Panfletos de Lutero roubados de um museu alemão

Documentos do século XVI estão avaliados em 60 mil euros e contêm anotações manuscritas que os tornam únicos.

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Lutero é o instigador da Reforma DR

Foi na tarde de sexta-feira que um funcionário da casa-museu de Lutero em Eisenach, Alemanha, notou que tinham desaparecido de uma vitrine três panfletos originais com textos do célebre teólogo que ousou desafiar Roma.

Para as autoridades eclesiásticas e para os historiadores, o desaparecimento destes papéis gravados do século XVI avaliados em 60 mil euros representa uma “perda irreparável” para a memória cultural europeia. “Alguém removeu o fecho [da vitrine]. Não era uma fechadura muito forte e, por isso, não se pode excluir a hipótese de ter sido um crime de oportunidade”, disse o director do museu, Jochen Birkenmeier, citado esta terça-feira pela edição online da revista Der Spiegel.

Apesar de se tratar de gravuras, os documentos são importantes porque contêm anotações manuscritas de contemporâneos de Martinho Lutero (1483-1546), o impulsionador da Reforma protestante. Para Birkenmeier o roubo é ainda mais grave porque não há panfletos semelhantes à venda no mercado e, mesmo que houvesse, as notas seriam insubstituíveis.

Impressos em grandes quantidades, poucos foram os que chegaram até hoje e os que sobreviveram estão espalhados por várias colecções públicas e privadas. Os panfletos roubados do pequeno museu instalado na casa onde o teólogo terá vivido entre 1498 e 1501 têm temas diversificados: Para a aristocracia cristã da nação alemã, de 1520, Para os conselheiros de todas as cidades, 1524, e Sermão de Lutero para as crianças nas escolas, de 1530 (todos em tradução livre).

Birkenmeier acredita que nenhum negociante de arte sério aceitará transaccionar os panfletos, facilmente identificáveis pelas notas escritas à mão, mas admite que possam interessar a coleccionadores privados menos escrupulosos ou até ser vendidos no estrangeiro.

Identificar o autor ou autores do roubo não será tarefa fácil, já que o museu não dispõe de câmaras de vigilância. Para o seu director, o timing em que o roubo acontece é, no mínimo, irónico: “Estávamos prestes a começar uma renovação completa para instalar um sistema de segurança melhor, com câmaras e vitrines apetrechadas com alarmes.”

As melhorias na casa-museu foram pensadas para coincidir com os 500 anos da publicação das 95 Teses, nome por que é conhecido o texto de 1517 em que Lutero questiona alguns dos ensinamentos da Igreja de Roma e a autoridade do próprio Papa, dando início à Reforma.

Alguns dos mais importantes documentos que agora se podem ver no pequeno museu de Eisenach foram já substituídos por réplicas.

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