Militares afegãos assumem comando sobre totalidade do território

Pouco antes da cerimónia de transferência de responsabilidades, da NATO para as forças afegãs, um atentado contra líder político matou três pessoas em Cabul.

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Pela primeira vez desde 1989, o Governo de Cabul assume oficialmente o controlo sobre a totalidade do Afeganistão Mohammad Ismail/Reuters

As forças de segurança afegãs assumiram, oficialmente, o controlo sobre a totalidade do território nacional, uma etapa sobretudo simbólica no processo que levará à partida, até ao final do próximo ano, dos militares da NATO que há mais de uma década estão no país. Mas a provar a instabilidade que o país ainda vive, uma bomba explodiu em Cabul pouco antes da cerimónia de transferência, matando três pessoas.

Segundo a polícia da capital afegã, o atentado visou Mohammad Mohaqiq, um influente político hazara, minoria étnica de confissão xiita, que além de deputado é um dos membros do conselho nomeado pelo Presidente Hamid Karzai para tentar negociar um acordo de paz com os rebeldes taliban.

A bomba explodiu nas imediações da casa de Mohaqiq, na zona ocidental de Cabul, no momento em que ele abandonava o local numa viatura escoltada. Segundo a polícia, o dirigente escapou ileso, mas a explosão matou três pessoas que passavam pelo local e feriu outras 24, incluindo alguns seguranças.

O atentado acontece uma semana depois de outros dois ataques de grande visibilidade na capital afegã: no dia 10, um comando armado atacou o aeroporto da cidade, rodeado de fortes medidas de segurança, e no dia seguinte um suicida matou 17 pessoas à entrada da sede do Supremo Tribunal afegão. As duas acções foram reivindicadas pelos taliban, numa ofensiva destinada a mostrar que, apesar do apoio, treino e equipamento recebido da NATO, as forças afegãs continuam incapazes de garantir a segurança mesmo nos locais mais vigiados da capital.

Mas menos de duas horas depois do ataque, Karzai anunciava que, desta terça-feira em diante, “as corajosas forças afegãs vão assumir todas as responsabilidades pela segurança” do país. O anúncio foi feito durante uma cerimónia, nos arredores da capital, para assinalar a transferência das últimas províncias e distritos afegãos ainda sob controlo das forças da NATO para o comando afegão. O processo foi iniciado em 2011, quando a NATO definiu um calendário para a retirada do Afeganistão, mas para o fim foram deixadas algumas das áreas mais instáveis do país, como as províncias de Helmand, Kandahar (Sul), Khost, Kunar e a cidade de Paktia (Leste).

Esta é a primeira vez desde o fim da invasão soviética, em 1989, que o Governo de Cabul é responsável pela segurança na totalidade do território afegão, recorda a BBC. Em teoria, a partir de agora, os quase cem mil militares da NATO que permanecem no Afeganistão vão cumprir apenas missões de apoio aos soldados afegãos, o que permitirá acelerar a redução do contingente – todas as tropas de combate deverão partir até ao final de 2014, ficando apenas no país uma pequena força para treino e aconselhamento das forças afegãs.

Apesar das muitas interrogações sobre a capacidade dos militares afegãos para assumir o controlo do país – o Exército debate-se, entre outros problemas, com elevadas taxas de deserção – a NATO acredita que a força constituída nos últimos anos é “suficientemente boa” para cumprir a tarefa. Em seis anos, o número de polícias e militares passou de 40 mil para mais de 350 mil, no âmbito de um intensivo programa de treino liderado pelas forças internacionais. Na cerimónia em Cabul, o secretário-geral da Aliança Atlântica, elogiou os “corajosos e empenhados” soldados afegãos e a sua dedicação para “garantir que o terrorismo internacional não encontrará de novo refúgio” no país.

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