Manuel Pizarro e Luís Filipe Menezes "unidos" nas críticas ao ministro da Saúde

Paulo Macedo criticou "falta de planeamento" na construção do Centro Materno-Infantil e do Centro de Reabilitação do Norte. Pizarro acusa-o de leviandade e Menezes recusa esta "visão distorcida" do Norte.

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O Centro de Reabilitação do Norte está pronto e há fundos europeus para o equipar, recorda Luís Filipe Menezes Adriano Miranda

Caíram mal as críticas do ministro da Saúde sobre uma alegada “falta de planeamento” e descoordenação que estiveram na base da construção do Centro Materno-Infantil do Norte (CMIN) e do Centro de Reabilitação do Norte (CRN). Ao considerar aqueles dois equipamentos como exemplos de desperdício de recursos públicos, Paulo Macedo conseguiu unir o socialista e ex-secretário de Estado Manuel Pizarro e o presidente da Câmara de Gaia, o social-democrata Luís Filipe Menezes nas críticas a esta postura do Governo.

Em declarações ao PÚBLICO, Pizarro considerou que o ministro foi “leviano”, ao pôr em causa o “rigor técnico e científico” e o “cuidadoso” trabalho de quem planeou os dois projectos, e voltou a insistir na necessidade das duas unidades, no contexto da região Norte. Menezes, que convocou a imprensa a meio da tarde para reagir às declarações feitas quarta-feira por Paulo Macedo, foi mais longe, e afirmou que este contribuiu, “mais uma vez” para dar do Norte uma visão “persistentemente distorcida e quase persecutória”.

Num tom mais suave, o autarca, ainda disse que “o senhor ministro, talvez por má informação, não foi exacto”. Mas avisou que nada fazer para pôr a funcionar uma unidade como o CRN, já pronto, “a degradar-se”, e para cujo equipamento há fundos comunitários, vincou,  “é um péssimo acto de gestão”. Que gera "incompreensão", assinalou Menezes, quando o ministério, “embora com pezinhos de lã, já pré-anunciou a intenção de avançar, em parceria público-privada, com mais um gigantesco hospital na zona oriental de Lisboa. Tal opção seria um grave erro de gestão e uma afronta ao país real”, avisou, explicando que, na sua perspectiva aquela área da Grande Lisboa está bem servida em termos hospitalares.

Tal como há um ano, Menezes oferece ajuda ao Governo, e voltou a insistir na existência de soluções, que podem passar com parcerias com privados, para a abertura do CRN. Da mesma forma, aliás, que o responsável pelo programa funcional deste equipamento, a instalar no antigo sanatório de Valadares. Para Pedro Cantista, “o financiamento destas unidades aliado a uma possível oferta do mercado internacional de saúde deste centro (após salvaguarda da missão pública do seu papel no SNS) pode viabilizar o seu projecto”.

Este médico garante que este equipamento “tem bases científicas que justificam a sua abertura, salvaguardando que estejam as condições de sustentabilidade económica”. E quer Menezes, quer Pizarro, recordam que o país está equipado com um centro de reabilitação no Algarve, em Lisboa (Alcoitão) e na região Centro (Tocha). “Ao que parece, para o senhor ministro só os doentes do Norte é que estão a mais”, acusou o ex-secretário da Saúde.

Menezes, que há um ano parecia convergir com o ministro, quando propôs algo semelhante ao que Pedro Cantista preconiza para o CRN, cansou-se, pelo facto de passado este tempo, o discurso da tutela não contemplar soluções. Dando assim, nota, mais uma razão para que a população e os agentes políticos e profissionais do Norte se sintam “diminuídos e injustiçados”.

Elogiando o trabalho de Paulo Macedo, globalmente, o ex-presidente do PSD alertou que “há limites que não podem ser ultrapassados. E o senhor ministro não pode, por má informação, mau aconselhamento ou atitude discriminatória de alguns em relação ao Norte, manchar tudo o que de positivo se tem conseguido", avisa, voltando a criticar as declarações de Paulo Macedo.

Sobre o CMIN, Menezes considerou “caricato” nem se pensar no inferno que seria a mobilidade na envolvente à Maternidade Júlio Dinis, no Porto, se, como o ministro sugeriu, se abrisse o equipamento sem o parque de estacionamento, para poupar o dinheiro desta parte da obra, como admitiu o ministro.

Hospital Maria Pia já foi encerrado

E Manuel Pizarro contestou as críticas à dimensão deste projecto, sublinhando que desde que Paulo Macedo chegou ao Governo o único hospital que foi, efectivamente, encerrado, foi o Maria Pia, no Porto. “E isso só é possível no contexto da construção do CMIN, que vai agrupar as valências de saúde materno-infantil do antigo Hospital Maria Pia, da Maternidade Júlio Dinis e do Hospital de Santo António”.

Em declarações ao PÚBLICO, Pizarro rebate as afirmações de Macedo sobre a área de construção do CMIN, vincando que “as exigências dos nossos dias são também maiores, nomeadamente em matéria de conforto. Na maternidade ainda há enfermarias de seis camas sem casas de banho privativas. Julgo que o senhor ministro quando era administrador da Medis não contratava serviços com hospitais que não tivessem quartos individuais ou pelo menos quartos duplos com casa de banho privada”.

Manuel Pizarro  afirmou não aceitar “que haja um padrão de conforto para os que o podem pagar e que se desprezem aqueles que recorrem ao SNS. Bem sei que com o Centro Materno-Infantil o SNS ficará em condições de concorrer também do ponto vista do conforto hoteleiro com os hospitais privados, mas a minha causa é defender o serviço público, porque só a esse podem aceder todas as pessoas, independentemente da suas condições económicas, argumentou o ex-secretário de Estado que, tal como Menezes, é candidato à Câmara do Porto.

 

 
 
 
 
 
 

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