Telhados vivos

Em Lisboa, edifícios com coberturas de vegetação estão pouco disseminados, mas existem nalguns locais emblemáticos.

Na Avenida do Padre Cruz, em direcção ao Campo Grande, em Lisboa, sobressai um prédio coberto de verde, como se tivesse um jardim suspenso.

A imagem é tão diferente que nos obriga a chegar perto para perceber se é cobertura viva ou pintura. Qual terá sido a ideia dos arquitectos para cobrir integralmente um prédio com vegetação? Como conseguirão manter tal estrutura? Terá sido pelo aspecto paisagístico? Será sustentável?

Em Lisboa, estas coberturas de edifícios estão pouco disseminadas, mas existem nalguns locais emblemáticos, como os jardins da Gulbenkian ou mesmo o Jardim das Oliveiras, no Centro Cultural de Belém. Usufruem-se, exige-se cuidado, limpeza, mas não se sabe o que custam ou como se mantêm.

O elevado investimento necessário para a implementação de coberturas ajardinadas é um dos principais argumentos contra esta solução paisagista. Pelo contrário, os benefícios ambientais e estruturais são sempre esquecidos e nunca contabilizados. Do ponto de vista global para o ecossistema urbano, a presença de telhados verdes aumenta o sequestro de carbono, facilita a circulação atmosférica e, consequentemente, dispersa o calor acumulado das cidades.

Absorve a poluição atmosférica, filtrando o ar e permitindo reduzir as doenças alérgicas respiratórias. Aumenta a retenção da água das chuvas, impedindo as escorrências fortes e os riscos de inundação. Contribui ainda para a diversificação de nichos ecológicos, devolve a natureza à cidade, aumentando a diversidade vegetal e animal.

Para os edifícios, tem papel relevante, porque permite um isolamento acústico, reduz as oscilações de temperatura, prolongando a vida útil da estrutura e, consequentemente, os gastos de manutenção. Este tipo de coberturas faz com que os edifícios fiquem menos sujeitos às agressões atmosféricas, criem um sistema de impermeabilização e, como atenuam os extremos de temperatura, permitem a redução significativa do consumo energético.

O edifício junto à Avenida do Padre Cruz, em Lisboa, sede da empresa MSF (Moniz da Maia, Serra e Fortunato, Empreiteiros, SA), é uma estrutura modelar e modular. Isto é, serve de modelo para evidenciar que é possível, em plena cidade de Lisboa, construir-se um edifício cujas paredes e telhado estão cobertos de vegetação. É modular porque se trata de peças de puzzle que se ajustam e se podem substituir de acordo com a necessidade de renovação.

A Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL) pretende desenvolver um estudo-piloto experimental, instalando uma cobertura extensiva de 150 metros quadrados. Este primeiro projecto pretende ser emblemático. Por um lado, mostra que a FCUL está disposta a contribuir para a maior sustentabilidade. Por outro, possibilita o desenvolvimento de projectos de investigação em parceria com a empresa NeoTurf. Desenvolver e testar novos substratos, experimentar novas plantas e monitorizar a relação entre substrato e eficiência térmica no interior dos edifícios são alguns dos desafios propostos.

O tipo e a espessura dos substratos usados são fundamentais. Isto porque a limitação funcional de adaptação de um edifício à implantação de um telhado vivo é a sustentação. Usam-se, preferencialmente, materiais leves e reciclados. Novos substratos podem ser “redescobertos” na natureza, como as crostas onde, por exemplo, líquenes e briófitos podem crescer. O desafio é conseguir oferecer um tipo de vegetação que necessite entre três a cinco centímetros, o que constitui um ganho de investimento para o mesmo benefício ambiental.

As espécies vegetais mais usadas estão dependentes de rega para criar uma cobertura verde permanente. Exigem elevada manutenção e investimento. Mas podem ser substituídas por plantas mediterrânicas, que oferecem elevada economia de água, contribuindo para a maior diversidade de espécies e de habitats. Há toda a necessidade de educar, de explicar às pessoas que, no Verão, como nos campos, não é a cor verde que impera, mas antes um mosaico de verdes e de castanhos. É uma perspectiva sustentável de ecologia urbana.

Portugal carece de normas legais para este tipo de coberturas e não possui uma política ambiental urbana que incentive promotores e diversifique o mercado. Este é um trabalho que requer uma equipa multidisciplinar, como a que se pretende desenvolver e que pode culminar na criação de um documento normativo de referência.

Portugal necessita de diversificar o mercado e inovar a oferta sem reproduzir o que se faz lá fora. A capacidade de produzir ciência, tecnologia e inovação é um elemento central da universidade. A sua ligação a empresas e a transmissão de conhecimentos adquiridos em prol da sociedade são os novos paradigmas assumidos, com vista a aumentar o nível de conhecimento dos profissionais da área.

Maria Amélia Martins-Loução é professora catedrática da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
 

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