Mulheres

Hoje, e muito especialmente, dou uma homenagem sentida, com toda a dignidade de que sou capaz, às mulheres, a todas as mulheres.

 

Não às que se travestem de arremedo de Marylin Monroe, às presidentes de República, às ministras, às banqueiras, às do FMI, às estrelas da TV e quejandas. Essas têm, quotidianamente, a homenagem dos valores que defendem e as acarinham: a corrupção política e o dinheiro.

Não às “feministas” que nunca compreenderam, nem compreenderão, que a igualdade de sexos não se conquista ”contra o homem”, antes na perfilhação do postulado de que ambos os sexos são, pela natureza, diferentes, mas iguais, e nunca pela exigência absurda de “cotas” nos cargos do Estado, ou nas empresas.

Antes às mulheres trabalhadoras que suportaram, suportam e suportarão tudo. A humilhação, a dor e o sofrimento que este dinheiro e capitalismo desalmado lhes distribui sem dó e sem solidariedade. Às que brotam lágrimas profundas de dor, que as televisões denunciam, no momento em que, após fins-de-semanas ou férias, aportam às fábricas cobardemente encerradas e nos dizem: "Como vou alimentar agora os meus filhos?" Cá, na África, na Ásia e nos Estados Unidos. E a quem remuneravam com 50% dos salários atribuídos aos colegas de trabalho

Sim às escritoras, às jornalistas, às artistas sem subsídios e a todas aquelas que, com o seu trabalho sério, lutaram e lutam pela liberdade e pela cultura dos povos.

Às advogadas, sobremaneira as jovens de quem este Estado e Governo, que nos desgoverna, obriga a trabalhar e não as remunera nem justa, nem a tempo, nem devidamente e, ainda por cima, na defesa da liberdade, garantias e direitos dos cidadãos, se sujeitam aos abusos, indelicadezas e má criação do poder de juízes e agentes do Ministério Público, que são poucos, se crê, e que, despidos de cultura humanista e constitucional, não ultrapassam o limiar de qualquer amanuense.

Também às professora, aos milhares que são, que um desgoverno incompetente e arrogante lançou e despejou na valeta do desemprego e para a esmola temporária do subsídio de sobrevivência, sem um mínimo de consciência social e sem fundamentos científicos, técnicos ou até mesmo só estatísticos. 

Às magistradas, procuradoras ou juízas que, não cabendo nas ditas acima, em condições deficientes e pesadas, nos prestam justiça.

A todas, mesmo todas, as mulheres que, por todo esse mundinho fora, são despejadas do corpo, e até, por inevitável consequência, da alma, com aquilo a que o fariseísmo e hipocrisia sem nome tiveram o desplante, a afronta à Humanidade, de chamar “a mais antiga profissão do mundo”. Mundinho minúsculo e imundo que foi capaz de lhes imprimir despudoradamente na testa,  “la croix des vaches”. Que mundo!!!

A todas essas, com as excepções enunciadas, dou a minha ternura (vale nada ou pouco, mas dou!).

Permitam-me – as mulheres com a imensidão da sua natural generosidade, permitem –  duas excepções mais acentuadas, apenas, e só, pela sua proximidade no tempo:

A Cândida Almeida, magistrada afastada do cargo de modo impudor, pois o foi sem respeito e sem elevação ética, pelos 40 anos que doou ao Ministério Público e pela sua competência mais que demonstrada, ao longo de dezenas de anos. Exigia-se dignidade e mesmo afecto próprios de um Estado Democrático, pela primeira mulher a ser magistrada neste país de líderes medíocres.

Por coincidência – ou destino? – hoje, Dia da Mulher, sai a porta do cargo onde serviu esse Estado ingrato para quem o serve lealmente e competência. É assim o Estado que temos!!!

E a todas as “Cândidas” que o abuso e obscenidade do poder pretende humilhar, mas de que a História vai demonstrar, a breve tempo, a mesma obscenidade.

A Joana Marques Vidal, procuradora-geral da República que, com a sua alta estatura ética e cultural, tem sabido dirigir o Ministério Público com independência do poder político, regendo-se pelos princípios constitucionais que lhe são caros, e tendo-se sempre distanciado das pressões sindicais e políticas que, implícita ou expressamente,  pretendem interferir e deturpar a acção da mais alta magistrada do Ministério Público.

A todas elas que, ainda e além disso, adicionam ao seu trabalho árduo e à dor e argura dos despedimentos sem alma, as “profissões “ de mães e de donas de casa.

A minha ternura e solidariedade.

O autor é procurador-geral adjunto 
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