Maria Luís Albuquerque, a técnica de pulso firme a quem já chamaram “senhora swap

Credível junto do primeiro-ministro, mas contestada pela oposição, nova ministra das Finanças toma posse amanhã.

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Maria Luís Albuquerque nasceu em Braga e tem hoje 45 anos Enric Vives-Rubio

Quando todos estavam focados no seu passado, especialmente nas decisões que tomou enquanto directora financeira da Refer, Maria Luís Albuquerque já estaria a pensar no futuro, como nova ministra das Finanças.

Se há qualidades que lhe apontam é a qualidade técnica e a firmeza. Mas a ascensão ao cargo até aqui ocupado por Vítor Gaspar surge no pior momento: a credibilidade que construiu junto do primeiro-ministro contrasta com a tensão que gerou junto da oposição e da opinião pública na sequência da polémica dos swaps.

Na primeira declaração do PSD sobre a remodelação governamental, Miguel Frasquilho afirmou que a agora nova ministra das Finanças “é extremamente competente e financeira e economicamente muito sólida”. O deputado disse ainda que “oferece garantias que Portugal será capaz de cumprir o memorando [de entendimento] e a saída da troika, prevista para Junho de 2014”.

Maria Luís Albuquerque nasceu em Braga e tem hoje 45 anos. Antes de aceitar o convite para secretária de Estado do Tesouro, esteve quatro anos na Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP), lugar a que chegou em 2007 após seis anos como directora financeira da Refer.

A passagem pela empresa que gere a rede ferroviária do país, que celebrou derivados financeiros considerados complexos pela consultora Storm Harbour (contratada pelo Governo para fazer uma avaliação aos swaps das empresas públicas), colocou-a no olho do furacão nos últimos meses.

Ainda na manhã desta segunda-feira fez de rosto do Governo, no primeiro briefing que o executivo passou a agendar diariamente com jornalistas, para reagir às declarações do ex-ministro das Finanças do executivo PS Teixeira dos Santos.

Com a segurança de discurso que lhe é característica, Maria Luís Albuquerque veio reiterar que não recebeu informação sobre o tema por parte do seu antecessor na Secretaria de Estado do Tesouro, Carlos Costa Pina. Só não esclareceu se o ministro que agora substitui lhe fez chegar essa informação, depois de ter sido alertado para o problema na reunião que teve com Teixeira dos Santos, a 18 de Junho.

Esta é apenas uma das dúvidas que permanecem no que ao caso dos swaps diz respeito. Também ainda falta esclarecer quanto vai custar a liquidação destes contratos aos contribuintes. A até aqui secretária de Estado do Tesouro tem argumentado que o cancelamento de derivados do IGCP, que acumulavam ganhos, está a compensar o dinheiro pago aos bancos, mas a oposição contesta este raciocínio, argumentando que as perdas são reais, porque estas mais-valias poderiam ter outros fins.

Nas idas ao Parlamento, Maria Luís Albuquerque não tem vacilado desde que a polémica dos swaps estalou, tendo levado à demissão de dois secretários de Estado e de três gestores públicos. Mesmo quando Ana Drago, deputada do Bloco de Esquerda, lhe atribuiu o estatuto de “senhora swap”, por ter subscrito estes contratos na Refer e estar agora a liderar a negociação com as instituições financeiras. No preâmbulo da resposta, a agora ministra das Finanças confessou que existem entre as duas tarefas “diferenças insanáveis”.

Antes de estar sob os holofotes devido aos swaps, Maria Luís Albuquerque era sobretudo vista como a aposta de Passos Coelho para o regresso de Portugal aos mercados e a concretização do programa de privatizações acordado com a troika. A ligação entre os dois remonta ao tempo em que partilhavam uma sala de aula. O actual primeiro-ministro foi seu aluno na Universidade Lusíada. 
 
 
 
 

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