Maria Luís Albuquerque, a técnica de pulso firme a quem já chamaram “senhora swap”
Credível junto do primeiro-ministro, mas contestada pela oposição, nova ministra das Finanças toma posse amanhã.
Quando todos estavam focados no seu passado, especialmente nas decisões que tomou enquanto directora financeira da Refer, Maria Luís Albuquerque já estaria a pensar no futuro, como nova ministra das Finanças.
Se há qualidades que lhe apontam é a qualidade técnica e a firmeza. Mas a ascensão ao cargo até aqui ocupado por Vítor Gaspar surge no pior momento: a credibilidade que construiu junto do primeiro-ministro contrasta com a tensão que gerou junto da oposição e da opinião pública na sequência da polémica dos swaps.
Na primeira declaração do PSD sobre a remodelação governamental, Miguel Frasquilho afirmou que a agora nova ministra das Finanças “é extremamente competente e financeira e economicamente muito sólida”. O deputado disse ainda que “oferece garantias que Portugal será capaz de cumprir o memorando [de entendimento] e a saída da troika, prevista para Junho de 2014”.
Maria Luís Albuquerque nasceu em Braga e tem hoje 45 anos. Antes de aceitar o convite para secretária de Estado do Tesouro, esteve quatro anos na Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP), lugar a que chegou em 2007 após seis anos como directora financeira da Refer.
A passagem pela empresa que gere a rede ferroviária do país, que celebrou derivados financeiros considerados complexos pela consultora Storm Harbour (contratada pelo Governo para fazer uma avaliação aos swaps das empresas públicas), colocou-a no olho do furacão nos últimos meses.
Ainda na manhã desta segunda-feira fez de rosto do Governo, no primeiro briefing que o executivo passou a agendar diariamente com jornalistas, para reagir às declarações do ex-ministro das Finanças do executivo PS Teixeira dos Santos.
Com a segurança de discurso que lhe é característica, Maria Luís Albuquerque veio reiterar que não recebeu informação sobre o tema por parte do seu antecessor na Secretaria de Estado do Tesouro, Carlos Costa Pina. Só não esclareceu se o ministro que agora substitui lhe fez chegar essa informação, depois de ter sido alertado para o problema na reunião que teve com Teixeira dos Santos, a 18 de Junho.
Esta é apenas uma das dúvidas que permanecem no que ao caso dos swaps diz respeito. Também ainda falta esclarecer quanto vai custar a liquidação destes contratos aos contribuintes. A até aqui secretária de Estado do Tesouro tem argumentado que o cancelamento de derivados do IGCP, que acumulavam ganhos, está a compensar o dinheiro pago aos bancos, mas a oposição contesta este raciocínio, argumentando que as perdas são reais, porque estas mais-valias poderiam ter outros fins.
Nas idas ao Parlamento, Maria Luís Albuquerque não tem vacilado desde que a polémica dos swaps estalou, tendo levado à demissão de dois secretários de Estado e de três gestores públicos. Mesmo quando Ana Drago, deputada do Bloco de Esquerda, lhe atribuiu o estatuto de “senhora swap”, por ter subscrito estes contratos na Refer e estar agora a liderar a negociação com as instituições financeiras. No preâmbulo da resposta, a agora ministra das Finanças confessou que existem entre as duas tarefas “diferenças insanáveis”.
Antes de estar sob os holofotes devido aos swaps, Maria Luís Albuquerque era sobretudo vista como a aposta de Passos Coelho para o regresso de Portugal aos mercados e a concretização do programa de privatizações acordado com a troika. A ligação entre os dois remonta ao tempo em que partilhavam uma sala de aula. O actual primeiro-ministro foi seu aluno na Universidade Lusíada.