Exército egípcio controla estúdios da televisão estatal

Praça Tahrir volta a encher-se à medida que se aproxima fim do prazo dado pelos militares para o Presidente Morsi responder às exigências dos cidadãos

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Manifestantes acreditam que Morsi poderá ser afastado em breve Gianluigi Guercia/AFP

Militares egípcios, apoiados por blindados, controlam os estúdios da televisão nacional e deram ordens aos funcionários não-essenciais para deixarem o edifício. A notícia surge pouco antes de expirar o prazo fixado pelo Exército para que o Presidente Mohamed Morsi responda às exigências dos cidadãos e a Praça Tahrir volta a encher-se de manifestantes que exigem a sua demissão.

Num discurso terça-feira à noite, Morsi afastou a possibilidade de se demitir. “Se o preço que devo pagar por defender a legitimidade é o meu sangue, estou disposto a pagá-lo pelo meu país”, disse o dirigente da Irmandade Muçulmana, num discurso em que responsabilizou “os rostos do antigo regime” – de Hosni Mubarak – pela crise que o país vive. Uma posição reafirmada já nesta quarta-feira pelo seu porta-voz: “É melhor um Presidente morrer em pé como as árvores do que abrir caminho ao regresso da ditadura ao Egipto, da qual fomos salvos por Deus e a vontade do povo”.

À resistência de Morsi, a oposição respondeu de igual forma, num extremar de posições que coloca o Egipto à beira de uma confrontação. A meio da tarde, muitos milhares de pessoas tinham regressado à Praça Tahrir, no Cairo, berço da revolução de 2011, para voltar a reclamar a demissão do Presidente. “O discurso [de Morsi] apenas nos encorajou a exigir com mais força o seu afastamento. Vamos ficar aqui até que ele parta e, se Deus quiser, será hoje”, disse à AFP um manifestante de 55 anos que se identificou apenas como Maher.

À mesma hora, o chefe de Estado-Maior e ministro da Defesa egípcio, Abdel Fattah al-Sissi, estava reunido com comandantes militares, num encontro que contará também com a presença de representantes da oposição, tanto dos partidos políticos como do movimento popular Tamarod.

Segundo fontes do Exército, no encontro estará a ser debatido um plano de transição política – e que incluirá a suspensão da Constituição e a dissolução do Senado e a formação de um conselho interino. Reagindo a estas movimentações, um porta-voz da Irmandade Muçulmana, movimento que ganhou todas as eleições realizadas no pós-revolução, afirmou que a definição de uma solução para a crise “não cabe ao Exército”.

O Exército esclareceu entretanto que não existe ainda nenhuma hora prevista para uma declaração ao país, negando informações de que um comunicado poderia ser emitido mal expirasse o prazo, que termina a meio da tarde de hoje.

Ao impasse político juntam-se também notícias de crescente violência. Após o discurso de Morsi, houve confrontos entre apoiantes e opositores da Irmandade junto à Universidade do Cairo, de que resultaram 16 mortos e mais de 200 feridos. Outras sete pessoas perderam a vida em incidentes noutros pontos do país, elevando para 47 o balanço de mortos desde o início da agitação, há exactamente uma semana.

 
 

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