Polícia do Bangladesh anuncia detenção de proprietário do Rana Plaza

Mohammed Sohel Rana foi capturado quando tentava fugir para a Índia. Derrocada do edifício fez pelo menos 372 mortos, mas continuam desaparecidas 900 pessoas.

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Já forram encontrados 372 corpos, mas 900 pessoas continuam desaparecidas Munir uz ZAMAN/AFP

As autoridades do Bangladesh anunciaram a detenção do proprietário do edifício que ruiu na semana passada, onde operavam vária fábricas têxteis, e que provocou a morte de pelo menos 372 pessoas.

Mohammed Sohel Rana, um dos dirigentes da juventude partidária da Liga Awami, no poder, foi detido pelo Batalhão de Intervenção Rápida do país quando tentava fugir para a Índia através da cidade de Benapole.

O anúncio da detenção foi feito pelo chefe da polícia de Daca, Habibur Rahman, uma informação confirmada pouco depois por um responsável governamental da capital, Jahangir Kabir Nanak. O proprietário do Rana Plaza – onde trabalhavam mais de 3000 pessoas, a maioria operários de fábricas têxteis que produzem roupas para grandes marcas internacionais – foi transportado de helicóptero para Daca.

A derrocada do edifício, na passada quarta-feira, já fez 372 mortos, mas as autoridades anunciaram que o número final pode ser muito superior. Entre as mais de 3000 pessoas que estavam no Rana Plaza no momento do colapso, cerca de 900 continuam desaparecidas.

"As hipóteses de encontrarmos pessoas com vida estão a diminuir, por isso temos de acelerar as operações de resgate para salvar mais uma vida que seja", disse à Reuters o major-general Chowdhury Hassan Sohrawardi, coordenador das actividades no terreno.

As autoridades governamentais dizem que o proprietário do edifício Rana Plaza (localizado no subúrbio de Savar, a 30 quilómetros de Daca) não tinha as licenças necessárias para ter sido construído. Além disso, o edifício de oito pisos foi construído em solo instável e os proprietários das fábricas, do centro comercial e da instituição bancária que lá operavam tinham recebido instruções para não abrirem as portas um dia antes do desastre, devido à detecção de fissuras na estrutura.

"Savar não é uma zona industrial, por isso não poderia ter sido construída nenhuma fábrica no Rana Plaza", disse Emdadul Islam, engenheiro-chefe da autoridade responsável pela verificação das condições de trabalho. O mesmo responsável disse que o proprietário do imóvel, Mohammed Sohel Rana, obteve uma licença de construção para um edifício de cinco andares emitida por uma entidade local sem autoridade para fazê-lo. Depois disso, foram construídos mais três andares sem qualquer autorização.

Para além da detenção do proprietário do edifício, anunciada este domingo, já foram detidos os donos de duas fábricas e dois engenheiros. Um responsável por outra das fábricas têxteis entregou-se às autoridades e os media do Bangladesh avançam que a mãe do proprietário morreu no sábado de ataque cardíaco. Também este domingo foi noticiado que um industrial espanhol, co-proprietário de uma das confecções do prédio, está entre os principais suspeitos na investigação.

A derrocada do Rana Plaza deu origem a violentos protestos nas ruas da capital e nos arredores, com centenas de milhares de pessoas a exigirem a detenção dos responsáveis e melhores condições de trabalho – muitos dos salários dos quase quatro milhões de trabalhadores do sector no país, a maioria dos quais mulheres, não ultrapassam os 29 euros por mês e cumprem horários de trabalho que rondam as 14 horas por dia.

O Bangladesh é o segundo maior exportador de vestuário do mundo, logo atrás da China. A indústria é responsável por 80% das exportações do país, o que tem levado cada vez mais à construção desenfreada de edifícios sem autorização legal.

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