Dos escombros negros do pós-punk nasceu, no final da década de 1970, algo ainda mais negro. É certo que a expressão "gótico", quando aplicada à música, já tivera actualização. Os Doors foram classificados como góticos, uma banda psicadélica como os HP Lovecraft, tendo o nome que tinha, em homenagem ao clássico da literatura fantástica, também o havia sido. Mas essas eram aplicações isoladas da palavra. Não representavam, como hoje, um subcultura.

Atraídos pelo oculto e pelo medievalismo, pelo sentido trágico, excessivo, dos românticos do século XIX e por música que induzisse um certo negrume e que reflectisse uma existência nocturna, subterrânea, a música gótica desenvolve-se a partir de nomes emblemáticos do pós-punk, como os Joy Division, Siouxsie & The Banshees ou Bauhaus e, a partir daí, ramifica-se. Num festival de música gótica, ou num iPod de um gótico, podemos descobrir a violência dos sintetizadores da música industrial, os ritmos tonitruantes do metal ou uma banda folk inspirada em mitos diabólicos da Idade Média. 

Portugal tem um festival dedicado em exclusivo ao gótico, o Entremuralhas, realizado no Castelo de Leiria e que atrai anualmente à cidade público dos quatro cantos do mundo. Leiria torna-se uma cidade pintada a negro, ocupada por uma subcultura para quem a música é "apenas" a componente mais importante de uma afirmação pessoal e estética que não se circunscreve a ela. A edição deste ano realiza-se entre 23 e 25 de Agosto.

O Entremuralhas é um entre os muitos festivais dedicados à música gótica que se realizam anualmente na Europa, com especial incidência no centro do Continente, onde a subcultura mantém uma presença mais forte. Nas Ilhas Britânicas, o berço do género, existe desde 1994 o Whitby Gothic Festival. O seu sucesso é tal que, quatro anos depois, passou a realizar-se duas vezes por ano. A fotogaleria acima mostra o que por lá se passou na primeira edição deste ano, que contou com bandas como os Voltaire, Clan Of Xymox, Skeletal Family ou Zombina & The Skeletons. Nestas fotos, porém, olhamos para fora do palco. É um outro espectáculo.