Presidente cipriota anuncia casino e medidas contra a crise

Reformas do mercado de arrendamento e dos apoios sociais são outras propostas avançadas pelo Presidente.

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Yorgos Karahalis/Reuters

Numa entrevista ao maior jornal do país, Nikos Anastasiades anunciou um pacote que inclui alterações fiscais, descontos na electricidade, medidas de apoio social e a criação de um novo casino. A ideia é com este pacote encontrar o caminho da retoma económica e receitas para um Estado depauperado que necessita de um resgate internacional.

A ideia mais polémica parece ser a da criação de uma nova zona de jogo no Sul do país. O principal opositor é a Igreja Ortodoxa, que já se tinha oposto ao alargamento dos casinos ao território da internacionalmente reconhecida República de Chipre, onde vivem os cipriotas gregos. O líder desta igreja, o arcebispo Crisóstomo II, não tem passado ao lado do debate, e até já recomendou ao país que pensasse numa saída da moeda única europeia.

Até agora, os casinos existentes nesta ilha mediterrânica situam-se todos na parte Norte, que corresponde à parte que foi ocupada pela Turquia, em 1974. Embora sem reconhecimento oficial, nesta zona autodenominada como República Turca de Chipre, vivem os cipriotas turcos, sob influência de Ancara.

Ao jornal Fileleftheros, o maior da parte sul do país, o Presidente cipriota disse, segundo a edição deste domingo, que a economia cipriota precisa de se fortalecer urgentemente e para isso precisa de dinheiro. E os jogos de casino, que atraem turistas à parte norte da ilha, podem tornar-se uma importante fonte de receita fiscal.

Em termos de impostos, porém, também há medidas em cima da mesa que prevêem exactamente o contrário, isto é, isenções. No caso, disse o Presidente, aplicáveis às empresas que reinvestirem os seus lucros.

O mercado de trabalho é outra preocupação. Segundo a entrevista, o patronato em Chipre será chamado a negociar um acordo para garantir que 70% da mão de obra nas empresas sejam cipriotas e só os restantes 30% possam ser estrangeiros não comunitários. Segundo estimativas referidas neste domingo pela edição online da revista germânica Spiegel, o maior contingente de não comunitários vem das Filipinas, do Sri Lanka e da Índia. São cerca de 100 mil trabalhadores não comunitários radicados em Chipre.

Desta forma, alega Anastasiades, garante-se emprego ao povo cipriota, que enfrenta momentos particularmente difíceis, agora e no futuro, tendo em conta as contrapartidas que terá de aceitar em troca de um resgate internacional para salvar o Estado de uma bancarrota.

As reformas da lei do arrendamento e dos apoios sociais são outras das medidas em estudo.

A Igreja Ortodoxa de Chipre, que vai ela própria perder 100 milhões de euros com o plano de resgate, está preocupada com a pobreza em que estão a cair muitos cipriotas. O arcebispo Crisóstomo II, líder da igreja cipriota, aproveitou a homilia deste domingo para garantir que a missão dele e da igreja é ajudar os mais necessitados. Prometeu fazer tudo para evitar que o povo passe fome, frisando no entanto que há muitos cipriotas orgulhosos de mais para pedirem ajuda. Prometeu ainda travar um combate pelo emprego e instruiu membros da igreja a ajudar financeiramente as famílias em situações mais graves.

Em troca de um financiamento internacional de 10 mil milhões de euros, garantidos pela troika, Chipre aceitou um conjunto de medidas de austeridade e comprometeu-se a arranjar 5800 milhões de receitas próprias para impedir o colapso financeiro.

As finanças do país foram duramente afectadas pela crise da dívida grega, na qual se investiu muito dinheiro da banca, cujos activos eram oito vezes superiores ao Produto Interno Bruto anual do país, ou seja, da riqueza que gerava por ano.

A medida mais contestada é a introdução de um impostos sobre os depósitos bancários. Algo que pode levar até 60% das poupanças, em contas com mais de 100 mil euros.

Após o anúncio de um acordo nestes termos, os bancos fecharam e só reabriram ná última quinta-feira. A circulação de capitais foi limitada, para evitar uma fuga de dinheiro para o estrangeiro e o levantamento junto dos bancos foi também condicionado ao valor máximo de 300 euros.
 

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