Deputado do PSD escreve a Merkel criticando "desresponsabilização da Alemanha" pela austeridade

Duarte Marques reage à notícia do PÚBLICO.

Foto
Duarte Marques Daniel Rocha

O deputado do PSD Duarte Marques escreveu uma carta à chanceler alemã, Angela Merkel, em que critica a alegada "desresponsabilização da Alemanha" pela austeridade aplicada na União Europeia, considerando-a "um oportunismo político".

Nesta carta, que deverá ser enviada na sexta-feira, a que a agência Lusa teve acesso, Duarte Marques faz alusão à notícia PÚBLICO com o título "Berlim demarca-se da austeridade e acusa Barroso de incompetência", que refere responsáveis alemães, não identificados.

"Com o objectivo de apurar a verdade, não podia deixar de lhe enviar esta carta, cumprindo um dever de consciência, aguardando que tal conteúdo não corresponda à realidade", começa por afirmar o ex-presidente da Juventude Social Democrata (JSD).

"Esta recente desresponsabilização da Alemanha sobre o 'património' da estratégia de austeridade que graça na Europa parece-me de um oportunismo político pouco habitual para as tradições alemãs e, sobretudo, pouco digno para um país que, pela mão de Helmut Kohl, nunca sofreu de falta de coragem para assumir o interesse europeu e alemão - mesmo contra a opinião pública alemã. Kohl era de uma casta de estadistas que hoje escasseia na Europa", acrescenta, apesar da dúvida colocada acima.

Quanto à actuação do presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, Duarte Marques faz questão de recordar que alguns Estados-membros, "incluindo o dueto liderante franco-alemão", votaram "contra a iniciativa que a Comissão Europeia entendeu desenvolver para reforçar a regulação dos mercados financeiros, alguns anos antes desta crise se iniciar".

Se tivessem defendido essa proposta da Comissão Europeia, talvez se tivesse "evitado toda esta crise", sustenta, em defesa de Barroso.

Ao longo desta carta, o deputado do PSD assinala a influência da Alemanha na política da União Europeia.

"Esta política de austeridade, a qual em parte percebo, tem o acento tónico germânico e foi também inspirada por decisões do seu Governo", diz. "Eu nunca estive numa reunião do Conselho Europeu que aprovou medidas de austeridade, mas sei que o ministro das Finanças alemão esteve lá. Se não concordava devia ter votado contra", reforça.

O ex-presidente da JSD refere que há dois anos assistiu presencialmente às críticas que Merkel fez ao presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, então na oposição, agora primeiro-ministro de Portugal, pelo chumbo do chamado "PEC 4" do Governo do PS.

"Na altura, não fiquei calado e defendi a posição do meu partido, mas, sobretudo, o interesse de Portugal, lamentando ainda que as posições de alguns Estados-Membros (não apenas o alemão), fossem tomadas em função da aproximação de eleições. Hoje volto a fazê-lo, para salientar que, entretanto, Portugal superou com sucesso sete avaliações do cumprimento do memorando de entendimento; para sublinhar também que a estratégia europeia dos últimos anos foi influenciada pelas posições do ministro das Finanças alemão e por Vossa Excelência", escreve.

Depois de ressalvar que não é dos que "consideram a Alemanha responsável pela crise na Europa", o social-democrata declara: "Penso até que, se mais países seguissem o exemplo alemão, não estaríamos na difícil situação em que nos encontramos. Mas, com franqueza, não posso deixar de censurar esta desresponsabilização, bem semelhante à postura do Partido Socialista em Portugal, colocando-se à margem das difíceis decisões que são necessárias para recuperar o caminho do crescimento e da solidez das contas públicas, mesmo tendo responsabilidades na crise que vivemos".

Duarte Marques critica ainda a "lógica das cimeiras bilaterais, entretanto tornadas públicas, entre a Alemanha e França ou, oportunamente, com a Itália", considerando que isso tem contribuído para "o enfraquecimento da União Europeia, e do próprio Conselho".

No final do texto, o deputado do PSD apela a um reforço do diálogo institucional, da liderança, da cooperação e da solidariedade entre Estados-membros.

"Conto, para isso - como sempre contei -, com uma Alemanha forte, pujante e que não deixe de dar os bons exemplos a que nos habituou", conclui.

Sugerir correcção
Comentar