Escolas sem instruções do MEC sobre como reagir às greves às avaliações

Equidade entre os alunos está em risco, porque uns poderão saber notas e outros não, alerta directora.

Foto
As notas de muitos alunos continuam sem ser atribuídas Paulo Pimenta

A apreensão face às dificuldades causadas pela greve dos professores às reuniões de avaliação começou a generalizar-se nesta terça-feira entre os directores das escolas com a confirmação de uma significativa adesão dos docentes ao protesto.

A Federação Nacional de Professores (Fenprof) calcula que mais de 97,5% das reuniões marcadas para sexta e terça-feira não se terão realizado o que, alertam os directores, levanta problemas de equidade entre os alunos e “empurra todas as actividades calendarizadas, com prejuízo para a organização do próximo ano lectivo”.

A falta de um único professor inviabiliza qualquer reunião de avaliação, na qual têm de participar, obrigatoriamente, todos os docentes da turma – um factor que torna muito fácil fazer esta greve e muito difícil cumprir a lei, ou seja, voltar a convocá-la no prazo máximo de 48 horas, afirma Ernesto Paiva, director da Infanta D. Maria, a escola secundária pública que ocupa o primeiro lugar no ranking elaborado com base nas notas dos exames e onde não se realizou ainda nenhuma reunião. “As reuniões que estou a tentar remarcar sobrepõem-se a outras e, se essas voltarem a falhar, cairão em cima da vigilância de exames e das reuniões de notas que estão marcadas para a semana – quando é que será possível reunir os conselhos de turma? Não sei – é uma enorme dor de cabeça”, disse.

As reuniões de avaliação marcadas para esta semana destinam-se a atribuir notas aos alunos dos anos com exames (6.º, 9.º, 11.º e 12.º) que, contudo, poderão realizar estas provas sem conhecer quais as classificações que lhes foram atribuídas pelos professores. A greve a estas reuniões poderá estender-se até ao próximo dia 21. Na próxima semana estão marcadas as reuniões de avaliação dos anos que não têm exame e que terminam as aulas na sexta-feira.

Na escola secundária Rainha D. Amélia, em Lisboa, o calendário de reuniões iniciou-se hoje: das quatro agendadas para o 9.º ano não se realizou nenhuma, mas no secundário já não aconteceu o mesmo. “Houve umas que se realizaram e outras que não e por isso estou a ficar muito preocupada sobre como se garantirá a equidade em relação aos alunos”, admite a directora Isabel le Gué. Ou seja, concretiza, neste cenário poderá haver alunos que vão saber quais as suas notas internas e outros não. “Neste momento, sem ter recebido ainda qualquer orientação por parte do  ministério, tenho um prazo legal a cumprir para afixar as pautas existentes [até 48 horas antes do início dos exames]. Só espero que até amanhã tenhamos orientações e que não venha a criar-se mais este problema aos alunos”, acrescenta.

Também Adelino Calado, dirigente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas, considera “preocupante a falta de orientações do MEC em relação às medidas a tomar face à greve às reuniões de avaliação”.  “O adiamento sucessivo das reuniões vai tornar impossível a sua remarcação – a situação tornar-se-á insustentável”, alerta. Segundo explicou, as reuniões estão a ser adiadas, mas de imediato os professores se organizam para que a seguinte (à qual não pode faltar um único professor), seja também inviabilizada. Este cenário deixa-o mais apreensivo que a greve aos exames própriamente ditos, que está marcada apenas para dia 17, dia em que se estreiam as provas do secundário. O colégio arbitral a quem foi entregue a decisão sobre os serviços mínimos a aplicar nesta data já deliberou que estes, afinal, não se justificam e que o exame deve ser adiado

“Sinto que os professores estão dispostos a levar isto até às últimas consequência”, adianta a directora da secundária de Montemor-o-Velho, onde não se realizou até agora nenhuma reunião. Por isso, Isabel Verão receia pela organização do próximo ano lectivo. “As actividades de fim de ano lectivo e organização do seguinte estão rigorosamente encadeadas e calendarizadas”: “Notas, exames, resultados destes, matrículas, constituição de turmas e distribuição de serviço."

Sugerir correcção
Comentar