Maioria PSD/CDS ignorou a greve mas a esquerda fez questão de lha lembrar

No plenário, o PS foi recatado na referência à greve, mas PCP, BE e Verdes deixaram elogios aos trabalhadores e disseram que a direita tem “medo” de pronunciar as palavras greve geral.

Os partidos mais à esquerda no Parlamento, PCP e BE, fizeram questão de funcionar, nesta quinta-feira, no plenário, com os serviços mínimos, para mostrar o seu total apoio à greve geral. Os deputados dos dois partidos estiveram em iniciativas de greve, a cumprir trabalho político.

Dos oito deputados do BE apenas o líder parlamentar, Pedro Filipe Soares, esteve presente. Dos 14 parlamentares do PCP estavam apenas Bruno Dias e o líder da bancada Bernardino Soares. E dos dois deputados dos Verdes, apenas José Luís Ferreira marcou presença. Os restantes deputados, disseram os partidos ao PÚBLICO, estiveram em trabalho político junto dos piquetes de greve ou em manifestações e distribuição de informação nas respectivas regiões por onde foram eleitos.

O estatuto de deputado não consigna o direito à greve. Dos 230 deputados, no momento das votações só estavam no plenário 186.

Houve também funcionários dos partidos que não foram trabalhar. Os funcionários do PCP no Parlamento, por exemplo, não fizeram oficialmente greve porque têm um vínculo laboral que implica confiança política. No entanto, não foram trabalhar e terão falta não justificada, perdendo um dia de salário.

A esquerda saudou efusivamente a greve, com o PS a ser bem mais recatado do que PCP e BE.

O comunista Bernardino Soares lembrou que se trata de uma “fortíssima greve, com impacto no sector público e no sector privado, com o encerramento e paralisação total ou quase total de empresas”, como foi o caso da Lisnave, Estaleiros de Viana do Castelo, Valosul ou as privadas AutoEuropa e da Renault de Cacia. Referiu também as taxas elevadas de participação nos sectores dos transportes, saúde, educação, segurança social, justiça, administração pública e local.

A mesma ideia seria repetida mais tarde por José Luís Ferreira d’Os Verdes e pelo comunista Bruno Dias, levando as bancadas da direita a soltar uns sonoros “Outra vez?!?”. Mas os comunistas não desistiram. Bruno Dias deixou um aviso: “Cuidado com a soberba, srs. deputados. Há mais empresários que se identificam com esta luta do que aquilo que os srs. supõem.” E desafiou a direita ao dizer que os elementos da maioria têm “dificuldade em pronunciar as palavras greve geral”.

À provocação, só o social-democrata Luís Menezes haveria de responder com um “não nos custa nada dizer greve geral” no meio de uma observação ao PS.

“Não é possível hoje debatermos qualquer tema que seja sem falar na greve geral. É um grito de indignação de um povo contra um Governo que contra tudo e contra todos está a destruir um país”, disse o bloquista Pedro Filipe Soares, que quando o debate já levava mais de uma hora desabafou: “É extraordinário o tempo a que já estamos aqui a falar sobre empresas e emprego e a direita tenha passado à margem da greve geral”, que foi “massiva” em vários serviços públicos e fez “parar o país”.

“O Governo faz tudo para diminuir a greve, a direita fê-lo ao não falar dela”, acusou Pedro Filipe Soares, apontando o “cinismo” que Pedro Passos Coelho deixou no Parlamento na quarta-feira, no debate quinzenal ao dizer que “o país precisa menos de greves e mais de trabalho e rigor”.

António José Seguro saudou “os que fazem greve, os que gostariam de fazer mas não podem, os que concordam com as propostas do PS mas não fazem greve, os trabalhadores que estão desempregados, os que têm emigrado”. E lembrou a coincidência da discussão sobre as propostas para dinamizar as empresas no mesmo dia em que se realiza a greve geral.

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