade semestral mostrou que os estragos provocados pelo temporal de 18 e de 19 de Janeiro custaram às seguradoras 100 milhões de euros e revelou um dado "histórico": pela primeira vez há menos automóveis em circulação.

Entre Janeiro e Junho de 2013, o sector segurador lucrou 464 milhões de euros, mais 176% do que o apurado no período homólogo anterior, em resultado da conjugação de dois factores: “o ambiente mais favorável do mercado de capitais e do mercado de dívida” e a operação extraordinária de transferência da carteira de risco do BES Vida [para a resseguradora alemã Munich Re], de 150 milhões de euros.

“Não é expectável que haja uma valorização dos mercados de capitais e de dívida tão intensa como a ocorrida”, no último ano e, por esta razão, “o segundo semestre não será tão favorável” à actividade, observou esta manhã Pedro Seixas Vale, presidente da APS, durante a divulgação das contas do sector segurador relativas ao primeiro semestre. “Ainda assim a nossa previsão para 2013 é que os resultados sejam positivos, confortavelmente positivos.”

Os resultados líquidos semestrais do sector dispararam para 464 milhões de euros, contra os 168 milhões de euros dos primeiros seis meses de 2012, evolução que levou Seixas Vale a aconselhar “prudência” dados os “elementos de excepcionalidade" associados à actividade.

Para além da monetização do valor da carteira de produtos de Vida Risco pelo BES Vida, de 150 milhões, [se excluirmos este resultado, o lucro do sector seria positivo em 314 milhões de euros], o período em análise ficou ainda marcado pelo “ambiente mais favorável do mercado de capitais em geral, e do mercado de dívida em particular”, o que atirou os resultados financeiros para 659 milhões de euros.

Os dados da APS indicam ainda que em Junho, as carteiras de dívida pública das seguradoras nacionais contabilizavam 10 mil milhões de euros de títulos portugueses, mais quatro mil milhões do que o apurado em 2012 (aumento de 16,7%), fruto “da maior exposição, mas também devido da sua valorização”. No conjunto, os investimentos das seguradoras em obrigações do tesouro nacionais (66% do total), espanholas, francesas, alemãs e italianas, cerca de 15 mil milhões de euros.

“Hoje as seguradoras gerem activos de cerca de 55 mil milhões de euros (mais 500 milhões), e só 20% está em dívida pública”, o que resultou de uma alteração profunda das estruturas das carteiras de investimento, assegurou Seixas Vale.

Em Junho, 74% das aplicações das empresas Vida estavam alocadas a obrigações [de rendimento fixo]: 29,7% em dívida pública; 38,4% em dívida de entidades privadas; 6,7% em “outras” obrigações. No segmento não vida, as obrigações totalizavam 52,4% do total: 23,1% dívida pública; 26,2% obrigações de entidades privadas.

A cedência dos activos de risco do BES Vida e a subida dos preços das acções e das obrigações compensaram as indemnizações de 100 milhões de euros pagas pelos estragos provocados pelo temporal de 18 e 19 de Janeiro “que afectou 50 mil pessoas e empresas em Portugal”. “Em 22 dias úteis o sector resolveu 50 mil sinistros”, lembrou Seixas Vale. A rapidez da resposta ajuda a compreender, referiu, que “o modelo de negócio do sector é robusto” e “permitiu que nenhuma seguradora portuguesa tenha tido problemas durante a crise, não tenha pedido ajuda ao Estado e continue a gerar emprego”. No primeiro semestre de 2013, o rácio de solvência agregado alcançou 243%, ou seja, os capitais de solvência disponíveis são quase duas vezes e meia os recomendados pelas autoridades (100%).

 O lucro no ramo Vida subiu de 174 milhões para 532 milhões de euros (317 sem operação BES Vida), enquanto no segmento Não Vida os resultados caíram de 81 milhões para 15 milhões de euros, o que espelha a contracção da produção de seguros automóveis em 6% (772,6 milhões), mas também esconde um dado novo: há menos veículos em circulação em Portugal.

“Nos últimos 50 anos, talvez mesmo mais, verificou-se, pela primeira vez este ano, uma redução do parque automóvel seguro, o que é verdadeiramente histórico”, observou o presidente da APS. E referiu que não tem havido aumento de sinistros “há é menos veículos novos seguros e um número significativo de abates”. Uma situação que não é alheia ao quadro macroeconómico recessivo, “com mais desemprego e salários mais baixos”.

“O Ministério das Finanças deveria saudar calorosamente o que as seguradoras pagam em contribuições fiscais, um valor muito importante”, defendeu Seixas Vale, mencionando os 160 milhões de euros de impostos sobre o rendimento [o que traduz a operação BES Vida] pagos ao Estado até Junho, contra 80 milhões entregues nos primeiros seis meses de 2012, ano em que devolveu 330 milhões ao fisco.

Os dados divulgados pela APS revelam, ainda, que entre Junho de 2012 e o mesmo mês deste ano, o negócio de Planos Poupança Reforma (PPR) disparou 70%, para 665.613 milhões de euros, o que mostra a maior preocupação dos portugueses em assegurar complementos de reforma, nomeadamente, face às pensões públicas, mas também um maior envolvimento da banca na comercialização destes produtos.
 

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