Vereadora do PSD na Câmara do Porto diz que apoiar Menezes seria “indigno e incoerente”

Matilde Alves acusa o candidato social-democrata à autarquia de vir fazendo "declarações hostis" à actual gestão municipal "com fracos escrúpulos e até algum despudor". A candidatura de Menezes diz que Matilde não é candidata a nada, pelo que "não merece resposta".

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Matilde Alves é a vereadora responsável pelo pelouro da Habitação Manuel Roberto/Arquivo

Caiu o muro de silêncio que a Câmara do Porto tinha erguido relativamente à candidatura de Luís Filipe Menezes.

Num comunicado recheado de criticas ao “putativo candidato à autarquia portuense” e ao "partido que suporta o Governo", a vereadora da Habitação, Matilde Alves, acusa Menezes de “fazer declarações hostis à gestão municipal levada a cabo nos últimos anos pelo executivo liderado pelo PSD (..) com fracos escrúpulos e até algum despudor”.

“Repetitivo como um realejo, promete este mundo e o outro: promete pontes, túneis, reabilitações em tempo recorde, feiras populares, Óscares de Hollywood, eventos internacionais que há muito não existem, festivais de cinema galácticos, lojas do cidadãos em várias esquinas, patrocinadores de ralis, livros grátis para todos os estudantes, vacinas de borla, IMI ainda mais baixo do que o actual, ‘silo-arte’ em vez de silo-auto, suculentos prémios internacionais de arquitectura e… [sic] também de engenharia, um ‘senado municipal’ o dobro do estacionamento automóvel nas ruas do Porto, mais 50 mil moradores na cidade e até a fusão do Porto e Gaia, etc, etc, etc”, dispara, logo a abrir, a vereadora de Rui Rio.

Matilde Alves acusa ainda o candidato do PSD, a quem não dará o seu apoio – “apoiar um candidato destes seria para mim indigno, incoerente e até uma contradição com a visão que tenho da social-democracia”-, de prometer aos "moradores dos bairros a construção de mais habitação social, venda dos fogos a ‘preços simbólicos’, o registo dos descendentes como meio de perpetuar o direito à casa por via sucessória, a criação de um ‘observatório os bairros’ – mais um! – e, obras, muitas obras, por dentro e por fora de toda e qualquer casa”.

Para a vereadora, o que Menezes tem feito é apresentar propostas “inexequíveis”, sem “avaliação dos custos financeiros”. “Omite, por exemplo, que a câmara tem de devolver o financiamento recebido do Estado quando vende fogos construídos ou reabilitados com recurso a essas verbas, e que, se vender a custo muito baixo, até poderá ter de pagar para vender”, ilustra.

A autarca reage às críticas recentes do ainda presidente da Câmara de Gaia, lembrando que ele se insurgiu contra a política de “'obras de fachadas’ nos bairros seguida pelo actual executivo do seu (?) próprio partido” e cita uma declaração atribuída ao candidato: "Temos de apostar nos 55 mil portuense [na verdade, são perto de 30 mil – um pequeno ‘erro’ de quase 50%] que vivem nos bairros, gente boa e que vive abandonada e de forma miserável; não é só fazer-lhes paredes bem pintadas e virar-lhes as costas”.

A este propósito, Matilde contra-ataca: “O ainda candidato a candidato deturpa a verdade muito para além do que é eticamente aceitável no discurso político, ferindo mesmo o limite a que a coerência partidária o obriga”. E justifica a indignação: “Como vereadora do pelouro da Habitação da Câmara Municipal do Porto não posso nem devo silenciar a indignação causada por estas declarações, nem, devo alienar a defesa do PSD, do verdadeiro PSD, ao abrigo do qual sempre me candidatei”.

Recomendando a Menezes que cuide um “pouco mais da coerência do discurso no seio do partido em nome do qual se pretende candidatar, caso o tribunal o autorize”, Matilde Alves pergunta: “Não é verdade que o dr. Luís Filipe Menezes, enquanto candidato do PSD, é apoiado por um partido que sempre louvou e aplaudiu, com entusiasmo, o programa de reabilitação e a política de gestão do executivo [do Porto] para os bairros municipais?” “Como é que agora defende exactamente o contrário – que foi tudo mal feito, que as obras são más, defeituosas, que são ‘só de fachada’ e que os moradores foram atirados para uma vida de abandono e miséria?"

A gestão financeira é a última arma escolhida por Matilde Alves para esgrimir com Menezes. “Andaria melhor se deitasse contas à gerência e reflectisse na pesada herança financeira que deixa a quem lhe suceder no município de Gaia”, ataca a vereadora, para quem “entende-se mal que o partido que suporta o Governo se queixe da pesada divida que os outros lhe deixaram e, simultaneamente, apoie para a segunda cidade do país um autarca que, no município de Gaia a que ainda preside, tenha feito bem pior do que aquilo que o mesmo Governo imputa aos seus antecessores”.

Convidada pelo PÚBLICO a comentar este comunicado, distribuído pelo gabinete de imprensa da Câmara do Porto, a candidatura de Luís Filipe Menezes preferiu não reagir. Couto dos Santos, o porta-voz da candidatura, limitou-se a dizer: "Não conheço bem o currículo da dra. Matilde Alves. Ela não é candidata a nada e, por isso, não merece resposta".

 

 

 

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