Autor da “Terceira Via”, Anthony Giddens, nunca viu o mundo “tão opaco”

Sociólogo britânico que influenciou líderes como Tony Blair, na década de 1990, alerta para aumento do populismo e extremismo.

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Anthony Giddens alerta: "A democracia está com problemas" Rui Gaudêncio

O sociólogo britânico Anthony Giddens afirmou esta sexta-feira nas Conferências do Estoril que nunca viu o mundo tão “opaco” e alertou para o aumento do populismo e do extremismo que minam as democracias a nível global.

“Nunca encontrei o mundo tão opaco como hoje”, disse Giddens na primeira sessão do último dia das Conferências do Estoril sobre “Globalização e Desafios para a Democracia”, em que participa o ex-presidente da República, Jorge Sampaio.

Giddens, autor da Terceira Via (The Third Way: The Renewal of Social Democracy – 1998), linha de pensamento que influenciou líderes de esquerda como o trabalhista britânico Tony Blair no final dos anos 1990, não se referiu à teoria sobre o capitalismo e o Estado Social mas afirmou que para os economistas, actualmente, a única certeza que existe é a de “que as coisas vão ser diferentes do que foram há 20 ou 30 anos”.

O sociólogo e antigo director da London School of Economics referiu que nem os economistas do Fundo Monetário Internacional sabem o que vai acontecer “no mundo económico”, devido às transformações observadas a nível global que influenciam a vida dos cidadãos.

“O que está a acontecer na economia também está a acontecer na democracia, estamos a entrar numa fase nova”, disse Giddens.

Para o sociólogo, a democracia “vem por ondas” e se a “quarta onda” passou por África e pela América do Sul, é possível, afirmou, que a “quinta onda” tenha sido a Primavera Árabe que “varreu o Norte de África”, mas sublinhou as crises da democracia não apenas nos locais mais remotos do planeta.

“A democracia está com problemas em todo o mundo e também nas áreas em que costumavam ser o ‘coração da democracia’: Estados Unidos e Europa”, afirmou Giddens referindo-se ao “extremismo e populismo”.

Há “divisões importantes” no continente com o aumento dos partidos populistas, acrescentou Giddens que, contrariando o tópico da conferência do Estoril sobre “soluções locais para problemas globais”, defendeu que são precisas soluções globais para as questões globais.

“Se olharmos com atenção, vemos que o que está a acontecer na Europa está a acontecer por todo o mundo”, disse Giddens, aconselhando os “europeus e os ocidentais” a deixarem de ser “arrogantes” sobre as questões da democracia.

“É preciso uma nova transparência, os paraísos fiscais devem desaparecer", defendeu, afirmando acreditar que "o mundo vai fazer alguma coisa contra os paraísos fiscais".

“É preciso democratizar a democracia e isto significa eliminar a burocracia e combater a corrupção. Há políticos, polícias, jornalista e banqueiros que são corruptos”, afirmou, referindo-se às novas tecnologias como ferramenta de denúncia de problemas que “minam” as democracias.

“Os novos meios de comunicação electrónicos estão por detrás de tudo. É inacreditável, este sistema de comunicações criado pelo homem não tem precedentes, mas uma sociedade altamente tecnológica ainda precisa de instituições clássicas: não há substituto para a Justiça e para o Estado de Direito”, disse ainda Giddens na reflexão sobre o mundo actual que está a ser feita no Estoril.

O sociólogo disse ainda que é um profundo defensor do euro e da União Europeia e que vai lançar em breve um livro sobre o futuro da Europa.

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