Manuel Pizarro: "A divisão do campo dos meus adversários favorece-me objectivamente"

Candidato do PS ao Porto apresenta-se este sábado.

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Manuel Pizarro já admitiu que o PS pode não apresentar candidatura às autárquicas, apoiando antes Rui Moreira Adriano Miranda

O candidato do PS ao Porto recusa um programa baseado em obras e promete conservar algumas medidas de Rui Rio, embora o censure pela falta de ambição e pelo isolamento face à cidade. Hoje, Pizarro apresenta-se ao Porto.

Manuel Pizarro, 49 anos, médico, deputado socialista e ex-secretário de Estado da Saúde apresenta este sábado a sua candidatura à Câmara do Porto. Acredita que uma “nova forma de fazer política” baseada no contacto com os cidadãos nos “princípios da esquerda”.

PÚBLICO: Não receia que o protagonismo que as candidaturas de Rui Moreira e de Luís Filipe Menezes têm manifestado o deixem numa posição subalterna na campanha?
Manuel Pizarro: Esse risco não existe nem vai existir. O protagonismo neste caso significa apenas um protagonismo mediático. A verdade é que nos últimos quatro meses contactei com mais de 15 mil cidadãos do Porto através de uma campanha, Fazer Ouvir o Porto, e dei uma oportunidade a que essas pessoas se fizessem ouvir. Isto, no fundo, é a minha visão de uma nova forma de fazer política que não passa por produzir eventos mais ou menos mediatizáveis mas que na maior parte dos casos acabam por não tocar na disponibilidade para as pessoas participarem na vida política.

Esses eventos não reflectem, em maior ou menor grau, o debate público que está a acontecer na cidade?
Estamos muito a tempo de intervir nesse debate público. Eu fiz uma opção consciente. Primeiro é a auscultação dos cidadãos e instituições do Porto e depois uma apresentação de propostas. Nós estamos a cinco meses das eleições, é tempo mais do que suficiente para que apresente as minhas propostas à cidade e eventualmente recuperar esse espaço mediatizado que também é necessário num processo eleitoral.

A sua estratégia é deixar que o PSD se digladie numa luta entre duas facções?
Não, de maneira nenhuma. A forma como estou a organizar a minha campanha foi anunciada antes do anúncio das divisões políticas na área da Direita.

Mas ficou contente quando elas aconteceram?
Evidentemente que a divisão do campo dos meus adversários me favorece objectivamente. Mas não é com isso que eu estou a contar para ganhar as eleições. Eu estou a contar com um apoio muito significativo dos cidadãos do Porto.

Não teme que uma boa parte do eleitorado natural do PS se sinta atraída pela candidatura independente de Rui Moreira?
Eles não se sentem nada atraídos e não preciso de fazer nenhum esforço nessa matéria. A esmagadora maioria dos cidadãos do Porto compreende qual é o espaço político dessa candidatura – que disputa o espaço do centro-direita, do PSD e do CDS. A candidatura do PS é uma candidatura alternativa e que coloca o foco da sua intervenção em domínios distintos que tem a ver com as pessoas com a coesão social e com a oportunidade de igualdades.

Está surpreendido com a lista de apoiantes que Rui Moreira?
É uma lista tem muitos cidadãos muito importantes para a cidade. Mas a lista dos apoiantes de Rui Moreira confirma que a sua candidatura se situa no espaço de centro-direita. São concidadãos que noutros momentos de afirmação política, com raras excepções, apoiaram o CDS ou o PSD.

O facto de a sua candidatura ter suscitado divisões internas no PS-Porto deixou feridas no partido?
O que aconteceu no PS contrasta muito favoravelmente, primeiro, com o que aconteceu no PSD e com a própria história do PS na escolha dos candidatos ao Porto. Houve uma ou outra opinião dissonante…

… incluindo a do próprio presidente da Federação Distrital…
… o presidente da Distrital teve gerir uma ou outra sensibilidade. Mas eu senti sempre o apoio da distrital e da esmagadora maioria dos militantes e apoiantes do PS. A notícia é mesmo esta: ao contrário do que aconteceu no passado, o PS do Porto está unido em torno da minha candidatura.

O facto de não ser uma personalidade com grande reconhecimento público é apontado como um dos óbices da sua candidatura. Isso preocupa-o?
É verdade que à partida eu tenho, ou tinha, um nível de reconhecimento público inferior. Mas esse é o preço que tem de se pagar se se quiser renovar a vida pública e a vida política. O critério de que as escolhas de candidatos a cargos políticos tem de ser feito com pessoas que já tenham reconhecimento público conduzirá a que fiquem sempre os mesmos. Eu acho que tenho um nível de reconhecimento suficiente. Sou um cidadão do Porto, vivi toda a minha vida na cidade, estudei nas escolas públicas do Porto, fui médico em duas grandes instituições, tenho uma vida política com algum percurso na freguesia de Ramalde, na Câmara do Porto, no Parlamento ou no Governo. Sou suficientemente conhecido para que as pessoas saibam que sempre estive empenhado nas causas da cidade e da região.

O que é para é para si melhor, numa análise simplista: fazer obra e deixar divida como Menezes ou não fazer obra e não deixar obra como Rui Rio?
Felizmente tenho uma visão do mundo muito menos maniqueísta do que essa. Temos de fazer política rompendo com esse paradigma segundo o qual a qualidade da acção política ao nível autárquico se mede pelo volume de obras realizado. Eu estou concentrado em saber se as obras correspondem a necessidades efectivas das pessoas ou se, pelo contrário, sendo obras bonitas mas que têm pouco efeito na qualidade de vida das pessoas. Pergunto se todo o gigantesco autárquico que foi feito em Gaia na última década e meia resultou efectivamente quando nós sabemos que Gaia é o município do país onde há o maior número absoluto de desempregados. E se nós sabemos se os cidadãos de Gaia pagam 50% mais na factura da água do que os cidadãos do Porto – um número indiscutível se atendermos que em causa não está o preço da água mas o custo do saneamento, dos resíduos…

E que avaliação faz à gestão financeira mais sustentada que determinou a quase ausência de obras do lado do Porto?
O que faltou na Câmara do Porto foi uma ambição, mas não sei se essa ambição passava pela realização de obras. Claro que há obras que faltaram e faltam. É preciso reabilitar o mercado do Bolhão, pelo valor que tem para o património, para o turismo, para o potencial da economia do Porto, mas também com o emprego. Muito do que é necessário para recuperar o Porto, enquanto socialmente mais justa e coesa, mas também enquanto uma cidade líder de uma região não passa pela realização de grandes obras públicas: passa pelo investimento no imaterial.

Qual é a sua proposta para o Mercado do Bolhão?
Nós não concordamos com a privatização do Bolhão. Essa experiência já foi feita por esta câmara com muitos maus resultados e estamos convencidos que a privatização conduzirá a um cenário com o qual nós não concordamos, que é o desvirtuar o sentido de um mercado tradicional do Porto. O Bolhão terá sucesso como tal ou estará condenado a definhar se for transformado num shopping no centro da cidade.

A coesão social foi sempre o grande tema das campanhas de Rui Rio. Quais são os seus grandes temas?
A questão essencial tem a ver com o domínio dos princípios: em primeiro lugar, as pessoas. Não são as infraestruturas. E os problemas das pessoas resumem-se em quatro ou cinco questões muito impressionantes: primeiro o desemprego, que na cidade regista uma taxa acima dos 19,2%; segundo a pobreza e a desigualdade social – 13 ou 14 mil pessoas do Porto sobrevivem graças ao Rendimento Social de Inserção; terceiro o problema do envelhecimento e do isolamento das pessoas mais idosas – 55 mil pessoas do Porto têm mais de 65 anos e dessas 33 mil vivem sozinhas; e depois, claro, um problema dramático que é a desesperança da juventude.

A questão da economia e do emprego é essencial? Como é que uma câmara pode promover o emprego?
Criando condições para atrair as empresas, para fixar as fixar e para aumentar as sinergias com outros agentes como as universidades ou os politécnicos…

Um exemplo?
O matadouro municipal de São Roque, um edifício fantástico, muito bonito, que é relativamente barato recuperar, quando for presidente da Câmara será transformado num centro empresarial que permitirá acolher empresas. Por exemplo as empresas que já estão a sair dos centros de incubação da Universidade do Porto. Temos de ter capacidade de atrair essas empresas.

O grande tema da primeira campanha de Rui Rio, e há quem diga que foi o que lhe deu a vitória, foi o Parque da Cidade e, na última, o Bairro do Aleixo. O que vai fazer com estes dois processos, caso vença as eleições?
O assunto da construção ou não construção no Parque da Cidade está resolvido. Não vou reiniciar esse debate por muitas razões, uma das quais, bem pragmática, é que hoje não há nenhuma apetência pela construção de grandes empreendimentos imobiliários. A marca que eu quero deixar, para além das questões que já referi, tem a ver com as questões de natureza ambiental. Eu concretizarei ao longo do primeiro mandato o alargamento do Parque da Cidade.

E o que vai acontecer ao Bairro do Aleixo?
Dependerá de como estiver o projecto. Eu nunca teria tomado a decisão de demolir as torres do Aleixo. O grande argumento para a demolição é combater o tráfico de droga e a toxicodependência, mas devo dizer que escolheram o método errado. O tráfico de droga combate-se com polícia, com segurança e com redução da procura, isto é, tratando e acompanhando os toxicodependentes. Com tristeza, devo dizer que os traficantes já resolveram o problema, já arranjaram um plano B. O doutor Gaspar não tinha plano B para o chumbo do Tribunal Constitucional, mas os traficantes têm um plano B. Já alugaram uma parte das casinhas da Rua da Arrábida e instalaram-se numa antiga fábrica abandonada em frente ao Bairro Pinheiro Torres.

Como classifica então o método escolhido pela câmara, é essencialmente ideológico? Revela falta de sensibilidade social?
A Câmara do Porto não teve coragem para combater o tráfico de droga no Bairro do Aleixo. Admito que este não é um combate fácil em nenhuma parte do mundo e exige uma enorme articulação entre a câmara, as forças de segurança, as estruturas de saúde e sociais. Ora, articulação com as outras entidades é, seguramente, algo que faltou nestes anos de governação do PSD no Porto. A falta desta articulação fez com que, a certa altura, a solução mais simples parecesse pura e simplesmente demolir o bairro. Mas demolir o bairro sem o outro esforço de articulação vai apenas fazer com que o problema vá infernizar a vida de outras zonas da cidade, que é o que já está a acontecer no bairro do Dr. Nuno Pinheiro Torres, onde há um supermercado de droga que funciona todos os dias sem que, aparentemente, a autarquia se ocupe com esse facto.

Ainda assim, acredita que o combate ao tráfico de droga foi a motivação para a demolição do Aleixo. Não partilha das críticas mais à esquerda que dizem que se esse facto foi só uma desculpa para permitir um negócio imobiliário?
Tudo somado o negócio imobiliário não é assim tão vantajoso, nomeadamente para a câmara.

Está uma vez mais a ser complacente com a autarquia.
Não, o que lamento é que o que foi prometido com a constituição deste fundo imobiliário é que o promotor privado iria construir e recuperar na cidade cerca de 260 fogos em que as pessoas do Aleixo pudessem viver. Desconheço que isso esteja a ser feito.

Rui Rio diz que está a andar e que vai ficar pronto.
Sim, mas há um problema. Uma parte dessas casas devia ter sido entregues à câmara em 2010, umas em 2011, muitas em 2012. Devemos ter o mesmo grau de exigência nos contratos com os parceiros privados que temos, por exemplo, com os moradores dos bairros municipais. E, olhe, aí está um ponto de desencontro total meu com a câmara. A câmara tem uma voz muito forte para com as pessoas com condições sociais difíceis que dependem do município e, pelos vistos, tem uma complacência muito grande com os parceiros privados do fundo imobiliário e porquê? Porque a câmara, metendo-se neste assunto do fundo imobiliário comprometeu a sua própria independência e está ela própria muito dependente da boa vontade do parceiro privado do fundo, que até já mudou entretanto.

O que reserva para as corridas da Boavista?
Eu acho que a minha divergência actual com a câmara municipal é o que ela não fez, não é muito o que fez. Eu devo dizer que não simpatizo muito com o desporto automóvel... Acho até que o desporto automóvel dá o sinal errado à sociedade porque, quanto mais não seja, induz o aumento da pegada de carbono, da poluição. Mas reconheço as vantagens económicas para a cidade da realização das corridas da Boavista, que atraem muitas dezenas de milhar de pessoas.

Vai ficar na câmara como vereador se perder as eleições ou como, fez a anterior candidata socialista, Elisa Ferreira, diz já que não fica?
Eu respeito sempre a votação dos eleitores. Tenho muita confiança que serei eleito presidente da câmara, mas aceitarei o veredicto dos eleitores. Acho que é possível servir a cidade sendo vereador da oposição. Aliás, algo que espero que os meus adversários também façam – que aceitem o veredicto e se coloquem na posição que os eleitores do Porto queiram colocá-los. Eu espero que a minha posição seja a de presidente da câmara, mas irei servir a cidade em qualquer situação.

No conflito em torno da Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU) está mais perto da tese de má gestão do accionista Estado ou do discurso de Rui Rio e de Rui Moreira que defendem que os gastos realizados se justificam pelo interesse público?
Neste processo em concreto, o Governo não tem razão e tem até o descaramento monumental de se comportar como uma espécie de comissão de vendetta contra a posição do doutor Rui Rio em relação à escolha do candidato do PSD no Porto. É isso que está na agenda dos governantes que colocam esse conflito interno do PSD à frente do que é o interesse nacional e o interesse da cidade.

Está a sugerir que há, até certo ponto, uma mãozinha de um dos candidatos à Câmara do Porto a influenciar o Governo?
Se tenho visto bem os sinais, essa mãozinha nem está muito escondida. Os arbustos atrás dos quais está escondida são relativamente baixos.

Para que fique claro para os leitores, está a referir-se ao doutor Luís Filipe Menezes?
Se não está a influenciar parece que está a influenciar. E como é conhecido em política, o que parece é muito relevante e eu não vi desse lado nenhuma iniciativa para se desligar daquilo que é o vergonhoso comportamento do Governo em relação ao Porto e à câmara. Tenho muitas coisas que me dividem do doutor Rui Rio, e até tenho uma divisão profunda em relação à sua estratégia da reabilitação urbana, porque ela tem sido feita contra os moradores que resistiram no centro histórico. Mas é evidente que quem gostar do Porto – e desse gostar faz parte sentir respeito pela cidade e pelas suas instituições –, tem de estar do lado da câmara neste conflito com o Governo.

Gosta da reabilitação do quarteirão das Cardosas (em frente à fachada da Câmara Municipal, no coração da cidade)?
Do ponto de vista económico acho que o projecto correu bem. A partir do momento em que temos um investimento público de cerca de seis milhões de euros que gera um investimento privado de cerca de 90 milhões de euros, nas circunstâncias económicas actuais, temos de aplaudir. Questão diferente é a minha opinião estética sobre a forma como foi recuperado. Na área da reabilitação precisamos de ter um enorme respeito pelo património, sob pena de podermos desvirtuar aquilo que é a imagem da cidade do Porto. O modelo das Cardosas, de facto, desvirtua um pouco o que é o carácter arquitectónico visual da cidade do Porto, que eu gostaria de ver preservado.

Há uns tempos, quando tentava fazer uma coligação à esquerda, ia fazendo alguns elogios à gestão financeira de Rui Rio. Até que ponto é que esse tipo de discurso comprometeu essa sua ambição?
Acho que não teve nenhuma influência. As razões que o PCP invocou foram de âmbito nacional. O PCP faz uma divisão, que considero muito limitadora, de partidos que estiveram comprometidos com o acordo com a troika e os que não estiveram, e desse ponto de vista considera inadequado fazer qualquer coligação com o PS.

O que quer dizer quando afirma que é preciso democratizar a gestão política da câmara do Porto?
Acho que a maior parte dos cidadãos do Porto não consegue ter uma opinião fundamentada sobre a generalidade das coisas que são discutidas na câmara. Temos de fazer política de forma muito diferente. A minha intenção é, por exemplo, divulgar com cerca de um mês de antecedência, no site da câmara, os dossiers que serão discutidos nas reuniões do município, para que as pessoas possam ter acesso aos documentos que vão ser discutidos na câmara e à sustentação técnica de cada uma das opções propostas e possam pronunciar-se. Quero também valorizar as reuniões da assembleia municipal, que tem de ter uma agenda bem conhecida da cidade, quero institucionalizar o hábito de manter um diálogo aberto com os cidadãos da cidade, individuais e pessoas colectivas.

Houve défice de democracia interna na gestão de Rui Rio?
Há uma forma de conduzir a cidade que é, deste ponto de vista, muito autocrática. É formalmente democrática, mas há um enorme défice de participação das pessoas. Não concebo a ideia de apresentar propostas para a cidade sem que a cidade tenha tido a possibilidade de ter uma posição activa, até porque eu não tenho a convicção de que possua o monopólio da verdade absoluta. Não tenho qualquer problema com a minha capacidade de decisão, mas isso não me faz supor que eu sou o detentor de todas as boas decisões. Vejo muitas virtudes no diálogo, sobretudo na auscultação das pessoas.

Se for eleito presidente e se no próximo ano o FC do Porto for campeão vai recebê-lo na câmara?
Não há nenhuma dúvida. Acho que o mundo da política e o mundo do futebol devem estar separado, mas nessa matéria não sinto nenhuma limitação e não tenho nenhum preconceito. Sou portista, mas ainda que não fosse, acho que o FC do Porto é uma grande instituição da qual a cidade se deve orgulhar.

E no plano nacional?
O PS a nível nacional que está a fazer aquilo que deve fazer. Numa primeira fase, o PS mostrou absoluta abertura para uma posição o mais consensual possível que permitisse resolver os problemas nacionais. O que foi visível ao longo destes quase dois anos foi que essa posição consensual não interessava à agenda ideológica do actual Governo que é uma agenda ultraliberal.
Em função dessa agenda ultraliberal o Governo não queria consenso nenhum com o PS. Agora encurralado por uma situação económica financeira, social e politica que é completamente dramática, o Governo esboça pretender um acordo com o PS, mas é claro que esse consenso é em torno de propostas que são inaceitáveis para quem tem uma visão de uma sociedade inclusiva como é a do PS e que não conduz a nenhuma solução. 

António Costa fez mal em não ter avançado para a liderança do PS, como muitos socialistas ambicionavam?
António Costa privilegiou o valor da unidade dos socialistas. Numa altura em que o país vive uma crise dramática é preciso que o PS apareça como um referencial de estabilidade e de unidade e percebo que António Costa tenha valorizado essa componente como sendo essencial à afirmação de uma alternativa política do PS.

O líder do PS tem afirmado que o partido só volta ao Governo através de eleições. Concorda?
Parece-me absolutamente claro. Não imagino que o PS possa voltar ao Governo sem haver eleições que clarifiquem quais sãos as propostas alternativas dos diferentes dos partidos. E quero reforçar este ponto: há propostas alternativas de governar e de atingir os mesmos resultados.

No último Congresso do PS, António José Seguro pediu uma maioria absoluta, mas disse que mesmo com maioria absoluta, fará coligação governativa. Ficou surpreendido?
Assumindo as suas responsabilidades, o PS tem que pedir uma maioria aos portugueses. O Governo tem de ter força para implementar uma linha de reforma que não deixará de ter custos e dificuldades e de atingir alguns interesses alguns dos quais legítimos. As condições concretas da vida política portuguesa fazem com que seja muito difícil um entendimento à esquerda para as questões de governação nacional, porque os partidos à esquerda do PS têm uma maneira muito distinta do PS sobre a economia, sobre a Europa, sobre o mundo.

Seguro faz bem quando diz que o Governo não contará com o PS para um corte de 4,8 mil milhões e que face às novas medidas de austeridade não há condições para haver diálogo?
Essas medidas representam uma declaração de guerra contra o Estado social contra os funcionários públicos, contra reformados e pensionistas. São medidas absolutamente inaceitáveis que rompem com o contrato social na qual se funde a sociedade portuguesa.

E qual é a alternativa para Portugal resolver os compromissos internacionais em relação ao défice?
Não há forma de resolver a situação do país que não passe, entre outros aspectos, pela renegociação da forma como vamos pagar a dívida.

Está a falar do perdão da dívida...
Estou a falar da dilatação do prazo de pagamento e renegociação dos juros em que essa dívida é paga. Não podemos continuar a tomar medidas que tenham como consequência a drástica redução o consumo interno, porque se continuarmos a tomar medidas que tenham esse efeito a degradação da situação económica do país vai aprofundar-se ainda mais a quebra das receitas do Estado ocorre de tal forma que a diminuição da despesa não chega a ser compensada pela quebra das receitas e temo que este pacote de 4,8 mil milhões tenha esse efeito, o efeito sobre a receita do Estado vai ser tão dramático que chegamos ao fim com o mesmo défice, como aliás, aconteceu com a brutal austeridade imposta ao país no final de 2011 com o corte de metade do subsídio de Natal, agravou-se brutalmente em 2012 com a quebra de receitas dos funcionários públicos e das anilais e o que se pretende fazer para o futuro é continuar com essa linha. Portugal não poder cair na ingenuidade que vai fazer valer o seu ponto de vista, apresentando-se como um bom aluno de uma receita falhada.

O primeiro-ministro já disse que não se demitirá caso o PSD perca as eleições, evitando o “pântano autárquico” que aconteceu com António Guterres... Justifica-se uma leitura nacional das eleições locais?
Estou absolutamente convencido que o resultado que PS vai ter no Porto, vencendo a câmara, vai ter consequências profundas na situação política nacional.

Espera melhorar a votação do PS em 2009?
Tenho ambição de fazer crescer a votação do PS e de alcançar o maior número de votos. A percentagem suficiente para ganhar as eleições depende do arranjo das outras forças políticas e desse ponto de vista o fortalecimento da candidatura de Rui Moreira que divide o espaço político do centro direita, pode ajudar que a votação habitual do PS seja suficiente para a nossa vitória. De resto, na primeira vitória de Fernando Gomes em 1989, o PS ficou muito longe de ter a maioria absoluta.

Vai à Feira do Livro de Lisboa?
Gostaria muito de ir à Feira do Livro do Porto e espero participar na cerimónia de inauguração da Feira do Livro do Porto no ano 2014 na qualidade de presidente da câmara.

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