Números da derrocada no Bangladesh ultrapassam os 500 mortos

Equipas de resgate suspenderam manobras de salvamento na terça-feira e continuam a ser encontrados corpos nos escombros. Fábricas do país voltaram a funcionar na quinta-feira.

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As equipas continuam a encontrar corpos à medida que removem o que resta do edifício Khurshed Rinku/Reuters

Com as fábricas do Bangladesh de volta à laboração, o número de vítimas mortais da derrocada de um edifício onde funcionavam cinco empresas têxteis, em Daca, continua a subir. O balanço actual já ultrapassou os 500 mortos.

No início da semana as autoridades do país suspenderam oficialmente a busca de sobreviventes, por considerarem que ao fim de seis dias seria impossível resgatar mais pessoas com vida. Foram então levadas para o local máquinas para remover os escombros e desde aí foram resgatados mais 20 corpos, o que faz com que o número de mortos esteja agora nos 501, segundo adianta a BBC na edição online, citando fontes militares.

No edifício que ruiu a 24 de Abril funcionavam cinco fábricas com um número total de pessoas que ainda não foi possível determinar. A lista de desaparecidos conta com cerca de 150 nomes.

Milhares de trabalhadores têm protestado nas ruas desde o acidente, destruindo carros e tentando invadir fábricas. Só na quinta-feira foi possível retomar a produção industrial no país, diz a AFP, após vários apelos à calma por parte da primeira-ministra, que se comprometeu a tomar medidas e a condenar os responsáveis.

Nove detidos
Até ao momento foram detidas nove pessoas, incluindo o dono do edifício. Isto porque na véspera do acidente tinham sido detectadas graves fendas e um técnico que esteve no local recomendou uma evacuação imediata. Mas os alertas foram ignorados.

No domingo, a polícia tinha conseguido deter o proprietário do edifício e antes tinha prendido três donos das fábricas, bem como os engenheiros municipais.

O empresário espanhol David Mayor, director-geral de uma das fábricas, a “Phantom-Tac”, é procurado e encontra-se em paradeiro desconhecido. Mayor e os proprietários de quatro outras sociedades são alvo de um inquérito preliminar por “homicídio por negligência”, crime passível de ser punido com cinco anos de prisão.

As autoridades declararam que os donos das fábricas ignoraram as fendas e obrigaram os trabalhadores a entrar nas instalações. Este acidente voltou a chamar a atenção para as más condições laborais e de segurança dos trabalhadores de empresas têxteis no Bangladesh, que abastecem multinacionais ocidentais. As companhias internacionais que confirmaram a produção em alguma das empresas afectadas foram a irlandesa “Primark”, a espanhola “El Corte Inglés” e Mango, a canadiana “Joe Fresh” e a francesa “Bon Marché”.

O Bangladesh é o país do mundo com os custos de produção mais baixos na indústria têxtil, o que leva empresas de todo o mundo, incluindo da China, a mudar parte da produção para aquele país, de acordo com a organização não-governamental de defesa dos direitos dos trabalhadores têxtis Clean Clothes Campaign (Campanha Roupas Limpas).

Dados da Federação de Trabalhadores do Sector Têxtil do Bangladesh, citados pela Lusa, indicam que nos últimos 15 anos cerca de 600 pessoas morreram e três mil ficaram feridas em acidentes registados em fábricas têxteis (incêndios ou derrocadas) no país.

Em reacção ao acidente, tanto a União Europeia como as Nações Unidas, Canadá e até o Papa Francisco condenaram as condições a que os trabalhadores são sujeitos no país e apelaram ao cumprimento de mais regras de segurança.
 
 

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