Comboios retomam circulação após três horas de bloqueio por ferroviários

Funcionários da CP na reforma cortaram Linha do Norte e ocuparam comboios em protesto contra retirada de direitos pela empresa.

Foto
A Linha do Norte esteve interrompida três horas devido ao protesto dos funcionários Manuel Roberto

A circulação de comboios na Linha do Norte foi retomada nesta quinta-feira depois das 20h00, quando o último dos grupos de trabalhadores ferroviários que participaram no protesto nacional abandonou a estação do Entroncamento.

O restabelecimento da circulação foi confirmado ao PÚBLICO pelo coordenador da Federação dos Sindicatos dos Transportes e Comunicações (Fectrans), José Manuel Oliveira.

Durante a tarde, a circulação esteve também cortada, embora por períodos mais curtos, no Porto, em Coimbra e no Barreiro, onde os manifestantes chegaram a ocupar comboios em protesto contra a retirada de direitos pela empresa.

Grupos de trabalhadores ferroviários bloquearam nesta quinta-feira a circulação no principal eixo ferroviário do país e cerca de 200 manifestaram-se frente à administração da CP em Lisboa.

As concentrações de trabalhadores no activo, reformados e familiares estavam marcadas para as 17h em vários pontos do país, no âmbito de uma acção de protesto que a Fectrans designou por acção de “resistência e luto da família ferroviária”. Os trabalhadores contestam a suspensão, pela empresa, de concessões atribuídas aos ferroviários e aos seus familiares, que lhes permitiam viajar gratuitamente de comboio ou com descontos de 75%.

Ao todo, durante a tarde desta quinta-feira, quatro comboios regionais foram impedidos de circular ou viram retardada a sua circulação, a par de um comboio Intercidades que fazia a ligação Lisboa-Guimarães e um Alfa Pendular que fazia o percurso Lisboa-Porto. Em Coimbra, segundo a agência Lusa, foi detido um dirigente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Sector Ferroviário, alegadamente por ter recusado identificar-se a um agente da PSP à civil. Os representantes dos trabalhadores estimam que os manifestantes terão chegado aos dois milhares em todo o país.

“Não estava previsto impedir a circulação de comboios, mas entende-se: as pessoas estão muito revoltadas”, disse o dirigente da Fectrans quando contactado pelo PÚBLICO.

Sem direito a "borlas"

Depois de numa primeira fase ter suspendido as concessões atribuídas aos ferroviários, a CP recuou e ofereceu entretanto um “desconto comercial” de 50% aos seus antigos funcionários na compra de bilhetes em todos os tipos de comboios e na aquisição de assinaturas (vulgo passes).

Os sindicatos, porém, argumentam que as concessões são parte integrante do acordo de trabalho entre os funcionários e a empresa e que, ao longo dos anos, esses benefícios foram atribuídos como “moeda de troca” pelo não aumento dos salários. 

Citado pela agência Lusa, no último fim-de-semana, Luís Bravo, do Sindicato Ferroviário da Revisão Comercial Itinerante, afirmou que a medida representa “um problema social enorme” para muitas famílias em situação financeira precária e que organizaram a sua vida tendo em conta a gratuitidade das deslocações.

O PÚBLICO tentou hoje por diversas vezes obter reacções da CP, mas a porta-voz da empresa esteve sempre incontactável.

Sugerir correcção
Comentar