Snowden pediu asilo a 20 países mas ainda não teve respostas positivas

Alguns países responderam "Não". Espanha, Itália e outros só podem responder se o pedido for feito dentro dos seus territórios.

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Snowden está a ser visto por alguns como um heróis e por outros como um traidor Mario Tama/AFP

Edward Snowden, o antigo funcionário de uma agência de espionagem americana, pediu asilo político a 20 países e retirou o pedido que fizera à Rússia. Já recebeu uma negativa, da Índia, e explicações: a lei de muitos dos países que escolheu exigem que o pedido de asilo seja feito dentro do território; ora Snowden está numa espécie de terra de ninguém, dentro de um aeroporto de Moscovo.

Áustria, Bolívia, Brasil, China, Cuba, Finlândia, França, Alemanha, Índia, Itália, Irlanda, Holanda, Nicarágua, Noruega, Polónia, Espanha, Suíça, Venezuela, Equador e Islândia foram os países seleccionados pelo antigo funcionário da Agência Nacional de Segurança, segundo a lista divulgada pela Wikileaks. Os governos da Índia, Brasil, Noruega e Polónia já respondeu a Snowden e recusaram o pedido. 

O Governo espanhol, e de acordo com o  jornal  El País, anunciou que não dará seguimento ao pedido e argumentou que este tem que ser entregue numa fronteira espanhola para ser considerado. O Governo italiano fez também saber estar vinculado a essa mesma regra.

Snowden, acusado de traição pelos EUA, está a tentar evitar a extradição para o seu país onde será julgado. Decidiu retirar o pedido à Rússia devido à contrapartida que lhe era exigida.

O Presidente russo, Vladimir Putin, dissera na segunda-feira que estava disposto a conceder asilo ao americano com a condição de este parar de revelar segredos sobre a espionagem americana. "Se ele quiser permanecer aqui, há uma condição – deve deixar de infligir danos aos nossos parceiros norte-americanos, por mais estranho que esta declaração possa parecer vinda de mim", disse Putin.
 

Nem Snowden nem a sua conselheira legal, a britânica Sarah Harrison, foram vistos desde que chegaram ao aeroporto russo, no dia 23 de Junho. Questionado sobre o paradeiro de ambos, o funcionário do consulado russo no aeroporto, Kim Chevchenko, disse: "Ela não disse e eu não perguntei." Harrison é uma das conselheiras mais próximas do fundador da WikiLeaks, Julian Assange, e está retida com Snowden no aeroporto de Cheremtievo, em Moscovo.

Os pedidos de asilo  foram entregues na segunda-feira a um funcionário do consulado russo no aeroporto de Moscovo. Dali foram enviados para as embaixadas dos vinte países.

Numa conferência de imprensa na segunda-feira na Tanzânia, o Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, confirmou que o país está em contacto com "os canais comuns para fazer cumprir a extradição de Edward Snowden" em todos os países por onde o americano de 30 anos passou, "incluindo a Rússia".

Já antes, escolhendo também a Wikileaks, Snowden tinha quebrado o silêncio de algumas semanas para acusar o  Obama de estar a violar os seus direitos como cidadão e de o ter deixado “sem pátria”, ao cancelar-lhe o passaporte e  tentar castigá-lo apenas por ter dito a verdade.

“Obama ordenou ao seu vice-presidente que pressionasse os líderes nacionais a quem pedi protecção para que neguem os meus pedidos de asilo”, lê-se na declaração do antigo funcionário da Agência Nacional de Segurança. E acrescentou que deixou Hong Kong por considerar que a sua “liberdade e segurança estavam ameaçadas por ter revelado a verdade”.

“Instrumentos antigos de agressão política”
“Esta atitude por parte de um líder mundial não é justiça, assim como também não é a pena do exílio. Estes são instrumentos políticos antigos de agressão política. O objectivo é assustar, não a mim, mas a todos os que venham na minha direcção”, diz na mesma declaração.

“Durante décadas, os Estados Unidos da América foram uns dos defensores mais fortes do direito humano a não ser condenado ao exílio”, acrescentou, lamentando que agora o seu país pareça estar a abandonar uma ideia que votou na Declaração Universal dos Direitos Humanos.  “A Administração Obama agora adoptou a estratégia de utilizar a cidadania como uma arma”, insistiu, defendendo que os governantes não temem espiões como Snowden mas sim que a população esteja informada sobre a realidade.

Assim que divulgou as informações sobre espionagem aos jornais The Guardian  e The Washington Post, Snowden refugiou-se, a partir de 20 de Maio, em Hong Kong e chegou a pedir para ser julgado naquela região administrativa autónoma da China. Contudo, e aproveitando que os serviços americanos se esqueceram de lhe cancelar o passaporte, seguiu depois de avião para Moscovo, quando os Estados Unidos pediram à China para o deter. Os trinunais dos Estados Unidos acusam o antigo funcionário de espionagem, roubo e uso inapropriado de informações do Governo.

Edward Snowden assumiu a responsabilidade pela divulgação das informações sobre os programas de vigilância interna da Agência Nacional de Segurança, justificando que não quer viver num mundo em que se exploram este tipo de informações. A fuga de informação expôs a existência do programa PRISM, através do qual a agência americana recolhe dados de empresas de telecomunicações, como a Verizon, e de gigantes tecnológicos, como a Microsoft, Apple, Google e Skype e ainda de redes sociais, incluindo o Facebook.

Segundo Snowden, a população está indefesa perante a sofisticação do programa. “As pessoas não têm noção do que é possível fazer: a extensão das capacidades [da agência] é horripilante. Nós podemos colocar escutas dentro das máquinas. Quando uma pessoa aceder à rede, eu identifico a máquina, e ela nunca mais estará a salvo, independentemente das protecções que usar”, disse ao Guardian.
 

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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