Panelas, buzinas e gargalhadas no dia do Conselho de Estado

Concentração em frente ao Palácio de Belém contou com menos gente do que no ano passado mas trouxe uma nova forma de luta: o riso.

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Protestos junto ao Palácio de Belém Bruno Castanheira
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Bruno Castanheira
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O contingente policial em frente ao Palácio de Belém fazia antever uma grande manifestação. A barreira de segurança deixou os manifestantes longe da residência oficial do Presidente da República, que não deve ter ouvido as gargalhadas que vinham do jardim.

“Cavaco, ladrão. O teu lugar é na prisão.” Fábio Carvalho, de 27 anos, grita ao megafone palavras de ordem dirigidas a Cavaco Silva. O jovem argumentista sai à rua porque quer “que este Governo caia de vez”. As críticas do também membro da Plataforma 15 de Outubro estendem-se a todo o executivo de Passos Coelho mas, garante, não fará a vontade ao primeiro-ministro e continuará no país: “Passos Coelho frisou que devemos sair para arranjar trabalho mas eu vou ficar cá a lutar”.

Questionado em relação ao desfecho do Conselho de Estado, Fábio Carvalho revela pouca esperança: “Este Governo já definiu que pretende acabar com a saúde e a educação. Por isso, espera-se mais do mesmo, o apoio total às medidas da troika”.

Luís Esteves, de 43 anos, está na primeira fila em frente às grades e trouxe um cartaz “Cavaco, morreste e não te avisaram”. O educador social, que também já tinha estado presente no protesto do último Conselho de Estado, a 21 de Setembro de 2012, defende que independentemente da reunião com os conselheiros “o caminho continuará a ser o do desastre.” Para Luís Esteves, o Presidente da República está a trabalhar “no consenso para a miséria” e, não encontrando uma solução política para a “situação insustentável do país”, vão aparecer cenários de violência.

Passava pouco tempo das seis da tarde quando um manifestante conseguiu inverter o rumo do protesto. Apareceu sozinho, trouxe lenços brancos e gargalhadas muito altas. Apontou para todos os polícias que estavam por trás das grades de segurança e, por entre risos, gritou: “Tenham vergonha. Obedecer a ordens não é desculpa quando estamos frente a um crime”.

De seguida, das colunas provisoriamente instaladas no jardim ouviu-se um apelo: “Vamos todos rir-nos da fantochada deste Governo”. As músicas de intervenção deram lugar a algumas das mais polémicas declarações proferidas ao longo do ano por Passos Coelho, Vítor Gaspar, Cavaco Silva e Paulo Portas. Os manifestantes responderam com gargalhadas.  

O músico Carlos Mendes, que está perto das colunas, ri-se com todas as declarações que vai ouvindo. “Estas frases só dão para rir. São perfeitos disparates.” O músico, que fez parte do grupo que interrompeu o debate quinzenal no Parlamento a 15 de Fevereiro para cantar Grândola, Vila Morena, vinca que “tanto a cantiga como o riso são uma arma”.

As grades de segurança, neste ano mais recuadas que no ano passado, também são alvo da atenção de Carlos Mendes: “Isto é próprio de Governos pró-fascistas” e, ironiza, “qualquer dia estamos no rio”. 

A serenidade do músico contrasta com as palavras que vai dizendo: “Estamos sentados sobre um barril de pólvora. Mas não somos nós que estamos a atear o rastilho, são os senhores que estão lá dentro." Carlos Mendes considera que o país está “aprisionado por um Governo fantoche” e, defende, “se algum dia houver uma revolução popular estes senhores têm de ser presos”, referindo-se ao executivo de Passos Coelho. 

O ex-deputado do Bloco de Esquerda e membro da Comissão Política do BE, Jorge Costa, também esteve presente no protesto e, em declarações à Lusa, disse que “o povo faz milagres quando luta”. O bloquista aproveitou para pedir ao Presidente da República que cumpra o seu papel e demita o Governo “mesmo que isso pareça um milagre”.

A acção desta segunda-feira foi convocada pelo movimento Que Se Lixe a Troika através das redes sociais e reuniu algumas centenas de manifestantes. Cavaco Silva foi o alvo da maioria das palavras de ordem: “A múmia continua a não os pôr na rua” e “sai do caixão e pede a demissão” foram as frases mais ouvidas durante as três horas que durou o protesto.

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