Foi uma entrevista feita no Museu do Benfica por um vice-presidente do Benfica ao treinador do Benfica e transmitida na Benfica TV. Nesta quinta-feira, José Eduardo Moniz recuperou, por uma hora, a sua pele de jornalista para uma entrevista com Jorge Jesus sobre vários assuntos da realidade “encarnada”, entre a revisitação das frustrações da época passada, apreciações individuais a alguns jogadores, objectivos futuros e até algumas pequenas janelas sobre facetas menos conhecidas do próprio Jesus, que revelou ter tido um convite para treinar um clube no Brasil.

“Houve um clube que me convidou para trabalhar fora de Portugal, no Brasil. E perguntei à pessoa, porquê eu? Essa pessoa disse-me que é muito importante ganhar títulos, mas que também é importante potencializar jogadores e fazer as mais-valias para a sobrevivência de um clube”, revelou o técnico benfiquista, que, várias vezes durante a entrevista, reforçou o seu papel na valorização de vários jogadores do Benfica ao longo dos últimos quatro anos e que a próxima época será igual: “Temos efectuado um trabalho na valorização de jovens jogares com talento, que só são grandes jogadores depois de sairem do Benfica. [Esta época] vou fazer o mesmo.”

Tal como em outras ocasiões, Jesus recusou classificar a última época como um fracasso. “Nestes quatro anos atingiu resultados significativos, recuperou prestígio internacional e vai estar entre as oito melhores equipas no sorteio da Champions [...] O Benfica esteve nas frentes todas até ao fim. Mas isso é o preço do sucesso, só perde quem chega lá”, disse Jesus, que promete voltar a estar nas decisões até ao fim em 2013-14 e define como objectivo mínimo na Liga dos Campeões, cuja próxima final será no Estádio da Luz, a qualificação na fase de grupos. “O que eu posso dizer é que o Benfica está próximo de conquistar a hegemonia do futebol em Portugal”, frisou.

Jesus falou ainda de alguns casos concretos do plantel, nomeadamente de Óscar Cardozo, que “explodiu” após a final da Taça de Portugal. Para o técnico, a atitude do paraguaio “não tem justificação”. “Foi um acto que não me passava pela cabeça. O descontrolo emocional foi comigo e, pior, foi por causa de um colega”, frisou. Jesus afirmou ainda que mantém a confiança em Artur e que Oblak “ainda não é um guarda-redes pronto para o Benfica”. Sobre Djuricic, o técnico diz que não será o substituto de Aimar porque não é um “dez, mas um nove e meio”, e mostrou-se preocupado com a possibilidade de perder Matic, “que agora é cobiçado pelos melhores”. Jesus confirmou ainda a contratação do central argentino Lisandro López, ainda não oficializada pelo clube.

Já perto do final da entrevista, Jesus confessou que dedica quase todo o seu tempo ao futebol. “Tenho uma paixão muito grande pela profissão e a família sobre com isso. Em dia de trabalho, chego ao Seixal às 8h da manhã e saio às 8h da noite. A minha vida é esta”, revelando que desconta 60 por cento do que ganha, admitindo ainda a hipótese de ir para o estrangeiro no futuro: “Não sei qual é o momento certo. Mas, neste momento, não é isso que quero.”