Retrospectiva de uma "das mais famosas artistas desconhecidas do mundo": Yoko Ono

Em 1971, John Lennon disse que Yoko Ono era uma "das mais famosas artistas desconhecidas no mundo". O 80º aniversário da artista serve ao Museu Schirn Kunsthalle Frankfurt para mudar isso.

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Gaby Gerster
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A artista no museu, 2013 Gaby Gerster
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Fotograma de "Fly", 1970 Yoko Ono
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Fotograma de “Film No. 4, Fluxfilm No. 16 (Bottoms)”, 1966 Yoko Ono
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"Morning Beams / Riverbed", 1996 Oded Lobl
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"Sky Piece to Jesus Christ", 2013 Bernd Kammerer
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A exposição em Frankfurt Norbert Miguletz
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A exposição em Frankfurt Norbert Miguletz
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"Bed-In for Peace", 1969 Yoko Ono
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"Season of Glass", 1981 Yoko Ono
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"Cut Piece", 1965 Minoru Niizuma
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"Ceiling Painting", 1966 Yoko Ono
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Action Painting, 2013 Bernd Kammerer
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Uma obra que "tende em direcção ao imaterial" Norbert Miguletz

O Museu Schirn Kunsthalle Frankfurt (Schirn), na Alemanha, apresenta uma retrospectiva extensa dedicada a Yoko Ono – Yoko Ono: Half-A-Wind, A Retrospective -, para comemorar o 80º aniversário da artista.

É uma selecção representativa dos seus trabalhos nos últimos 60 anos: até 12 de Maio, uma "pesquisa significativa do universo multifacetado desta artista extraordinária, que é considerada uma pioneira dos inícios do conceptualismo, do cinema e da performance, assim como uma figura chave no mundo da música, no movimento de paz e feminismo, e que continua a desempenhar um papel influente nos desenvolvimentos actuais da arte", lê-se em comunicado.

Ingrid Pfeiffer, curadora, explica que a retrospectiva se debruça “particularmente sobre os trabalhos de Ono dos anos 1960 e 1970, incluindo a sua influência no [movimento] Fluxus, arte conceptual, performance, ambiente, cinema, música, o trabalho em prol da paz e o seu papel no lançamento dessas ideias inovadoras". Entre os 200 objectos, projecções de filmes, instalações, fotografias e textos apresentados, destaca Instructions for Paintings (1961-1962), a performance Cut Piece (1964) ou o livro Grapefruit (1964) como trabalhos que "solidificaram a sua reputação" e lhe granjearam uma posição influente na vanguarda norte-americana e japonesa.

"Yoko Ono é uma figura única, senão mesmo mítica, não apenas no mundo da arte, mas também no campo da música e nos movimentos feministas e de paz. É conhecida por quase todos, mas apenas um pequeno número de pessoas conhecem a obra artística marcante que criou. O 80º aniversário de Yoko Ono é a oportunidade ideal para mudar isso", notou o director do museu, Max Hollein, no comunicado de imprensa.

Ingrid Pfeiffer sublinhou a dificuldade que foi tornar acessível ao público uma obra que "tende em direcção ao imaterial" e que tem como "substância" não tanto um "conjunto de objectos e instalações" mas antes um "grau significativo de ideias e textos."

Yoko nasceu em Tóquio, a 18 de Fevereiro de 1933, no seio de uma família aristocrática. Passou a infância entre o Japão e os EUA e, como tal, cresceu a falar japonês e inglês. Recebeu formação em música clássica, por influência do pai, e, em 1952, tornou-se na primeira mulher a ser admitida num curso de Filosofia, na Universidade Gakushuin, Tóquio. Embora só tenha frequentado dois semestres, foi introduzida ao existencialismo e marxismo, tendo, igualmente, contactado com as ideias pacifistas que se propagavam nos círculos intelectuais do Japão do pós-guerra.

Nos primeiros anos passados em Nova Iorque (1955-1960) tornou-se numa das protagonistas da cena vanguardista norte-americana, associando-se ao músico John Cage, ao fundador do movimento Fluxus George Maciunas e ao realizador Jonas Mekas. Neste período começou a afirmar o seu papel na arte conceptual. Seria depois responsável pela viragem de John Lennon, seu marido, para a música mais experimental. Em 1971, Lennon referia-se a Yoko como uma "das mais famosas artistas desconhecidas no mundo", na ocasião da sua primeira exposição no Museu de Arte Everson, em Siracusa, Nova Iorque.

A arte de Yoko Ono, ainda hoje a viver em Nova Iorque, baseia-se em "ideias e instruções textuais para acções utópicas e performativas". Num dos seus primeiros trabalhos, em 1966, a exposição Pinturas e Desenhos na Galeria AG, de George Maciunas, em Nova Iorque, os quadros eram acompanhados de instruções para o público. Quando se referiu a esta exposição no livro Yoko Ono: Instruction Paintings (1995), a artista explicou que a intenção não era apenas "mostrar quadros com instruções agarradas a eles". Ambicionava "mostrar as instruções enquanto quadros", conduzindo as artes visuais ao seu máximo conceptualismo.

George Maciunas, proprietário da galeria AG e fundador do movimento Fluxus, conhecera Ono nas Chambers Loft Series, eventos nocturnos no loft da artista, em Nova Iorque, com música experimental e performances. Marcel Duchamp, Max Ernst, Peggy Guggenheim e Maciunas eram convidados.

Nos anos seguintes, Yoko teve vários trabalhos representados em eventos Fluxus, embora não se considerasse membro oficial do movimento. Numa das suas performances mais marcantes, Cut Piece (1964-1965), a audiência era convidada a cortar as suas roupas com tesouras. Numa entrevista a Miranda Sawyer, para o programa The Culture Show, da BBC, Yoko explicou que "queria mostrar a forma como as mulheres são tratadas e a forma como podem sobreviver a isso permitindo que as pessoas lhes façam aquilo que querem fazer". Outra instalação, Half-a-Room (1967), era criada a partir de mobília cortada ao meio e pintada de branco, de modo a "criar um conjunto poético", lê-se no comunicado do museu. Em muitos outros objectos, "o acto real ou meramente imaginado do observador finaliza o trabalho do artista e estimula a reflexão sobre os papéis da arte, do artista e da obra de arte".

Yoko Ono. Half-A-Wind Show – título que se refere a uma exposição de Ono na Galeria Lisson, em Londres, em 1967 – apresenta ainda instalações dos anos 1990 aos nossos dias. Para Water Event, Ono pediu a outros artistas que oferecessem contentores, que ela preenche com água, real ou imaginária. Um dos acontecimentos paralelos à exposição, a performance Sky Piece to Jesus Christ (2013) – o título refere-se a John Cage, chamado de JC ou Jesus Cristo pelos amigos –, fez com que os membros de uma orquestra de câmara fossen envolvidos em ligaduras pela artista e outros performers.  Na rotunda interior do museu está Morning Beams (1996/1997): cordas suspensas, como raios de sol. E pela cidade alemã podem ser encontrados cartazes de grandes dimensões nos quais se lêem as palavras SONHA, TOCA ou SENTE.

Dos filmes de Ono, destacam-se Rape (1969), em que a câmara se transforma num perseguidor, ou Fly (1970), que mostra um plano próximo de uma mosca percorrendo o corpo nu de uma mulher. A "artista concentra-se em acções minimalistas que procuram ter um efeito poético, mediante o uso frugal dos recursos cinemáticos, e promovem o entendimento em contextos mais amplos", diz o comunicado.

Alguns dos seus projectos musicais – a música experimental, as sessões com John Lennon e o hit Walking on Thin Ice, as gravações da Yoko Ono/Plastic Ono Band – são dados a ouvir e a ver numa sala do museu. 
 

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