Renegociação da dívida chumba mas obtém quatro votos no PS

Proposta do BE dividiu os socialistas na hora da votação parlamentar.

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Daniel Rocha

A renegociação urgente dos montantes e prazos da dívida pública, proposta pelo BE, mereceu o apoio de quatro deputados socialistas e obteve três abstenções, incluindo a do ex-secretário-geral do PS, Ferro Rodrigues, mas foi chumbada pela maioria e pela bancada socialista.

No debate parlamentar sobre a renegociação da dívida e da denúncia do memorando, que antecedeu a votação, a bancada socialista expressou outra posição, ao criticar a proposta do BE para uma decisão “unilateral” de pedir o perdão da dívida que levaria à saída da zona euro. 

O projecto de resolução do BE, que propunha a renegociação da dívida e o rasgar do memorando, foi chumbado pela maioria e pelo PS, mas na bancada socialista o ponto sobre a dívida contou com os votos a favor de João Galamba, Pedro Nuno Santos, Duarte Cordeiro e Pedro Delgado Alves. Quatro deputados que votaram ao lado do BE, PCP e PEV. Ferro Rodrigues, ex-líder do PS, Inês de Medeiros e Isabel Moreira abstiveram-se.

Quanto à “denúncia” do memorando de entendimento, dois socialistas abstiveram-se – João Galamba e Pedro Nuno Santos – mas a alínea foi rejeitada pela maioria e pelo PS. 

O debate arrancou com a situação política no epicentro. Para Cecília Honório, vice-presidente da bancada do BE, a crise “foi a cara do fracasso da austeridade e das políticas deste Governo, partido em cacos como um jarrão”. A bloquista comentou a orgânica do Governo proposta pelo primeiro-ministro. “À primeira vista, o papel do CDS no Governo será governar o PSD. Paulo Portas sai como uma espécie de bimbi [robô de cozinha] governante, não havendo nada que não possa cozinhar: na economia, nos Negócios Estrangeiros, como vice-primeiro-ministro”, apontou. 

Na resposta, Miguel Frasquilho, do PSD, acusou a bloquista de “chicana política” e de defender propostas “irresponsáveis”. “O BE só está interessado na chicana política quando devia antes estar preocupado com os efeitos que estas políticas teriam na vida das pessoas. Têm ideia ou consciência do que isso seria? Defendem a saída de Portugal da zona euro? Nós defendemos que devemos honrar os nossos compromissos”, afirmou.

Pelo PCP, Honório Novo questionou a capacidade do Governo. “Este Governo recauchutado fica capaz de renegociar alguma coisa? Depois do chilique político de Portas não será mais do que grupo de representantes permanentes da troika”, criticou. 

Na bancada socialista, Pedro Marques convergiu com o BE no diagnóstico sobre as consequências da “sobreausteridade”, mas divergiu no caminho a seguir para ultrapassar a situação. “Esse ‘haircut’ [‘corte de cabelo’, na tradução literal, usado para referir um perdão de parte da dívida] de 50 por cento, unilateral e isolacionista, e a retirada do memorando implicariam a retirada da Europa. Rejeitamos essa via de renegociação”, disse o deputado do PS.

O ex-secretário de Estado do Governo Sócrates propôs que o BE alterasse o seu projeto de resolução para obter o voto favorável da bancada socialista, mas Cecília Honório recusou “colar” o partido à defesa da saída da Europa e reiterou que a solução bloquista é “a única via possível”.

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