Jornalistas da RTP pedem intervenção da ERC na fusão das redacções

Redacção tem grandes reservas sobre a convergência com a rádio e critica alheamento do processo e falta de estudos. Direcção de Informação realça sinergias e nega despedimentos.

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Os jornalistas da RTP vão pedir a intervenção da ERC – Entidade Reguladora para Comunicação Social e do Conselho Deontológico para que esclareçam se a anunciada fusão das redacções da rádio e da televisão de serviço público é legal.

E para perceberem a quem passarão a reportar quando trabalharem em simultâneo para a rádio e a TV, uma vez que apesar da fusão das redacções se manterão independentes as chefias das direcções de Informação, assim como os dois conselhos de redacção.

Nesta terça-feira, em plenário, os jornalistas da televisão mostraram grande cepticismo e reservas em relação à fusão das duas estruturas, receando que isso abra a porta a despedimentos, e lamentaram que o processo seja conduzido apenas ao nível das direcções de Informação e da administração, sem que as redacções tenham sido convidadas a participar.

No plenário estiveram presentes o director de Informação, Paulo Ferreira, e o director-adjunto de Produção, Manuel da Costa, que foram questionados sobre a existência de um estudo prévio sobre a junção das duas redacções. Mas apesar de a RTP estar a ser assessorada há vários meses por uma consultora, esta matéria não foi alvo de qualquer estudo.

Questionado directamente sobre se a fusão irá provocar uma redução de jornalistas, Paulo Ferreira garantiu que não haverá despedimentos na sequência desta reorganização. A rádio pública tem cerca de 110 jornalistas a nível nacional - 60 na sede, em Lisboa -, ao passo que à televisão estão afectos 140 jornalistas em Lisboa e 60 no Porto, além dos correspondentes em Portugal e no estrangeiro. Entre Lisboa e Porto contabilizam-se 50 repórteres de imagens.

Apesar da pouca receptividade por parte dos jornalistas do grupo público de rádio e TV, a “convergência” das duas redacções – como a administração prefere classificar o processo – está para muito breve.

Paulo Ferreira não soube precisar a data, mas prometeu que será dentro de alguns dias ou semanas, contaram ao PÚBLICO elementos da redacção. Além disso, a ordem de serviço que funde as redacções entra em vigor no final da semana. De acordo com a lei, os jornalistas têm até sexta-feira, dia 3, para formalmente manifestarem a sua oposição à ordem de serviço que os obriga a trabalhar em simultâneo para a rádio e para a televisão.

Nos últimos tempos, os jornalistas da RTP têm recebido formação em rádio e os da RDP frequentam formação em televisão.

O director terá afirmado que esta é uma estratégia justificada pelo ganho em “sinergias” e por ser “o futuro” dos grupos de media com diversas plataformas, como é o caso da RTP. Os jornalistas realçaram que o trabalho para a rádio e para a televisão é distinto e cada um tem as suas especificidades, que importa defender.

Também os operadores de imagem levantaram dúvidas sobre uma recente ordem de serviço que permite que sejam requisitados para captar imagens para outras direcções que não a Informação desde que isso não conflitue com o código deontológico do jornalista, o que abre a porta a terem que trabalhar para o entretenimento.

Anteontem também os jornalistas da rádio se reuniram em plenário e decidiram levar a questão da fusão das redacções a referendo, que será feito no próximo dia 8 de Maio.

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