Governo francês confirma o uso de gás sarin na guerra síria

Foram feitos testes a jornalistas franceses que estiveram em zonas de combate. Relatório da ONU diz que a brutalidade aumentou de ambos os lados do conflito.

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Alepo é uma das cidades sírias onde os investigadores da ONU acreditam ter havido ataques com armas químicas FABIO BUCCIARELLI/AFP

O ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Laurent Fabius, confirmou nesta terça-feira que durante dois anos foi usado gás sarin na guerra na Síria. Esta arma química foi utilizada "várias vezes e de forma localizada", disse o responsável pela diplomacia do Governo de Paris.

Fabius disse que foram realizados testes em laboratórios parisienses que confirmaram o uso do gás venenoso - age sobre o sistema nervoso e pode matar - e frisou que os responsáveis pelo recurso a armas químicas devem ser "responsabilizados". 
Os testes, revela
Le Monde, foram feitos a jornalistas deste jornal que estiveram na Síria em zonas de combate. Análises à urina revelaram que foram expostos ao gás tóxico. 

O ministro, que fez as declarações ao final da tarde, não disse quem usou o agente químico e onde foi detectado. Reagindo de imediato ao seu discurso, a Casa Branca divulgou uma nota dizendo que são necessárias mais provas sobre a questão.

Algumas horas antes, as Nações Unidas tinham divulgado o relatório de uma investigação a quatro meses de guerra - de 15 de Janeiro a 15 de Maio deste ano - em que se concluia existirem "provas suficientes" para se afirmar que este gás tinha sido usado no conflito entre o Presidente Bashar al-Assad (e as forças governamentais) e a oposição armada que tenta, há mais de dois anos, derrubar o regime. O gás foi usado em pelo menos quatro ocasiões, refere a ONU. 

A comissão internacional de inquérito sobre a Síria, criada pelo Conselho da ONU para os Direitos Humanos, diz estar em posse “pela primeira vez, de dados que comprovam a imposição sistemática de cercos, o uso de agentes químicos e os desalojamentos forçados”, escreve o New York Times.

Os quatro elementos do painel, presidido pelo brasileiro Paulo Pinheiro, exortam a comunidade internacional a pôr fim à venda de armas que, segundo eles, apenas resultará em mais mortes de civis. Também nesta terça-feira, o secretário-geral da NATO, Anders Fogh Rasmussen, disse que “o apoio militar indirecto” de Moscovo ao Governo de Damasco “não facilita uma solução política”, considerando esta como “o caminho certo” para resolver o conflito.

A equipa contabilizou entre meados de Janeiro e meados de Março, 17 incidentes que classifica como massacres. E, com base em entrevistas a vítimas, refugiados e pessoal médico, diz ter “dados razoáveis para acreditar que quantidades consideráveis de químicos tóxicos foram utilizados” em Alepo e Damasco a 19 de Abril e mais tarde em Alepo a 13 de Abril e em Idlib a 29 de Abril – ficando por determinar, acrescenta a AFP, qual a natureza desses agentes químicos, qual o sistema de armas utilizados e quem os utilizou.

O painel disse que aumentou "o uso indiscriminado de armas, como bombas de fragmentação" e outras que representam “um desrespeito flagrante” por parte das forças do Governo da distinção entre combatentes e civis exigida pela lei internacional". E fez saber que “outros incidentes continuam a ser investigados”.O relatório dos especialistas diz que a diferença entre a brutalidade cometida pelas forças de Assad e as da oposição está apenas na intensidade dos ataques e não na sua natureza. “Os crimes que chocam a consciência tornaram-se uma realidade quotidiana”, lamentou Paulo Pinheiro, reconhecendo que, dois anos depois de ter começado, o conflito permanece num impasse. “Ninguém está a ganhar”, disse aos jornalistas na apresentação do relatório em Genebra.

“Crimes de guerra, contra a humanidade e violações graves dos direitos humanos continuam a ritmo acelerado”, diz o documento.

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