Um arranque de greve geral sob o calor de Junho
O secretário-geral da UGT deu o pontapé de saída da primeira greve geral da sua liderança no Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa.
Dois carros de bombeiros saíram do quartel do Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa, com as sirenes ligadas, durante a visita de Carlos Silva, secretário-geral da União Geral de Trabalhadores (UGT), que foi o primeiro acto da primeira greve geral do novo líder da central.
O silvo das sirenes era ao mesmo tempo tranquilizador e urgente. Significava que os serviços mínimos estavam a funcionar (os bombeiros iam resolver uma fuga de gás) e contrastava ao mesmo tempo com o clima de confraternização em que decorria a recepção ao secretário-geral da UGT.
Fernando Curto, comandante do RSB e dirigente sindical, tinha recebido Carlos Silva, pouco depois das 20h desta quarta-feira, com um efusivo “boa tarde”, ao qual o líder da UGT respondeu: “Boa tarde digo eu.”
No final, os bombeiros fardados e ostentando bandeiras brancas desejaram “boa jornada” à comitiva de Carlos Silva e aos sindicalistas da UGT, com os coletes e as bandeiras vermelhas da central.
Carlos Silva tinha sublinhado que esta era a primeira vez que um líder da UGT visitava o RSB numa greve geral. E realçara que os “militares da paz deviam merecer de quem os governa a necessária atenção”.
Fernando Curto falou a Carlos Silva sobre os problemas dos bombeiros. “Decidimos criar um fundo de emergência, a partir de quotizações na base, para acudir às situações de emergência”, disse.
Orgulhou-se dos 100% de adesão em duas das companhias do RSB que tinham encetado a paralisação às oito da noite – na rua, ouvira-se, vindo do interior do quartel, o toque anunciando a mudança de turno. Acrescentando que a adesão entre os bombeiros profissionais e municipais “é sempre entre os 95 e os 98%”.
O RSB, explicou ao PÚBLICO, tem neste momento um défice de pessoal: “Devíamos ser entre 850 a 900”. Ordenados médios? “Entre os 550 e os 950 euros”.
Problemas? Muitos “por causa dos cortes a que temos sido sujeitos, muitas vezes a dobrar quando a esposa é funcionária pública. Há bombeiros que já tiraram os filhos das creches. Temos bombeiros com mais de 20 anos de serviço que estão em vias de entregar a casa”.
Sob o arco da entrada do quartel, bombeiros, sindicalistas e jornalistas misturam-se. Camisa branca de manga curta e calças pretas, Carlos Silva cumprimentou um a um todos os bombeiros, ouviu o relato dos problemas destes, deixou palavras de coragem.
Depois, voltou-se para os jornalistas que estavam ali para os directos e deixou o seu apelo à participação na greve. “Esta greve geral será um êxito se os portugueses fizerem dela um êxito”.
O pontapé de saída da primeira greve geral de Carlos Silva era também um prelúdio, um apelo à adesão. “Há um clamor que apelidámos de insubmissão”, reiterou. Com o calor do fim de tarde Junho ainda forte sob os jacarandás da avenida D. Carlos, o líder da UGT partiu para a paragem seguinte. Tranquilo, apesar de não ser um dia de serviços mínimos.