Bem-vindo, maldito eucalipto

A diferença entre um pinhal e um eucaliptal, igualmente bem ou mal geridos, é muito mais pequena que a diferença entre um pinhal ou eucaliptal bem gerido e um pinhal ou eucaliptal mal gerido.

Há mais de cem anos o eucalipto chegou a Portugal como árvore ornamental. Em 1957, em Cacia, pela primeira vez no mundo, o eucalipto foi usado com sucesso para fazer pasta de papel.

Por volta dos anos 80 do século XX, a indústria de celulose, em rápido crescimento, e a administração florestal, em rápida transformação, viram no abandono agrícola uma oportunidade de expansão para a cultura desta espécie.

Esta visão compreende-se: tratava-se de criar riqueza em Portugal para alimentar uma indústria exportadora numa altura de crise económica do país.

A rápida expansão do eucalipto encontra pela frente a forte oposição de um movimento ambientalista em afirmação crescente. A guerra contra a eucaliptização está, desde essa altura, nos genes do movimento ambientalista português.

A pinheirização do país fez-se muito mais lentamente do que a eucaliptização, durante quase cem anos. Fez-se num mundo rural onde subsistia uma economia que dava emprego à maioria das pessoas e fez-se com as pessoas, e não pela mão de poderosas indústrias exportadoras.

Tirando as serras – em que a falta de alternativa punha frente a frente comunidades pastoris que ou resistiam, ou morriam de fome, e um Estado repressivo – no resto do país, em especial nas zonas de economia do milho, a pinheirização fez-se sem conflitos de maior.

Do ponto de vista ambiental, a diferença entre um pinhal e um eucaliptal, igualmente bem ou mal geridos, é muito mais pequena que a diferença entre um pinhal ou eucaliptal bem gerido e um pinhal ou eucaliptal mal gerido.

As duas celuloses que subsistem em Portugal gerem 150 mil dos cerca de 750 mil hectares de eucalipto, sendo que grande parte dos 600 mil hectares geridos por proprietários como eu são miseravelmente geridos, não servindo nem à produção, nem à conservação.

A pressão ambientalista e da certificação obrigou as celuloses a aprenderem rapidamente e, dos anos 80 do século XX até hoje, as celuloses deixaram de fazer muitas das asneiras que fizeram nessa época, concentrando neste momento a melhor gestão florestal do país.

Infelizmente o movimento ambientalista estagnou e continua a olhar para a produção de eucalipto como uma maldição para o país. Ainda não se aprendeu que a expansão do eucalipto se faz porque a produção é competitiva, ao contrário da maioria das outras produções florestais (com excepção do montado de sobro, admitindo que montado é floresta). E pela tenaz perseguição, activa ou por omissão, que o Estado faz à pastorícia.

Assim vai o país perdendo oportunidades para criar riqueza e biodiversidade, afundado em discussões estéreis sobre os fantasmas associados à pretensa conflitualidade entre produção de eucalipto e defesa musculada da conservação do nosso património natural.

Declaração de interesses: entre as muitas coisas que faço, algumas são trabalho pago por uma das celuloses, tendo representado cerca de 5% dos meus rendimentos no ano passado.

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