Espanha informada de que Snowden seguia no avião de Morales, Portugal mantém "considerações técnicas"

Portugal recusou aterragem, mas a posição oficial do Governo apresenta como justificação "considerações técnicas".

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O avião do Presidente da Bolívia esteve 13 horas retido em Viena Heinz-Peter Bader/Reuters

O ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol afirmou que as decisões sobre o voo do Presidente Evo Morales foram tomadas por suspeitas de que o norte-americano Edward Snowden seguia a bordo do avião. Segundo a posição oficial do Governo português, transmitida na quarta-feira através de um comunicado do gabinete de imprensa, a proibição da aterragem em Portugal deveu-se a "considerações técnicas".

Entrevistado nesta sexta-feira no programa Los Desayunos de TVE, na estação pública espanhola, José Manuel García-Margallo disse que foi informado da presença de Edward Snowden no avião do Presidente Evo Morales.

"Eu tenho de agir de acordo com os dados que me são facultados. Disseram-nos que esses dados eram claros", disse o ministro espanhol. Questionado sobre se os dados a que se referia indicavam que Edward Snowden estava ou não estava no avião, José Manuel García-Margallo foi claro: "Que ele estava lá. E a reacção de todos os países da Europa, que tomaram medidas correctas ou incorrectas, foi em função de que a informação que tinha sido transmitida era correcta", disse o ministro, sem dizer de onde partiu essa informação.

Na quarta-feira, o Ministério dos Negócios Estrangeiros português emitiu um comunicado em que "lamenta qualquer incómodo junto das autoridades bolivianas", mas afasta responsabilidades, considerando-se "totalmente alheio a esse incómodo". Segundo o comunicado, a anulação da autorização de aterragem ao avião do Presidente Evo Morales deveu-se a "considerações técnicas".

O PÚBLICO tem tentado contactar o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Miguel Guedes, desde a manhã de quarta-feira, para esclarecer que tipo de "considerações técnicas" levaram ao cancelamento da autorização de aterragem em Lisboa, e obter um comentário sobre a acusação do Presidente da Bolívia de que Portugal suspendeu o sobrevoo e proibiu a aterragem devido a "suspeitas infundadas" de que Edward Snowden seguia a bordo, mas ainda não obteve qualquer resposta.

Numa declaração escrita enviada à agência Lusa ao início da tarde desta sexta-feira, o porta-voz do Ministério do Negócios Estrangeiros mantém a versão oficial do Governo português.

"Portugal sempre manteve a autorização de sobrevoo do seu território e, como foi referido desde o início, lamenta qualquer incómodo junto do Presidente Evo Morales", escreveu Miguel Guedes, sem acrescentar nenhum dado ao comunicado emitido na quarta-feira.

Sem dizer se o Governo português vai responder ao pedido de desculpas público exigido pelos países da União das Nações Sul-americanas, o porta-voz do MNE sublinha que "Portugal tem uma política de comprovada e reforçada amizade" com a América Latina.<_o3a_p>

Sobre a acusação do Presidente Evo Morales – e a afirmação do ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol – de que o trajecto do voo foi alterado por suspeitas de que o antigo analista informático norte-americano estava a bordo, o porta-voz do ministério disse que "Portugal não interfere na posição de cada país sobre o 'caso Snowden'".<_o3a_p>

O Partido Comunista Português agendou para a próxima terça-feira, às 17h00, a audição do ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, sobre esta questão. <_o3a_p>

Em declarações à agência Lusa, na quinta-feira, o deputado António Filipe disse que "o país não pode fechar" e lembrou que o ministro Paulo Portas "não foi exonerado e portanto está em funções".<_o3a_p>

Sobre a anulação da autorização de aterragem do avião de Evo Morales, o deputado do PCP exige "um esclarecimento total". <_o3a_p>

"É uma decisão de gravidade extrema e nós entendemos que, tendo em conta o insólito comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros, que aludia a razões técnicas sem explicar quais são, entendemos que a Assembleia da República não pode deixar de exigir do Governo português um esclarecimento total sobre este caso", disse o deputado, citado pela Lusa.
 

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