Antigo chefe militar da Guatemala rejeita acusação de genocídio

Ex-general Ríos Montt, de 86 anos, é o primeiro chefe militar da América Latina a responder em tribunal por crimes contra a humanidade.

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Ríos Montt responde em tribunal por crimes contra a humanidade Reuters
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Mulheres da etnia ixil, sobreviventes da guerra civil Reuters
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Durante o julgamento, o ex-governante lembrou a sua idade Reuters
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Ríos Montt é o primeiro ex-governante da América Latina a ser formalmente acusado no próprio país Reuters
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O ex-ditator esteve no governo durante 17 meses, os mais sangrentos Reuters

O ex-general Efraín Ríos Montt, que chefiou um governo militar na Guatemala na década de 1980, e está acusado de genocídio e crimes de guerra no seu país, declarou a sua inocência em tribunal, insistindo não ter tido nenhuma responsabilidade no massacre de indígenas de etnia ixil durante a guerra civil que assolou o país durante 36 anos.

“Nunca autorizei, nunca assinei, nunca propus e nunca ordenei qualquer atentado contra uma raça, uma etnia ou uma religião. Nunca o fiz”, declarou Ríos Montt, que aos 86 anos é o primeiro chefe militar a ser formalmente acusado por autoridades nacionais de crimes contra a humanidade e julgado no seu próprio país.

“De tudo o que foi dito em tribunal, não foi oferecido uma única prova que evidencie a minha participação [em massacres]”, sublinhou. Estima-se que cerca de 200 mil pessoas tenham morrido na guerra civil da Guatemala entre 1960 e 1996, a maioria indígenas como os ixil, uma das mais pequenas comunidades maias que se mantém na região de El Quiche, no norte do país.

A acusação chamou dezenas de testemunhas para demonstrar a existência de uma cadeia de comando e hierarquia, e um plano para eliminar os grupos indígenas que os militares suspeitavam estar a colaborar com os rebeldes.

A defesa contrapôs que as acções do Exército não eram do conhecimento do ex-general, cuja responsabilidade como chefe do Governo era garantir a integridade territorial da Guatemala e não gerir a guerra civil.

O relatório de uma comissão de investigação da Organização das Nações Unidas concluiu em 1994 que mais de 90% dos crimes ocorridos durante a guerra civil da Guatemala foram perpetrados pelo Exército ou as forças paramilitares que o apoiavam. A justiça guatemalteca já condenou vários dirigentes militares e da polícia a penas de prisão.

Ríos Montt, que liderou o governo militar durante 17 meses, entre 1982 e 1983 (o período mais sangrento da guerra civil), foi acusado da morte de 1771 indígenas pela Procuradoria da Guatemala; da expulsão pela violência de 29 mil pessoas e ainda de tortura e crimes sexuais. Além do ex-general, foi também imputado o responsável pelos serviços secretos do seu Governo, José Mauricio Rodríguez – os procuradores pediram ao colectivo de três juízes a aplicação de uma pena de 75 anos de prisão.

Inicialmente, o antigo governante – que chegou ao poder num golpe de Estado e se manteve na política até 2012, altura em que se reformou do Parlamento, perdendo a imunidade – recusou responder ao tribunal. Mas no último dia de apresentação dos argumentos da defesa, falou durante quase uma hora, por vezes aos gritos, referindo-se frequentemente à sua idade avançada: “Perdoem-me mas já sou bisavô”.
 
 

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