CT da RTP quer que presidente defenda empresa como fez com a TV grega

Trabalhadores da TV e rádio públicas querem compromisso de Alberto da Ponte na defesa do grupo português.

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Equipa de Alberto da Ponte criticou decisão grega ao defender que "reestruturar o audiovisual público não é encerrá-lo" Adriano Miranda

A Comissão de Trabalhadores da RTP desafiou nesta quarta-feira o presidente Alberto da Ponte a defender a empresa portuguesa e os seus trabalhadores com o mesmo empenho com que defendeu o serviço público grego, que o Governo decidiu encerrar na terça-feira à noite.

Os representantes dos trabalhadores do serviço público português de rádio e televisão registaram “com agrado” que a administração da RTP tenha criticado a decisão do Governo grego de encerrar a ERT. Mas questionam se o conselho de administração, “solidário com os trabalhadores gregos do audiovisual, será igualmente solidário com os trabalhadores da RTP” no caso de o Governo português decidir aplicar no serviço público português a mesma receita. “Poderemos [nesse caso] contar com um compromisso de intransigente oposição do conselho de administração?”, questiona a CT da RTP.

Caso a equipa de Alberto da Ponte esteja disposta a ter a mesma posição em relação a um hipotético fecho da RTP, a CT diz que está aí “um possível ponto de partida para que trabalhadores e conselho de administração (CA) possam conjugar esforços tendo em vista um objectivo comum”.

A administração da RTP decidiu cortar relações com a CT depois de várias controvérsias durante o processo de negociação do Plano de Desenvolvimento e Redimensionamento da empresa, que implica grandes reduções de custos e que poderá levar a um despedimento colectivo dentro de algumas semanas se as rescisões amigáveis não atingirem o valor de poupança que a equipa de Alberto da Ponte considera imprescindível.

Em comunicado enviado apenas à imprensa e não aos trabalhadores da RTP, a administração liderada por Alberto da Ponte solidarizou-se com a ERT e com os seus trabalhadores e salientou tratar-se de “um dia triste e de luto para o serviço público de audiovisual”. Também afirmou considerar que “reestruturar o audiovisual público não é encerrá-lo” – uma referência ao facto de o Governo grego ter argumentado que apenas encerrava temporariamente a ERT para elaborar um plano urgente de reestruturação que passa pela redução dos efectivos e da sua operação.

No mesmo documento, e para realçar as diferenças em relação ao caso grego, a administração reafirmava a sua “determinação de prosseguir a reestruturação em curso na empresa, mas com o objectivo de tornar o serviço público de televisão e rádio mais fortes e a RTP uma empresa de referência e de prestígio no seio das suas congéneres europeias”.

A CT da RTP deixou, em comunicado, um desafio à administração de Alberto da Ponte. “É preciso esclarecer se o repúdio declarado pelo CA contra o encerramento da ERT e contra a hipótese de encerramento da RTP se traduz, hoje mesmo, em decisões concretas que reforcem a RTP e a sua perspectiva de futuro.”

Os representantes dos trabalhadores afirmam ainda que “falta rever o rumo do processo de reestruturação”, uma vez que esta “só reforça o serviço público e só esconjura a ameaça do encerramento se abdica de mandar embora pessoas (…) se determina em que sectores faltam e em que sectores sobram trabalhadores, se dialoga sobre as saídas, mas, fundamentalmente, se dialoga sobre a formação, a qualificação e o enriquecimento profissional” de quem ali trabalha.

“Uma reestruturação só reforça o serviço público se se basear num projecto sobre os contornos futuros desse serviço público e sobre o modo de financiá-lo”, defende ainda a CT.

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