Energia que nasce debaixo dos pés e das rodas dos carros

Tecnologia portuguesa aproveita a energia cinética de peões e veículos para produzir energia eléctrica. Primeira instalação vai ser numa passadeira na Covilhã.

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Filipe Casimiro (à direita) e Francisco Duarte já ganharam vários prémios pela tecnologia Wayenergy Rui Soares/Arquivo

Peões que geram energia para abastecer painéis luminosos. Carros que ao travarem alimentam os semáforos. A tecnologia que torna isto possível não é nova mas só agora vai sair do laboratório para uma rua da Covilhã. O ambiente agradece e a autarquia poupa na factura da luz.

A ideia nasceu há cerca de quatro anos nas cabeças de Filipe Casimiro, de 27 anos, e Francisco Duarte, de 29, enquanto acabavam o curso de Engenharia Electromecânica na Universidade da Beira Interior (UBI), naquela cidade do distrito de Castelo Branco.

Desde que decidiram concretizá-la, em 2010, ganharam três prémios pela inovação e criaram uma empresa, a Waydip, para a desenvolver.

A tecnologia, designada Wayenergy, permite converter a energia cinética, associada ao movimento da passagem de pessoas e veículos, em electricidade.

“O conceito de geração de electricidade através da energia do movimento já existia. A tecnologia que permite fazer a conversão é que é nova, fizemos o registo da patente a nível mundial”, afirma Francisco Duarte.

Depois de algum tempo a desenvolver protótipos em laboratório, o sistema vai agora ser testado pela primeira vez em ambiente real na passadeira de acesso ao Hospital Pêro da Covilhã, que fica na principal avenida de entrada na cidade. A experiência começa em Maio.

Junto à passadeira será instalado no passeio o sistema Wayenergy People, que aproveita a electricidade assim gerada com o movimento de peões, para alimentar um painel luminoso de informação. “Quando não há pessoas para atravessar, o painel está desligado”, explica o engenheiro electromecânico.

Sob as lombas que antecedem a passadeira, será instalada a tecnologia Wayenergy Vehicles, para produzir energia com a passagem e travagem dos carros. Esta será utilizada na iluminação dos semáforos.

Vender à rede
O peso é factor determinante: quanto mais pesado for o elemento que passa sobre o piso, mais energia é gerada. Cada placa ou mosaico do sistema tem incorporados pequenos motores que, quando são pressionados, produzem energia, que é acumulada em baterias. A que não for utilizada fica armazenada. “Para já, a energia serve para consumo local mas dentro de dois ou três meses o objectivo é vender à rede eléctrica”, acrescenta Francisco Duarte.

A experiência vai permitir acompanhar o comportamento do sistema, analisar a quantidade de energia produzida e a poupança de CO2 daí resultante, e fazer eventuais ajustes. O teste serve também para a Câmara da Covilhã, parceira neste projecto, apurar o número de veículos que passam na Alameda Pêro da Covilhã.

“Vamos analisar se podemos vir a instalar aquela ferramenta noutros locais e assim diminuir a factura da iluminação pública da cidade”, explica Pedro Farromba, vice-presidente da autarquia.

Se tudo correr bem, os fundadores da Waydip, onde trabalham cinco pessoas, querem conquistar outros mercados com a aplicação do sistema em locais muito frequentados, como centros comerciais, ginásios ou discotecas.

Este nicho está a ser explorado lá fora: por exemplo, em Londres (Reino Unido) e em Roterdão (Holanda) duas discotecas estão desde 2008 a aproveitar a energia gerada pelo movimento dos clientes na pista de dança, equipada com um piso piezoeléctrico, para a transformar em electricidade que alimenta o sistema de som.

A tecnologia valeu vários prémios à Waydip e até o reconhecimento, pela Kauffman Foundation, como uma das 50 start-ups mais promissoras a nível mundial. A empresa, que tem como objectivo a internacionalização, está instalada no Parkurbis - Parque de Ciência e Tecnologia da Covilhã e tem o apoio da UBI.

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