PSP sob suspeita de maltratar refugiada somali

Direcção nacional mandou fazer averiguação interna e reportou queixa ao Ministério Público.

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O caso ocorreu na esquadra de São João da Talha, em Loures Rui Gaudêncio

Muna estaria a 50 metros de casa quando foi interceptada pelo agente à paisana. Não tinha qualquer documento de identificação. Ele deteve-a. Na esquadra de São João da Talha, em Loures, tê-la-á agredido e insultado. A Direcção Nacional da PSP ordenou uma averiguação interna e informou o Ministério Público (MP).

A refugiada somali, de 25 anos, diz que o agente lhe puxou o cabelo ainda no carro. Já na esquadra, empurrou-a contra a parede, mostrou-lhe a língua, movendo-a de uma forma obscena. Ter-lhe-á dito: “Vai para o teu país.” “Andas aqui a comer o meu salário.” “És uma preta, não podes fazer nada contra mim.” Outros agentes ter-lhe-ão pedido: “Eh pá, não digas isso, porque a gaja percebe português.”

A mulher pediu ajuda telefónica a uma professora universitária que se precipitou para a esquadra. A docente terá sido chamada à parte, altura em que a terão tentado demover de apresentar queixa. O agente que tomou conta da ocorrência não terá dito o nome e terá impedido a professora de traduzir as palavras que a refugiada proferia em inglês, alegando que ela podia falar em português.

Muna vive há seis anos em Portugal. Não tem retaguarda familiar — os pais estão num campo de refugiados na Tanzânia. Mãe de duas crianças, de 1 e 3 anos, organiza-se com um subsídio social de 230 euros.

Terão estado três horas na esquadra para apresentar a queixa. No fim, Muna teve de assinar seis páginas, que pareciam ser iguais, sem que a académica tivesse tempo de ler e traduzir. Não lhe entregaram uma cópia da queixa. Deram-lhe duas notificações, que levou ao Tribunal de Loures.

O director nacional da PSP, Paulo Valente Gomes, recebeu uma carta dias depois. Considerando os factos descritos como “relevantes e complexos”, a direcção nacional mandou fazer uma averiguação interna e reportou o caso ao MP. Importa, diz o porta-voz, “perceber se se confirma o teor da denúncia” e, confirmando-se, “responsabilizar quem, em nome da polícia, teve atitudes menos próprias”.

A carta recebida por Paulo Valente Gomes menciona receio de réplicas, uma vez que as freguesias de São João da Talha e Bobadela têm grande número de refugiados — o Centro de Acolhimento para Refugiados é ali. O porta-voz da PSP garante, porém, que esta foi a única queixa que chegou à direcção nacional.
 
 
 

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