Deputados do PP espanhol vão evitar que Rajoy seja interpelado sobre o escândalo Bárcenas

A Audiência Nacional ouve nesta quinta-feira o director do El Mundo, o jornal que lançou o caso e publicou os documentos originais da contabilidade paralela dos populares.

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Rajoy não fala, nem aos jornalistas nem no Parlamento JOHN THYS/AFP

O Partido Popular espanhol está a usar todas as suas armas para evitar que o presidente do Governo, Mariano Rajoy, seja prejudicado pelo "escândalo Luis Bárcenas", o antigo tesoureiro do partido que mantinha uma contabilidade paralela e fazia pagamentos extra a alguns dos seus membros.

Numa série de votações nesta quinta-feira, os populares deverão vetar propostas de todos os partidos da oposição que pretendem que Rajoy dê explicações sobre o caso e sobre o seu envolvimento, durante o plenário extraordinário marcado para 16 e 17 de Julho. Os documentos mostram que o chefe do Governo espanhol foi um dos beneficados com pagamentos extra, mas Rajoy diz que é mentira.

De acordo com o jornal El País, o partido do governo e a própria equipa governativa querem que os dias 16 e 17 sejam dedicados exclusivamente ao que estava agendado, por exemplo a lei da educação, não havendo espaço para interpelações de outra natureza ao Governo.

Mariano Rajoy não deu ainda qualquer explicação sobre o seu envolvimento no caso Bárcenas e o PP nega que a contabilidade paralela alguma vez tenha existido, apesar de o jornal El Mundo ter publicado os documentos originais. Estes foram entregues à Audiência Nacional, onde o juiz Pedro Rus (que chefia as duas grandes investigações que estão a afectar os populares; o segundo caso é o Gürtel, a maior rede de corrupção de que a contabilidade Bárcenas é um ramal) concovou para hoje o director do jornal, Pedro Ramíres.

Na segunda-feira será a vez do próprio Luis Bárcenas começar a ser ouvido. O antigo tesoureiro mantinha, nos anos de 1990, uma série de contas (sobretudo na Suíça) que recebiam dinheiro de empresas que era favorecidas, com contratos, nas regiões administradas pelos populares. Altos funcionários do partido, alguns membros do governo de José María Aznar, recebiam pagamentos extra dessas mesmas contas.

A oposição exigiu a demissão de Rajoy caso fique provado que mentiu quando disse que todas as acusações contra si são falsas. Bárcenas pode ferir o partido, Mariano Rajoy e o seu governo, uma vez que se dispôs a contar tudo o que sabe – estará zangado com os antigos pares que, quando o escândalo saltou para os jornais, o abandonaram.

Esta forma de financiamento do partido é ilegal, como ilegais eram esses pagamentos extra por violarem a Lei da Incompatibilidade que desde 1995 proíbe que governantes acumulem salários ou rendimentos oriundos dos sectores público ou privado.

A tese do PP para impedir que Rajoy – ou qualquer outro dos seus membros – dê explicações sobre o caso é sustentada pela investigação do juiz Rus. O caso está na Audiência Nacional e é apenas lá que deve ser comentado.

O tema, porém, será abordado no Parlamento pela oposição, cabendo ao porta-voz do PP, Alfonso Alonso, transmitir a posição oficial do partido, ou seja, negar as acusações. Com as férias a aproximarem-se, a oposição terá de esperar por Setembro para voltar a tentar que Rajoy se explique no Parlamento.

Na terça-feira à noite, pela primeira vez, uma popular, Esperanza Aguirre (do PP Madrid), admitiu que existe um problema grave e defendeu que o caso deve ser investigado. E, caso existam culpados, eles devem ser responsabilizados. "Os eleitores não podem passar por uma vergonha só porque são do PP. Esta tem de ser uma oportunidade para se apurar responsabilidades", disse Aguirre, uma conhecida crítica de Rajoy e considerada muito próxima de Aznar, que não tem boas relações (pessoais e políticas) com o actual chefe de Governo.

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