Escolher um Papa em mais de dois anos ou em dez horas

Ao longo de séculos o processo de escolha de um Papa chegou a durar semanas, meses e anos. Apenas numa ocasião não chegou a 24 horas.

Foto
No espaço de uma semana é esperado que o novo Papa seja anunciado do balcão da basílica de São Pedro FILIPPO MONTEFORTE/AFP

Aquele que será o segundo conclave do século XXI, depois da morte de João Paulo II e da renúncia de Bento XVI, começa nesta terça-feira e não deverá demorar mais do que uma semana, um autêntico recorde quando recuamos oito séculos, mais precisamente ao ano 1268, data da morte de Clemente IV. Foram necessários dois anos e nove meses para que o seu sucessor fosse anunciado, ficando para a história como o conclave mais longo.

Escolher um novo Papa foi em tempos um processo demorado. Demasiado demorado e carregado de impaciência por parte dos fiéis católicos. Com uma Igreja sem direcção, a solução encontrada para acelerar o processo eleitoral foi colocar sob isolamento, à porta fechada, sem influências externas e pressões, os cardeais que iriam tomar a importante decisão. Foi desta forma que se elegeu o Papa Celestino IV, em 1241, e que decorreu o conclave que se seguiu à morte de Clemente IV, 29 anos depois. Mas seria neste conclave que os cardeais acabaram submetidos a uma prova de força e resistência.

Em Viterbo, cidade no centro de Itália que serviu de morada aos papas, os prelados foram convocados para escolher o sucessor de Clemente IV. Perante a indecisão dos cardeais e passado quase um ano sobre a morte do Papa, a população tomou uma decisão extremada, como é referido no livro Lux in arcana, disponível nos arquivos secretos do Vaticano. No Outono de 1269, a população de Viterbo fechou os cardeais no palácio pontifical e em Junho de 1270, ainda sem o anúncio do novo Papa, o telhado do palácio foi retirado para os expôr a condições meteorológicas extremas. Só em Setembro de 1271, cerca de dois anos e nove meses depois, um grupo reduzido a seis cardeais apresentou Gregório X como o novo Santo Padre.

Durante o pontificado de Gregório X ficou decidido que se ao fim de cinco dias de conclave não fosse anunciado um Papa, os cardeais seriam privados de comida e limitados a pão seco e água. Esta regra foi depois suprimida com a chegada de João XXI, o Papa português, ao mais alto cargo da Igreja Católica.

Houve outros conclaves que se estenderam por várias semanas e meses, situação atribuída às questões políticas e histórias que se viviam na altura em que decorreram. Se, por exemplo, no século XVII as eleições demoravam uma média de 40 dias, um século depois podia chegar a mais de três meses ou ao dobro, como aconteceu com a escolha de Bento XIV, cujo nome foi anunciado 181 dias depois do início do conclave.

Estes podem ser recordados como os processos eleitorais mais longos, mas houve um conclave cujo tempo de duração continua por bater. Em 1503, Júlio II foi eleito em apenas 10 horas.

Há outras curiosidades sobre o que se passa dentro de quatro paredes durante um conclave e que só são reveladas anos mais tarde. A escolha de um novo Papa é uma processo stressante e pode deixar os cardeais abatidos perante o arrastar de uma eleição sem aparente fim à vista. Terá sido isso que aconteceu quando em 1878, durante o conclave que elegeu Papa Leão XIII, o cardeal camerlengo pediu uma garrafa de conhaque como uma espécie de medicamento calmante. Este “remédio” terá sido utilizado por João XXIII, na véspera da sua eleição, em 1958.

Pontificados de semanas e de décadas
Ao ser escolhido um Papa espera-se que o seu pontificado seja longo. Mas nem sempre foi assim. Alguns dos papas estiveram em funções durante poucas semanas. Foi o caso de Urbano VII, eleito em 1590, e que foi o Papa com o pontificado mais curto, apenas 12 dias. Seguiu-se Celestino IV (1241), 16 dias, ou Sisinnius (708) e Teodoro II (897), ambos com um pontificado de 20 dias. Houve papas que só o foram durante meses, como o único Papa português, João XXI, que durante oito meses esteve à frente da Igreja Católica, entre Setembro de 1276 e Maio de 1277.

Por outro lado, há papas que ficaram do topo da hierarquia da Igreja durante décadas. São Pedro, o discípulo de Jesus Cristo a quem são atribuídas funções semelhantes ao de um Papa, terá tido um pontificado de 37 anos, mais que Pio IX, a quem são atribuídos 32 anos, e que João Paulo II, antecessor de Bento XVI, que esteve à frente dos comandos da Igreja mais de 26 anos.

Sugerir correcção
Comentar