Pires de Lima: do partido sexy à sedução pela economia

A voz do CDS para a área da economia vai matar a longa sede do partido por esta pasta.

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Pires de Lima diz que falta capacidade política ao Governo Rui Gaudencio

Finais de Outubro de 2005. António Pires de Lima, na altura presidente da Compal, acabara de se juntar ao administrador João Cotrim de Figueiredo para fazer uma proposta de compra pela empresa, em conjunto com a capital de risco britânica 3i. Poucos dias depois, a Sumolis e Caixa Geral de Depósitos, o banco do Estado, ganham a corrida. Pires de Lima deixa o cargo e, meio ano depois, é convidado para liderar a Unicer, onde está ainda hoje. Cotrim de Figueiredo também acaba por sair. Já a 3i não desiste de investir em Portugal e, em 2008, adquire a maior rede de funerárias do país.

Se há atributo que apontam àquele que irá suceder a Álvaro Santos Pereira é o conhecimento que tem, no terreno, da economia nacional. Desde cedo ligado ao mundo das empresas, Pires de Lima, que é presidente do conselho nacional do CDS, também tem feito por aparecer como uma voz activa, e muitas vezes crítica, do rumo que tem sido tomado.

Presidente da Unicer desde 2006, o gestor conhece bem as dores de fazer reformas profundas. Dois anos depois de assumir o cargo, tinha liderado uma reestruturação que levou ao despedimento de 700 trabalhadores. Nessa altura, explicou ao PÚBLICO que só assim poderia colocar a empresa "ao nível de competitividade de custos dos concorrentes", dando-lhe "a sustentabilidade necessária para enfrentar um período de recessão". Um discurso que parece encontrar paralelo com muitos dos que têm sido feitos, nos últimos meses, por membros do actual executivo.

Pires de Lima também conhece as frustrações dos projectos que não saem do papel. Herdou de Ferreira de Oliveira (antigo líder da Unicer e hoje vice-presidente do conselho de administração da Galp) a ambição de entrar no mercado angolano. As promessas de concretização sucederam-se ano após anos, mas até agora o investimento ainda não arrancou.

Na política, mais do que o presidente do conselho nacional do CDS, Pires de Lima tem sido o porta-voz do partido de Paulo Portas para a Economia. Em Abril, ainda antes da entrada de Miguel Poiares Maduro para o Governo, o dirigente pôs as cartas na mesa: os centristas queriam uma remodelação e a pasta da Economia sob a tutela de um ministro de Estado. Leia-se, Paulo Portas.

Acabou por não acontecer, mas Pires de Lima foi erguendo as bandeiras do crescimento, do investimento e da redução de impostos. A mais recente aparição neste papel aconteceu a 6 de Julho, numa entrevista à TVI. O gestor aproveitou para deixar algumas palavras de conforto a Santos Pereira. "Eu nunca entendi que o reforço da área económica e a prioridade que se tem de dar à economia passe pela discussão de nomes. Aliás, acho que, atendendo às circunstâncias que vivemos, o professor Álvaro Santos Pereira tem feito um trabalho de resistência que eu admiro bastante", disse.

Houve porém, outros momentos, em que foi bastante mais duro nas palavras. Alguns meses após o executivo tomar posse, afirmou que "ou o ministro da Economia ganha peso político rapidamente, ou este Governo tem um problema". Já este ano, o presidente do conselho nacional do CDS sugeriu que era necessário "reforçar o Governo, eventualmente remodelar", para "dar uma outra prioridade ao tema da economia, nomeadamente outra eficácia na captação de investimento".

O rosto da Economia do CDS é um rosto que está no partido em toda a liderança de Portas. Estão juntos como estiveram na escola quando eram colegas de carteira. Pires de Lima começou por ser vogal da comissão política no início da liderança de Portas, em 1998, foi vice-presidente e deputado durante dez anos (1999 a 2009). Interrompeu o exercício dos cargos partidários durante o consulado de Ribeiro e Castro. Voltou a ser dirigente com o regresso de Paulo Portas à liderança em 2007. E é presidente do conselho nacional até hoje.

Na esfera política, é conotado com a ala liberal quer na economia, quer nos costumes. Mas foi durante a liderança de Ribeiro e Castro, em que estava arredado dos órgãos dirigentes, que ficou célebre uma frase sua: "O CDS precisa de ser sedutor e sexy." O gestor foi o homem escolhido por Portas para falar com a troika sobre o memorando proposto em 2011 ao Governo de Sócrates. O líder e amigo justificou a escolha com um rasgado elogio: "É dos melhores gestores da sua geração", conhecedor "da economia real" que sabe "o que é criar riqueza, emprego e tratar bem quem trabalha".
 
 
 
 

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