Prémio Príncipe das Astúrias para Peter Higgs, François Englert e CERN

A previsão teórica (em 1964) e a detecção (em 2012) do bosão de Higgs estão no centro da distinção deste ano do prémio espanhol para a área da ciência.

O britânico Peter Higgs, que acabou por ter o apelido no bosão que confere a massa a outras partículas elementares
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O britânico Peter Higgs, que acabou por ter o apelido no bosão que confere a massa a outras partículas elementares Fabrice Coffrini/AFP
O belga François Englert
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O belga François Englert Herwig Vergult/AFP
O acelerador de partículas LHC no CERN, durante a sua construção
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O acelerador de partículas LHC no CERN, durante a sua construção DR

Os físicos Peter Higgs, do Reino Unido, e François Englert, da Bélgica, e o Laboratório Europeu de Física de Partículas (CERN), na Suíça, venceram o Prémio Príncipe das Astúrias de Investigação Científica e Técnica 2013, anunciou o júri esta quarta-feira, em Oviedo.

Em 1964, Peter Higgs e François Englert (este em conjunto com Robert Brout, falecido em 2011) chegaram à conclusão, ao mesmo tempo e de forma independente, de que existiria uma partícula elementar que confere massa às outras partículas. O britânico Peter Higgs publicou o seu primeiro artigo científico com essa proposta em Setembro de 1964, na revista Physics Letters, e no mês seguinte publicou outro na revista Physical Review Letters. Os belgas François Englert e Robert Brout já tinham publicado um pouco antes, em Agosto de 1964, a sua proposta sobre essa partícula, seguindo outro raciocínio, também na Physical Review Letters.

Outros cientistas publicaram pouco depois artigos em que defendiam a existência de uma partícula dessas. Mas ela acabou por ficar conhecida por bosão de Higgs ou, de forma mais popular e nem sempre apreciada por muitos, por “partícula de Deus”. Seja como for, Peter Higgs teve de batalhar pela publicação e defesa da sua ideia, quando muitos não acreditavam nela.

A 4 de Julho de 2012, as equipas do CERN que procuravam a esquiva partícula no grande acelerador LHC anunciaram, finalmente, em grande festa, a descoberta de uma partícula que podia ser o bosão de Higgs.

No LHC, em funcionamento desde 2010 num túnel subterrâneo que atravessa a fronteira franco-suíça, na zona de Genebra, aceleraram-se partículas quase até à velocidade da luz. Das colisões entre elas, esperava-se criar o bosão de Higgs. Este existiria só durante umas fracções de segundo, mas daria origem a outras partículas que, essas sim, era o que os cientistas pretendiam detectar para chegar, de forma indirecta, ao tão procurado bosão.

O Higgs é uma peça essencial do chamado “modelo-padrão”, actualmente a melhor descrição das partículas elementares e das forças entre elas, modelo segundo o qual tem de haver uma partícula que dá massa às outras e que permite que as coisas, tal como as conhecemos, existam.

“Ao longo de quase meio século, os esforços para encontrar o bosão de Higgs foram infrutuosos, devido às enormes dificuldades experimentais que comporta a sua detecção precisa e inequívoca. Em 2012, o bosão de Higgs foi finalmente identificado pelos detectores ATLAS e CMS do acelerador de partículas LHC do CERN, um marco histórico para toda a comunidade científica”, lê-se na acta do júri que atribuiu o Prémio Príncipe das Astúrias de Investigação Científica e Técnica. “A descoberta do bosão de Higgs constitui um exemplo emblemático de como a Europa liderou um esforço colectivo para resolver um dos mais profundos enigmas da física.”

Peter Higgs (nascido em 1929), François Englert (nascido em 1932) e o CERN (criado em 1954 e do qual Portugal é actualmente membro) receberão o prémio no Outono, que consiste em 50 mil euros e uma estatueta de Joan Miró.

O Prémio de Investigação Científica e Técnica, um dos oito Prémios Príncipes das Astúrias, destina-se a distinguir pessoas ou equipas “cujas descobertas e/ou invenções representem uma contribuição relevante para o progresso e o bem-estar da humanidade nas áreas da matemática, da astronomia e da astrofísica, da física, da química, das ciências da vida, das ciências médicas, das ciências da Terra e do espaço e das ciências tecnológicas”.

Entre os anteriores premiados encontram-se Lawrence Roberts, Robert Kahn, Vinton Cerf e Tim Berners-Lee, pioneiros do desenvolvimento da World Wide Web (em 2002), a primatóloga norte-americana Jane Goodall (2003) e o neurocientista português António Damásio (2005).
 

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